Coronavírus: Corrida desenfreada às máscaras em Portugal leva à rutura de stocks
A procura por máscaras aumentou exponencialmente, os stocks estão a ficar escassos e os preços já começaram a disparar.
O número de mortes na sequência da propagação do coronavírus pelo mundo não pára de aumentar, e a procura por máscaras de proteção respiratória segue a mesma tendência. Em Portugal ainda não existe nenhum caso confirmado (apesar de estarem vários casos suspeitos em avaliação), mas a corrida às máscaras também já é uma realidade e a procura aumentou exponencialmente nos últimos dois meses. Resultado: há farmácias com stocks completamente esgotados.
Em 2019, foram vendidas só no mês de janeiro cerca de 25 mil máscaras de proteção. Um ano depois, em janeiro de 2020, foram vendidas mais de 92 mil máscaras, ou seja, quase quatro vezes mais. “No período analisado a venda de máscaras cresceu 258%”, explica Maria Jorge Costa, do departamento marketing da Associação Nacional das Farmácias (ANF). Estes dados são referentes a 2900 farmácias e “há efetivamente uma procura maior de máscaras nas farmácias desde janeiro deste ano“, afirma.
Na farmácia da Quinta Grande, em Alfragide, na região da Grande Lisboa, as máscaras descartáveis estão esgotadas já desde meados de fevereiro, mas uma procura muito acima do normal na quarta-feira a seguir ao Carnaval obrigou mesmo a colocar cartazes à entrada e nos postos de atendimento com a mensagem “De momento, as máscaras descartáveis estão esgotadas”, tal foi a afluência de cliente em busca das tão desejadas máscaras.
A 3M, marca que fabrica e distribui dispositivos de proteção respiratória a nível nacional e internacional em mais de 90 países, também confirma a corrida às máscaras e refere que a “procura aumentou exponencialmente”.
Stocks estão a ficar cada vez mais reduzidos
Perante o consumo atípico, os stocks estão a ficar muito reduzidos, ou até nulos. “Já vendemos 180 mil máscaras e só não vendemos mais porque não há máscaras para serem vendidas”, explica ao ECO o proprietário da 100% safe, Carlos Gomes. Em 2019 a empresa vendeu 50 mil máscaras no total dos 12 meses do ano. Este ano, em apenas dois meses, já triplicou esse número.
Na Sintimex a realidade é a mesma. Estão a tentar reforçar o stock, mas os fornecedores da empresa estão com dificuldades na capacidade de reposição e no cumprimento de datas. “Possuímos stocks reduzidos, pois a procura é muito elevada e os stocks que reservámos para os clientes habituais e com histórico na empresa também estão a ficar muito baixos, pois mesmo estes clientes estão a aumentar as suas compras, talvez para precaver futuras ruturas”, explica o diretor técnico Carlos Martins.
A dificuldade em obter máscaras é cada vez mais evidente a as farmácias já começam a sentir o frenesim. Mesmo recorrendo a importadores diretos, “já é quase impossível repor os stocks de máscaras descartáveis”, contam os farmacêuticos da Quinta Grande, em Alfragide.
“Há efetivamente uma procura maior de máscaras nas farmácias desde janeiro.
“As vendas estão a aumentar de dia para dia e há uma grande procura, cada vez maior (…) até porque existem pessoas que estão a entrar em desespero porque querem comprar máscaras a todo o custo para ganhar dinheiro“, afirma o proprietário da 100% safe, Carlos Gomes.
Para se precaver, a 3M já reforçou os seus stocks. “Desde o momento em que surgiu o surto do coronavírus, reforçámos a nossa produção em todas as fábricas, aumentámos a produção e estamos a contar dar resposta a todos os pedidos”, explica ao ECO, Patrícia Correia, diretora de marketing da 3M para Portugal, Espanha, França e Norte de África.
A farmácia da Quinta Grande adotou a mesma medida e reforçou os seus stocks no início de fevereiro, com a compra de um novo lote de 400 máscaras, que acabaram por esgotar no espaço de 15 dias, mesmo com uma restrição de venda de cinco unidades por pessoa. Isto porque alguns clientes chegaram a tentar comprar 50 máscaras de cada vez, sobretudo por motivos de viagens ao estrangeiro, em breve.
Perante a problemática o ECO entrou em contacto com a Associação de Distribuidores Farmacêuticos (Adifa) que avançou que “estão a sentir dificuldades de abastecimento e que estão a fazer todos os esforços para ter os stocks suficientes para abastecer as farmácias portuguesas”, refere fonte oficial da Adifa.
