Ryanair admite despedimentos e redução da operação em Portugal
Estimando perdas de 100 milhões entre abril e junho, a Ryanair está a reavaliar a sua operação em Portugal, ponderando despedimentos e redução da frota, mas admite reduzir preços dos voos na Europa.
A Ryanair está a reavaliar a sua operação em Portugal, admitindo avançar com despedimentos e com a redução da frota no país, medidas que resultam da diminuição acentuada da procura provocada pela pandemia, que deverá trazer perdas de 100 milhões em abril e junho. A companhia irlandesa admite reduzir os preços dos voos na Europa para atrair mais passageiros, mas alerta que a “obsessão” de deixar o lugar do meio vazio é irrealista.
“Anunciámos há algumas semanas que iríamos ter de reduzir cerca de 3.000 postos de trabalho em cerca de 15 a 16 mil funcionários e alguns deles provavelmente serão em Portugal, dependendo do número de aeronaves que lá tivermos [a operar]”, afirma em entrevista à Lusa o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.
No dia em que a companhia aérea de baixo custo anuncia a retoma das suas operações em julho próximo, após mais de três meses com os aviões parados devido às restrições implementadas pelos países europeus para conter o surto, o responsável frisa que a Ryanair está agora “a reavaliar as suas operações e a falar com os sindicatos” em Portugal. “O nosso objetivo é ter acordos ou uma decisão tomada em breve”, diz Eddie Wilson, precisando que esta decisão será divulgada “nas próximas semanas”.
Por cada aeronave que é retirada, são cortados cerca de dez postos de trabalho de pilotos e aproximadamente 20 empregos na tripulação de cabine.
Ainda assim, de acordo com o responsável, é já certo que “o que vai determinar esse número [de despedimentos] será o total de aeronaves baseadas em Portugal”. “Por cada aeronave que é retirada, são cortados cerca de dez postos de trabalho de pilotos e aproximadamente 20 empregos na tripulação de cabine”, exemplifica.
Questionado sobre quais serão as bases portuguesas mais afetadas, Eddie Wilson indica que a transportadora aérea baseada em Dublin, na Irlanda, está a “olhar para tudo”. “Temos uma operação substancial no Porto, uma operação relativamente pequena em Ponta Delgada, redimensionámos a operação em Faro, e operamos em Lisboa”, elenca, sem pormenorizar.
A Ryanair avançou a 1 de abril passado com o lay-off simplificado em Portugal, considerando o recurso à medida como indispensável para a preservação dos postos de trabalho no país, de acordo com informação transmitida na altura aos sindicatos.
E ressalvando que a Ryanair ainda não está “no final desse exercício [de reavaliação]” sobre a sua presença em Portugal, assim como noutros países europeus, Eddie Wilson justifica desde já que este tipo de medidas tem por base a pandemia, visto que “a indústria está em crise”. “Transportámos 150 mil passageiros em abril quando devíamos ter transportado 30 milhões”, aponta, ressalvando a necessidade de a Ryanair “ajustar a sua atividade à nova realidade”. “E é isso que faremos quando voltarmos a voar”.
E isso acontecerá a partir de 1 de julho, segundo anunciou hoje a transportadora, indicando ainda assim que a retoma está sujeita ao levantamento das restrições de viagem aplicadas aos voos no espaço comunitário. “O que irá acontecer aqui é que vamos ter uma procura mais reduzida e é por isso que só retomamos com 40% da nossa capacidade, o que significa termos menos aviões e menos frequências […] e, nestas situações, temos de ponderar despedimentos e cortes nalguns custos“.
Ryanair estima perdas de 100 milhões entre abril e junho
A Ryanair estima ter perdas de 100 milhões de euros entre abril e junho devido ao cancelamento de viagens por causa da pandemia, após um total de 25 milhões de passageiros com voos anulados. “Tivemos um colapso no tráfego aéreo — 99% do nosso tráfego desapareceu — e já dissemos ao mercado que vamos perder 100 milhões [de euros] num trimestre, entre abril, maio e junho”, afirmou Eddie Wilson.
