BE acusa Serralves de “descartar” trabalhadores. Fundação garante que cumpre todas as obrigações
O Bloco de Esquerda denunciou o despedimento de trabalhadores em Serralves, mas a Fundação garante que são prestadores de serviços externos e cumpre todas as suas obrigações.
O Bloco de Esquerda (BE) acusou esta segunda-feira a Fundação de Serralves de “descartar” trabalhadores a recibo verde e questionou o Governo sobre se ia interceder junto da administração daquela instituição.
Segundo a plataforma despedimentos.pt, criada pelo BE para denunciar abusos laborais, mais de 20 trabalhadores do Serviço Educativo Artes da Fundação de Serralves estão neste momento sem vencimento, depois de a administração ter recusado a realização de atividades à distância e ‘online’.
Os técnicos externos das exposições, por seu turno, também escreveram uma carta aberta a manifestar “grande empatia e solidariedade” para com os seus colegas, associando-se à sua “reivindicação e denúncia” e lembrando que se encontram em idêntica situação.
Em entrevista telefónica à Lusa, o deputado do BE José Soeiro classificou de “inaceitável” que a Fundação de Serralves tenha “descartado” os trabalhadores a recibo verde, colocando-os “sem rendimento” e “sem acesso a proteção social”.
Por isso, o partido enviou esta segunda-feira sete questões ao Ministério da Cultura sobre o tema, apelando para que “estas decisões sejam rapidamente revertidas” e para que se “encontrem os mecanismos de continuidade de rendimentos para aqueles trabalhadores”.
“Serralves o que fez foi descartar os trabalhadores a recibo verde, colocando-os numa situação em que deixam de ter atividade e em que estão na prática sem rendimento e sem acesso a proteção social […] e Serralves faz isso depois dos próprios trabalhadores terem proposto que as atividades programadas pudessem ser desenvolvidas no espaço online”, declarou.
O BE perguntou ao Governo sobre se estava “disponível para interceder de imediato junto da administração da Fundação de Serralves”, para a qual o Estado nomeia dois elementos (no caso, Isabel Pires de Lima e José Pacheco Pereira), para reverter a situação e para que se encontrem os “mecanismos de continuidade de rendimentos para aqueles trabalhadores”.
“Isto é tanto mais inaceitável quanto, por um lado, Serralves é uma fundação de direito privado, mas com financiamento do Orçamento do Estado, e o Ministério da Cultura decidiu e anunciou que as estruturas da tutela direta, nomeadamente os teatros nacionais, manteriam o pagamento integral de todos os compromissos que já estavam assumidos com os artistas, com os técnicos ou com os serviços educativos justamente para proteger um setor em que a maior parte das pessoas trabalha a recibo verde e que Serralves tem na sua comissão executiva uma pessoa que é representante do Estado [Isabel Pires de Lima] e que é nomeada diretamente pelo MC”, referiu o deputado.
No conjunto das questões enviadas ao Governo, o BE questiona também qual foi a “atitude” e a “posição defendida sobre a matéria pela administradora executiva Isabel Pires de Lima, nomeada pelo Estado”.
A Fundação de Serralves, no Porto, suspendeu a 12 de março passado a sua programação e encerrou ao público, até 3 de abril, devido à pandemia de Covid-19. A Lusa questionou Serralves sobre as denuncias do BE, mas não recebeu uma resposta em tempo útil.
Serralves diz “cumprir todas as obrigações” para com colaboradores
Ao ECO, a Fundação esclarece que os prestadores de serviços externos “não têm vínculo laboral com a Fundação de Serralves, colaborando com várias outras entidades e prestando os seus serviços de acordo com as solicitações e necessidades da Fundação e a sua própria disponibilidade”.
Quanto à possibilidade de teletrabalho, a Fundação aponta que estes “prestadores de serviços externos não podem prestar os seus serviços, designadamente visitas guiadas e oficinas dirigidas a escolas e famílias, por força da obrigatoriedade de encerramento a que Serralves se encontra atualmente obrigada”.
“O grupo de prestadores de serviços é composto por trabalhadores independentes ou empresas prestadoras de serviços, aos quais o Estado está a garantir medidas de apoio no contexto da crise em que vivemos”, acrescenta. A Fundação assegura ainda que “está a cumprir todas as suas obrigações para com os seus colaboradores”.
A pandemia da covid-19 surgiu na China em dezembro de 2019 e ultrapassou já um milhão de infetados e de 50.000 mortos em todo o mundo. Portugal regista esta segunda-feira 311 mortes associadas à covid-19 e 11.730 infetados, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde.
(Notícia atualizada às 17h25 com resposta da Fundação)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
BE acusa Serralves de “descartar” trabalhadores. Fundação garante que cumpre todas as obrigações
{{ noCommentsLabel }}