O Coronavírus já chegou a mais de 40 países e já matou mais de 2.800 pessoas e mais 82 mil pessoas infetadas. Há registo de vítimas mortais no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Filipinas, França, Taiwan, EUA, entre outros. Perante o cenário a população está inquieta e mesmo não existindo nenhum caso confirmado em território português já existe um sentimento de preocupação.
“As pessoas estão muito preocupadas, até porque há uns dias não estava tão perto de Portugal e agora já está em Itália”, alerta fonte oficial da ANF. “Mais um dia e esgota também o gel desinfetante“, antecipam os farmacêuticos da Quinta Grande, em Alfragide, que por estes dias não têm mãos a medir. Este produto está também já esgotado em muitos supermercados da capital.
Segundo dados da Associação Nacional das Farmácias, em janeiro do ano passado foram vendidas cerca de 68 mil embalagens de desinfetantes, número que cresceu para cerca de 84 mil embalagens em janeiro de 2020. Um crescimento de 23% em relação ao período homólogo.
“As farmácias continuam a trabalhar com os seus fornecedores de forma a dar resposta ao crescimento da procura por este tipo de produtos”, refere fonte oficial da ANF.
Perante a procura, preços disparam
As máscaras cirúrgicas começam a esgotar e o preço, em alguns dos casos, já está muito inflacionado. Na farmácia da Quinta Grande, em Alfragide, tamanha procura também fez disparar os preços, com as máscaras a serem vendidas por quatro vezes mais, num curto espaço de tempo.
Por norma, as máscaras cirúrgicas simples (que oferecem uma proteção mais limitada contra a propagação do coronavírus) são compradas e vendidas por esta farmácia a um valor que ronda os 10 a 12 cêntimos. Um valor que rapidamente escalou para 15 cêntimos a unidades e, nestes últimos dias, chegou mesmo aos 40 cêntimos por máscara, ou seja, quatro vezes mais do que o normal. Já as máscaras mais fortes (tipo “bico de pato”) e que garantem uma maior proteção face ao vírus custam cerca de 1,20 euros por unidade.
A mesma situação acontece na empresa 100% safe. O proprietário, Carlos Gomes, refere que neste momento “o preço das máscaras está mais caro cerca de 30 a 40%”.
Se a situação atual se mantiver durante muito tempo, é natural que as matérias-primas possam subir de valor e os fabricantes podem vir aumentar os valores de custo.
Contrariamente à farmácia da Quinta Grande e a 100% safe, a empresa 3M não aumentou o preço das máscaras. “A 3M não fez qualquer tipo de alteração relativamente ao preço de qualquer produto relacionado com o Coronavírus”, refere Patrícia Correia, diretora de marketing da 3M.
A Sintimex é outro dos exemplos que ainda não inflacionou o preço das máscaras, mas alerta que se a situação se mantiver por muito mais tempo é possível que esse aumento aconteça.
“Não estamos aumentar valores, exceto se as nossas representadas o tiverem feito, mas no geral, é algo que não tem ocorrido. Não prevemos aumento de custo nos artigos, mas se a situação atual se mantiver durante muito tempo, é natural que as matérias-primas possam subir de valor e os fabricantes podem vir aumentar os valores de custo”, alerta Carlos Martins, diretor técnico da Sintimex.
Portugal está dependente de fornecedores
As máscaras vendidas por cá não são made in Portugal, garantem os farmacêuticos da Quinta Grande, e por isso as farmácias nacionais estão totalmente dependentes dos seus fornecedores diretos, que acabam também por guardar grande parte dos stocks para abastecer hospitais e outras grandes unidades de saúde.
A 100% safe, empresa de Corroios, que distribui máscaras de proteção principalmente para o mercado nacional, confirma a informação e explica ao ECO que em Portugal não existem fábricas de produção, mas sim distribuidores, o que faz com que a dependência seja enorme. “Pelo que sei as fábricas de produção de máscaras na Europa estão a trabalhar 24 horas por dia para dar resposta”, refere o proprietário da 100% safe, Carlos Gomes.
A realidade é que muitos dos fabricantes de máscaras encontram-se precisamente na China o que complica ainda todo o processo. “Muitas marcas/fabricantes possuem as suas unidades de fabrico em território chinês, depois de retirarem os níveis de produção da Europa, ao longo dos anos, por questões de custo/produção/qualidade, o que torna a situação mais complexa, pois não sabemos na realidade se os artigos com maior procura no mercado (mascaras, fatos, óculos, batas, luvas, etc), estão retidos por “ordem superior” ou mesmo se as unidades de fabrico estão a laborar a 100%, explica ao ECO, o diretor técnico da Sintimex.
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