De acordo com o responsável, “o que aconteceu foi que a empresa teve de cancelar voos” devido à pandemia e às medidas restritivas adotadas pelos governos europeus para tentar conter o surto, sendo essa a razão para estas perdas, às quais se juntarão as dos meses de julho a setembro, um trimestre forte para a Ryanair por abranger o pico do verão.
A dimensão disto é enorme. Estamos a falar de mais de 25 milhões de passageiros [com voos cancelados]. Penso que a [companhia aérea portuguesa] TAP opera com nove milhões de passageiros por ano e nós temos 25 milhões que não viajaram em março, abril e maio.
Ao todo, foram já cerca de 25 milhões os clientes da transportadora que tiveram voos cancelados desde meados de março, quando as restrições nas deslocações começaram a ser implementadas. “A dimensão disto é enorme. Estamos a falar de mais de 25 milhões de passageiros [com voos cancelados]. Penso que a [companhia aérea portuguesa] TAP opera com nove milhões de passageiros por ano e nós temos 25 milhões que não viajaram em março, abril e maio”, compara Eddie Wilson.
E, à semelhança das outras transportadoras aéreas que enfrentam grandes dificuldades de liquidez, a Ryanair não é exceção, sendo inclusive uma das mais afetadas na Europa por ter um modelo de negócio exclusivamente baseado nas receitas com passageiros. “Não estamos a ter qualquer receita e o nosso foco é voltar a voar para que possamos retomar algum nível de normalidade”, assinala Eddie Wilson, admitindo, ainda assim, que “serão necessários alguns anos” para que a Ryanair volte aos níveis do ano passado.
“Estamos a falar de, pelo menos, dois anos, mas teremos de esperar para ver”, acrescenta o responsável, notando que isso depende também da procura, e se “existirão reservas e se as pessoas terão confiança para viajar”.
Preços dos voos na Europa devem baixar para atrair passageiros
Os preços dos voos deverão baixar para atrair passageiros aquando da retoma das ligações aéreas na Europa, defende a transportadora Ryanair, frisando que esta será a sua forma de “estimular o tráfego aéreo” nos próximos meses. “O que vai acontecer é que os preços vão baixar para fazer com que as pessoas voltem a viajar, por um período contínuo de tempo”, antecipa o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.
No dia em que a companhia aérea de baixo custo anuncia a retoma das suas operações em julho próximo, após mais de três meses com os aviões parados devido às restrições implementadas pelos países europeus para conter o surto, o responsável reforça que “a solução agora é baixar os preços”. “Não crescemos da maneira que crescemos aumentando os preços”, assinala.
Eddie Wilson é, contudo, muito crítico dos apoios estatais que algumas companhias aéreas na Europa estão a receber, como é o caso das transportadoras Lufthansa, Air France-KLM, TUI, SAS, entre outras, que já pediram ajudas governamentais de milhões de euros em forma de apoios públicos a empréstimos ou de subvenções. Também em Portugal, por exemplo, a TAP já solicitou ao Estado que garanta um empréstimo de 350 milhões de euros para assegurar liquidez. “E é por isso que temos esta dificuldade com as companhias aéreas que estão a ser resgatadas pelos governos sem qualquer razão”, critica Eddie Wilson.
Gerida por investidores privados, a Ryanair é também uma das transportadoras mais afetadas na Europa por ter um modelo de negócio baseado nas receitas com passageiros. “Grandes companhias aéreas estão a receber subsídios, enquanto outras […] como a Ryanair vão ter de adotar medidas por si e tentar estimular o tráfego aéreo, [o que implica que] a médio prazo tenhamos de o fazer através dos preços” baixos, explica o presidente executivo.
e queremos estimular o tráfego na Europa, a forma mais fácil de isso acontecer é reduzir taxas de forma não discriminada, para que todas as companhias aéreas possam ter acesso a essas medidas
Para Eddie Wilson, “a resposta não são ajudas estatais”. “Se queremos estimular o tráfego na Europa, a forma mais fácil de isso acontecer é reduzir taxas de forma não discriminada, para que todas as companhias aéreas possam ter acesso a essas medidas”, sustenta.
