Costa diz ser “indispensável” acordo “duradouro” com a esquerda. “Se foi possível antes, certamente será possível agora”

No debate do Estado da Nação, o primeiro-ministro desafiou os partidos à esquerda a estabelecer um "entendimento sólido e duradouro". "Se foi possível antes, certamente será possível agora", disse.

António Costa afastou esta sexta-feira, no debate do Estado da Nação, uma crise política provocada pelo Governo em plena pandemia, desafiando os partidos à esquerda do PS a estabelecerem um “entendimento sólido e duradouro” como o da legislatura anterior. Para o primeiro-ministro se um acordo deste tipo, que ficou conhecido como “geringonça”, foi “útil antes”, agora é “indispensável”.

Ninguém espere deste Governo qualquer contributo para uma crise política que ponha em causa a estabilidade desta legislatura“, afirmou o líder do PS na intervenção inicial do Estado da Nação, assegurando que o futuro “não passa pela austeridade nem por qualquer retrocesso” face às conquistas alcançadas nos últimos anos. Costa quer, portanto, um “quadro de estabilidade ao longo da legislatura”, admitindo que já o queria antes da pandemia, mas “ainda mais agora”.

Para o primeiro-ministro essa estabilidade deve ser garantida “com os partidos que viraram a página da austeridade”. Criticando quem tem “táticas de vistas curtas” ou “calculismo eleitoral” em acordos de curto prazo, Costa desafiou a esquerda — o BE, PCP, PEV e ainda o PAN — para um “entendimento sólido e duradouro”. “Se foi possível antes, certamente será possível agora“, considera, referindo que se foi “útil antes, agora é indispensável”.

O líder do PS considera que é possível haver um acordo “sem prejuízo das conhecidas diferenças”, nomeadamente por causa das “visões distintas sobre a Europa e a estabilidade do quadro macroeconómico”, com as quais “sempre soubemos conviver”. António Costa contrapôs com as “posições conjuntas” à esquerda: “O desígnio de reforçar a capacidade produtiva e a valorização dos nossos recursos; a prioridade ao fortalecimento dos serviços públicos e o reforço do investimento público; o combate às precariedades na habitação e no trabalho; a luta contra as desigualdades”.

“A magnitude da tarefa que temos em mãos não se compadece com acordos de curto prazo, nem com táticas de vistas curtas, baseadas em despiques de popularidade, competições de descolagem ou exercícios de calculismo eleitoral”, criticou António Costa, assegurando que tem “mais do que disponibilidade” para reforçar a “saudável previsibilidade, coerência e continuidade das políticas que respondem não só às necessidades imediatas dos portugueses, mas também ao imperativo de transformação estrutural do país”.

Numa intervenção logo a seguir a Costa, Rui Rio reagiu às palavras do Governo para a esquerda: “O que vi em público foi um pedido de casamento com papel assinado ali com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda“, disse o líder do PSD. Rio questionou Costa sobre as “aventuras” e as “ideias megalómanas” do hidrogénio verde, temendo “mais um episódio de rendas garantidas”.

Mais à frente no debate, Costa aproveitou para criticar o PSD, acusando o partido de estar “fossilizado na defesa das energias fósseis” e “desligado dos setores mais dinâmicos” de Portugal. “É chocante ver como o PSD não aprendeu nada com a História“, criticou o primeiro-ministro, vaticinando que “não podemos contar com o PSD para construir um país do futuro” por este ser um “partido dos velhos no Restelo que não assumem nem têm a coragem de transformar as tormentas em boa esperança”.

Na sua intervenção, a líder do Bloco de Esquerda não ignorou o apelo de Costa, relembrando que no final do ano passado, após as eleições, os bloquistas desafiaram o Governo para um acordo formal, escrito e duradouro para a legislatura. “O BE nunca esqueceu o nosso mandato de políticas de esquerda e o nosso horizonte sempre foi o da legislatura. Cunca colocámos o nosso mandato dentro da gaveta“, avisou Catarina Martins.

Em reação, Costa diz que as “circunstâncias mudaram” e que há uma “nova agenda que é comum” aos dois partidos.

(Notícia atualizada às 10h52 com mais informação)

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