Apenas 3% das empresas já receberam dinheiro das linhas de crédito, diz a CIP
A CIP apresentou esta segunda-feira os resultados de um inquérito sobre as linhas de crédito às empresas. Em média, o processo das linhas de crédito está a demorar 28 dias úteis.
“Apenas 3% das empresas” que recorreram às linhas de crédito já receberam verbas, avança António Saraiva, presidente da CIP, que pede um “Simplex Covid” para “desburocratizar” estas linhas para que as empresas tenham um acesso mais fácil e ainda um reforço dos montantes atuais ou a criação de mais linhas.
Os dados foram divulgados esta segunda-feira pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) com base num inquérito feito a uma amostra de 1.582 empresas portuguesas sobre a utilização das linhas de financiamento bancário. Estas linhas foram disponibilizadas pelo Estado (com garantias públicas) em parceria com os bancos na sequência da crise pandémica. Há uma semana o Governo tinha dito que tinham sido processados 12 mil processos das 20 mil empresas que já pediram para ter acesso às linhas de crédito.
Na conferência de imprensa onde apresentou os resultados deste inquérito, o presidente da CIP, António Saraiva, criticou o “morosidade no acesso ao crédito” por parte das empresas, pedindo ao Governo que simplifique os processos. A meio de abril, a CIP já tinha criticado o Governo ao dizer que tinham chegado “zero” apoios às empresas.
Além disso, Saraiva considera que o valor que está disponível atualmente não é suficiente: “Os pedidos já hoje extravasam em muito aquilo que está lançado“, disse, referindo que os pedidos atuais “consomem” 9,3 mil milhões de euros, acima do valor das atuais linhas de 6,2 mil milhões de euros, segundo o presidente da CIP, que relembrou que a Comissão Europeia autorizou um total de 13 mil milhões de euros.
Do total de “empresas que pediram empréstimo apenas 3% já recebeu o financiamento“, refere a apresentação deste primeiro inquérito cujos resultados referem-se às respostas dadas pelas empresas de 28 a 30 de abril. Na prática, tal significa que na passada quinta-feira 505 créditos estavam contratados, de um total de 16.808 estavam aprovados e de 43 mil pedidos entregues. Contudo, é de notar que 23,6% desse universo total de empresas tem o recebimento do financiamento pendente. Para já, apenas 3,4% das empresas viram o seu pedido ser recusado.
Em média, desde o seu início até ao fim, o processo demorou 28 dias úteis. A título de exemplo, “as empresas receberam financiamento oito dias depois da aprovação por parte da SGM (Sociedade de Garantia Mútua)”, refere o inquérito. A maioria das empresas fizeram pedidos nas linha de crédito “Capitalizar – Covid-19 (geral)” e na de “Apoio à indústria / apoio à atividade económica”.
Independentemente do que virão a receber das linhas de crédito, 46% das empresas que entregaram um pedido dizem que vão ter maiores necessidades de tesouraria. Além disso, 84% das empresas inquiridas considera que os apoios do Estado “ficam aquém ou muito aquém do necessário”. O inquérito revela ainda que um terço das empresas portuguesas já pediu financiamento bancário, mas que 40% das empresas inquiridas não pediu nem pensa vir a pedir financiamento.
Na conferência de imprensa virtual, António Saraiva alertou que foram exigidas garantias pessoais ou patrimoniais a algumas empresas, ainda que tal seja proibido pelas regras destas linhas de crédito que têm garantia estatal. Segundo o inquérito, foi exigida garantia a 18,4% das empresas inquiridas.
Do universo do inquérito, cerca de metade das empresas continua em funcionamento ao passo que um terço está parcialmente fechada e 16% está completamente fechada. A maioria das empresas inquiridas são microempresas ou PME de forma a refletir a composição do tecido empresarial português, sendo que apenas 4% das empresas inquiridas são grandes. A maioria encontra-se no setor da indústria e energia (38,9%), seguindo-se outros serviços (26,2%) e o comércio (18,2%).
Esta é a primeira edição desta série de inquéritos que a CIP, em conjunto com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE, fará às empresas para recolher informação sobre o tecido empresarial e monitorizar a implementação das linhas de crédito. Os inquéritos “abordarão temas considerados relevantes para a atividade empresarial, contribuindo para a existência de dados quantitativos fiáveis sobre a realidade das empresas, permitindo uma atuação dinâmica dos responsáveis políticos e do movimento associativo, a cada momento”, explica a CIP.
(Notícia atualizada às 17h05 com mais informação)
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