BP vai ter projetos solares em Portugal, mas ainda não olha para o hidrogénio verde
Em Portugal a aposta não passa ainda pelo hidrogénio verde, mas a BP está a "olhar para o mundo" e "vai ter uma palavra a dizer na agenda do hidrogénio", tendo em conta o portfólio de renováveis.
Pedro Oliveira, presidente da BP Portugal, confirmou que a petrolífera “está ativamente à procura, vai desenvolver e vai ter projetos de energia solar em Portugal num curto espaço de tempo, tal como já acontece em Espanha” através da sua subsidiária Lightsource BP, que opera cá. Em marcha está já a participação da empresa no próximo leilão de renováveis que terá lugar em agosto no país, para atribuir mais 700 MW de potência instalada.
Quanto ao hidrogénio verde, a grande aposta do Governo de António Costa neste momento, a BP não está para já a apostar nesta fonte de energia descarbonizada em Portugal. “Ainda não, mas estamos a olhar para todo o mundo, por isso, quem sabe? A BP vai ter uma palavra a dizer na agenda do hidrogénio verde. Um eventual investimento vai beneficiar do portfólio de renováveis que a BP já tem neste momento”, disse o responsável.
Na mobilidade elétrica, a empresa tem neste momento 14 carregadores em Portugal, mas garante que no final do ano a rede mais do que duplicará, para um número entre 30 a 40 carregadores. Com uma quota de postos de carregamento “já acima da taxa de penetração de veículos elétricos no parque automóvel em Portugal”, a BP garante que vai continuar a “colocar mais carregadores onde fizer sentido”.
Soma-se a parceria com a Dourogás num novo posto de abastecimento de Gás Natural Veicular (GNV) inaugurado recentemente, a norte, na área de Serviço da BP na A41, na Maia. O investimento foi de 1,2 milhões de euros e posto está preparado para misturas com hidrogénio e gases renováveis, no futuro, e integra a rede do consórcio Eco-Gate, que construiu uma rede europeia de postos GNV nos corredores de abastecimento, em quatro países: Portugal, Espanha, França e Alemanha, refere a empresa em comunicado.
No terreno, a BP está já a desenvolver projetos de combustíveis sintéticos, captura de carbono, gás natural, hidrogénio. A petrolífera admite que não pôs ainda em marcha a conversão das suas refinarias para o modelo do futuro preconizado recentemente pela APETRO, da qual a BP faz parte. “São as refinarias mais eficientes que vão sobreviver, com combustíveis sintéticos, incorporação de biocombustíveis na fileira, co-processamento. O negócio da refinação deixou de ser só meter petróleo de um lado e saírem combustíveis do outro”, disse Pedro Oliveira, lembrando que as companhias petrolíferas não podem adivinhar qual vai ser a receita energética do futuro.
“Com um nível de incerteza tão grande sobre quais serão as tecnologias vencedoras, nenhuma empresa se pode dar ao luxo de não estar a olhar seriamente para todas as hipóteses. Vamos ter uma agenda de investimento muito agressiva em tudo o que venha a potenciar a redução de emissões”, disse Pedro Oliveira, a começar pelo investimento de mais de oito milhões de euros na compra de créditos de carbono internacionais que vão mitigar a emissão de dois milhões de toneladas de CO2 em Portugal, provenientes dos combustíveis vendidos anualmente pela BP.
“Adorava dizer que temos 500 carregadores elétricos nos nossos 500 postos de combustíveis, mas isso não seria responsável e a linha e custos seria ineficiente. A amortização desses 500 carregadores elétricos com um carregamento por dia na nossa rede, matava esta iniciativa e não podíamos dizer que vamos reduzir estes milhões de toneladas por ano”, rematou.
BP aumenta rede para 500 gasolineiras e desiste da compra da Prio
Quanto aos postos de abastecimento de gasolina e gasóleo, a BP alcançou já a meta dos 500 postos de abastecimento e tem a segunda maior rede em Portugal, a seguir à Galp. Em terceiro lugar está a Repsol, com cerca de 470 postos, depois de ter comprado a Shell em Portugal. Há cinco anos a BP tinha apenas 320 postos e conseguiu quase duplicar a rede sem grande necessidade de criar postos de raiz, atraindo revendedores com postos de outras marcas.
Somando as 500 gasolineiras da BP em Portugal às 800 em Espanha, a empresa fica assim com um total de 1300 gasolineiras na Península Ibérica, tornando-se no terceiro operador ibérico a seguir à Cepsa e à Repsol. Esta foi a razão apresentada por Pedro Oliveira para a BP ter desistido entretanto da compra da Prio. “Não avançámos com uma proposta porque não precisamos de mais postos, já atingimos o nosso objetivo. A Prio já não está no radar, seria um ativo absolutamente redundante”, disse, reconhecendo que Portugal tem um número de gasolineiras acima da média europeia e vendas por posto baixo da média da UE, o que coloca a rede debaixo de pressão.
Questionado sobre se, em função da quebra a pique nas vendas de combustíveis nos últimos meses (menos 50% em Portugal e menos 80% em Espanha), existe o risco de encerramento de postos, o presidente da BP Portugal confirmou que “há uma franja de postos, com menos capacidade de diversificar e gerar receitas”, que podem estar mais perto de fechar. Nos últimos anos tem-se assistido a “consolidações informais na rede. É o mercado livre a trabalhar bem”.
Petrolífera prevê vendas em queda até ao fim de 2020, mas resultados serão positivos
Sobre o impacto da pandemia nas contas da empresa, o presidente da BP Portugal acredita que a empresa terminará o ano com resultados positivos “se o perfil de recuperação de procura for aquele que acreditamos que vai ser. Até ao momento, e depois dos meses dramáticos de março e abril, até estamos a ter uma recuperações acima daquilo que esperávamos. Ganhámos quota de mercado ao longo destes meses”, disse o responsável.
“Não há super homens nem super mulheres na gestão. O que nos tocou no primeiro semestre, ao nível da quebra de vendas, é algo que nos impactou muito. Ainda não saímos dessa queda de vendas, mas ao longo destes seis meses atuámos ao nível tático e não abalámos os projetos ligados ao futuro da empresa. Acreditamos no futuro”, acrescentou ainda.
Pedro Oliveira revelou que a BP ainda estará a assumir perdas, até ao final do ano “e não estamos a assumir que em nenhum mês de 2020 consigamos igualar as vendas do ano passado. Vamos ter resultados positivos como em 2019, mas menos positivos”.
Além disso, há muitas outras coisas que a BP está a fazer para compensar a queda das vendas de combustíveis: potenciar vendas das lojas, de lavagens, parcerias com a Glovo, promoções com a Jerónimo Martins, uma “série de alavancas” para mitigar o efeito da pandemia.
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