Têxtil e calçado e capital de risco, que saídas?
Setor do têxtil vê no capital de risco um "parceiro de negócio", o calçado concorda e considera que "o facto de uma empresa ter um parceiro de capital de risco credibiliza-a".
Pela primeira vez o têxtil e o calçado encontraram-se com um private equity para discutir os temas das indústrias. Temas como o capital, a marca, a inovação e, claro, o financiamento foram discutidos neste encontro que juntou gestores como o presidente da Anivec, César Araújo, Luís Guimarães, da Polopique, e Manuel Carlos, presidente executivo da Appicaps, com os partners da fundo Vallis, como Eduardo Rocha e Luís Graça.
O presidente da Anivec vê “no capital de risco um parceiro de negócio” e considera que “o capital de risco pode ter um papel decisivo na criação de instrumentos financeiros que permitam que as nossas empresas ganhem músculo e capacidade para intervir no exterior”, refere César Araújo. O setor do calçado concorda e defende que “o facto de uma empresa ter um parceiro de capital de risco credibiliza-a”, porque “tem um projeto ambicioso, a longo prazo”, destaca, Manuel Carlos, presidente executivo da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (Apiccaps).
E do lado dos fundos, que oportunidades vêm na indústria? “Os gestores é que sabem como devem gerir a empresa, dentro do modelo de governo acordado e obedecendo a objectivos estratégicos. Nós somos actuantes mas enquanto gestores não executivo”, assegura Eduardo Rocha, founder e partner CEO da Vallis. E acrescenta: “Nós só investimos nas empresas que são bem geridas”
Que fundo é este? O primeiro fundo, que data de 2010, arrancou com 75 milhões de euros, e os primeiros investimentos surgiram no final de 2012, e tem presença em diversos sectores. O fundo Vallis está já a investir o segundo fundo, com uma capitalização alvo de 150 milhões, dos quais já estão assegurados 125 milhões. Já fizeram dois investimentos, um dos quais numa empresa de transplantes capilares líder em Portugal com enorme capacidade de expansão internacional e um operador de logística de temperatura controlada, uma multinacional que está a sair do país.
“O que os difere da banca? “Nós somos um verdadeiro sócio. Quando corre bem, corre bem para todos. Quando corre mal, corre mal para todos. E nós estamos para juntamente com o nosso sócio continuar o caminho – somos um verdadeiro parceiro de capital”, afirma Luís Graça, outro partner do fundo.
Será a parceria entre o private equity e os empresários a chave para o sucesso?
Para César Araújo, Portugal não tem “uma cultura de capital de risco”. “O mundo mudou, os obstáculos cada vez são maiores. A nossa concorrência dos países emergentes é enorme. Os nossos parceiros desses países estão tão bem preparados e alguns até melhor do que nós, vêm com musculo financeiro capaz de responder a todas as iniciativas, colocando-nos muitas das vezes em situações de dificuldades e a ter de baixar os preços, porque eles são financiados por governos locais”, evidencia na conferência “os desafios do setor: crescimento, internacionalização, sucessão. O papel do private equity”.
Precisamos de investir no exterior. E não há incentivos para investir no exterior. Os incentivos que temos em Portugal nunca financiam nenhum projeto de uma empresa portuguesa no estrangeiro. Só é possível fazer um projeto no estrangeiro com capital de risco.
O presidente da Anivec apela que é preciso capital para procurar as oportunidades no mercado de consumo. “Nós precisamos de recursos financeiros para poder fazer frente neste desafio global. E por outro lado competência de gestão e sucessão, sendo as nossas empresas quase todas de cariz familiar. Para estes desafios, o financiamento e a capitalização são fundamentais”.
Para o presidente executivo da Apiccaps, Manuel Carlos, é preciso investir no exterior, mas “não há incentivos para investir no exterior. Os incentivos que temos em Portugal nunca financiam nenhum projeto de uma empresa portuguesa no estrangeiro. Só é possível fazer um projeto no estrangeiro com capital de risco”. Acrescenta ainda que Portugal “tem um problema de dimensão e de sucessão das nossas empresas, o que gera alguma desconfiança relativamente à entrada de um parceiro [de capital de risco]”
É importante nós partilharmos, nós colaborarmos e criarmos sinergias entre nós, porque quanto mais pudermos evoluir na cadeia, mais beneficiamos.
“O que nós podemos fazer é pedagogia”. Em média as empresas no setor do calçado apresentam bons resultados, assegura Manuel Carlos, mas, acrescenta, subsistem nelas a questão da sucessão familiar e de que não precisam de ajuda e de sócios. “Na maior parte das vezes estas afirmações são feitas porque não há um projeto, isto é, para se convidar um parceiro de capital de risco a ser nosso sócio, nós precisamos de lhe dizer o que queremos”. “O facto de uma empresa ter um parceiro de capital de risco credibiliza-a”, porque “tem um projeto ambicioso, a longo prazo”.
“No tema da sucessão, cada caso é um caso e a chave é preparar bem a sucessão, de forma generalizada”, acrescenta o founder e CEO da Vallis.
A professora e antiga secretária de estado da indústria, Ana Teresa Lehmann, também presente neste encontro, destaca a necessidade de integrar tecnologias digitais em todas as áreas do negócio, defendendo que estas “mudam completamente o modus operandi e as formas em que o valor é criado”. Todavia para estar a par desta transformação tecnológica é necessário capital para investir. Ana Teresa Lehmann corrobora a ideia de César Araújo e destaca que para aderir à “inteligência artificial, loT, impressão 3D, cibersegurança, blockchain e fintech são necessários investimentos sérios – financeiros e de recursos humanos”, refere.
Futuro, o que se coloca a estes dois setores?
O mundo está perante uma revolução tecnológica e os setores têm que adaptar-se. Para a secretária de estado da indústria, os três grandes desafios da moda estão “profundamente interligados” e passam por mudanças ao nível do consumidor, digitalização e sustentabilidade. “Eu acredito muito no potencial da inteligencia artificail, também por causa dos padrões de consumo, da manutenção industrial, etc. A digitalização traz muitas oportunidades aumentar a produtividade, de criar valor e de colocar os trabalhadores noutros patamares de melhor qualidade de trabalho. Mas isto exige um investimento em formação incrível, que devia ser prioridade para o país mas de uma forma muito prática”, destaca Ana Teresa Lehmann.
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