Além disso, “o que vai ser preciso a médio e longo prazo […] para retomar o turismo são as pessoas, [pelo que] os que transportam mais pessoas deveriam ser aqueles que seriam mais beneficiados”, argumenta o responsável. Eddie Wilson questiona ainda: “Qual é o objetivo de dar dinheiro a uma companhia aérea […] se ela não vai fazer mais do que já fazia? É uma forma de desperdiçar dinheiro”.
“Obsessão” de deixar lugar do meio livre em voos “não é realista”
A companhia aérea critica “a obsessão” relativa à eventual medida de deixar lugares livres entre passageiros para garantir distanciamento em aviões, devido à pandemia de covid-19, recusando aplicá-la, por considerar que “não é realista”. “Esta obsessão com o lugar do meio não é baseada em factos. O que se pretende atingir? Não atinge nada. As pessoas continuam atrás umas das outras nas aeronaves e há outras e mais eficientes medidas que podem ser adotadas”, vinca em entrevista à Lusa o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.
Argumentando que esta medida não tem “qualquer razão de saúde pública ou científica”, o responsável aponta também que esta “não é uma medida realista”, já que por exemplo “não tem em conta as famílias que viajam juntas e as companhias aéreas que não têm lugares do meio”. E avisa: “Não vamos voar se isso for para a frente porque isso não tem qualquer resultado”. “Esta medida [de deixar o lugar do meio livre] parece boa, e pode funcionar quase até como ‘soundbite’, mas não tem por base fundamentações científicas”, reforça.
Falando à Lusa um dia antes de a Comissão Europeia emitir recomendações sobre o restabelecimento das viagens na Europa, que foram restringidas devido às medidas aplicadas pelos Governos para conter o surto de covid-19, o líder da companhia aérea avisa que, além de “não trazer uma mudança relevante”, a adoção deste tipo de medidas pode “limitar a retoma dos voos”.
[Ryanair defende] menos contacto a bordo, controlos de temperatura nos aeroportos, restrição de movimentos na cabine, sistemas de filtragem do ar e proibição da utilização de papéis, cartões de embarque ou revistas de bordo.
A Ryanair tem sido a voz mais crítica dentro do setor contra esta medida. Para Eddie Wilson, é preciso antes apostar em medidas como “haver menos contacto a bordo, realizar controlos de temperatura nos aeroportos, restringir os movimentos na cabine, ter sistemas de filtragem do ar e não utilizar papéis, cartões de embarque ou revistas de bordo”. “Estas medidas são o caminho a seguir, tanto para os passageiros, como para a tripulação de cabine”, defende o responsável, frisando que estas normas servirão para “mitigar o risco neste período de saída do confinamento”.
E serão exatamente estas medidas que a Ryanair começará a aplicar nos seus voos quando os retomar a 1 de julho, segundo anunciou hoje a transportadora aérea. Entre as medidas divulgadas estão, por exemplo, restrições à bagagem de porão, a obrigação de os passageiros fazerem ‘check-in’ pela internet e de apresentarem os cartões de embarque nos telemóveis e ainda de se submeterem a controlos de temperatura à entrada do aeroporto e de utilizarem máscaras/coberturas faciais no terminal e a bordo dos aviões.
Outra regra é que se os clientes quiserem ir à casa de banho durante os voos terão de pedir autorização. Já a tripulação também terá de usar equipamento de proteção e, nos serviços a bordo, só irá disponibilizar algumas refeições ligeiras pré-embaladas e bebidas e aceitará pagamentos com cartões. A Ryanair vai, ainda, pedir informações pessoais aos passageiros sobre a duração da sua visita e morada de alojamento, visando controlar eventuais medidas de isolamento impostas aos visitantes de voos intracomunitários.
Desde o início dos limites às viagens, aplicados em meados de março, a Ryanair só tem feito cerca de 30 voos por dia entre a Irlanda, o Reino Unido e a Europa, e espera agora passar para cerca de 1.000 ligações diárias, operando com menos frequências do que o habitual. Anterior responsável pelo departamento de pessoal da Ryanair, Eddie Wilson é presidente executivo da companhia aérea de baixo custo desde setembro de 2019, tendo substituído no cargo Michael O’Leary, que passou a liderar todo o grupo.
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