Há sinais positivos no consumo. Crédito, carros e gastos com multibanco já recuperaram da crise
Os últimos dados do crédito ao consumo e habitação, da compra de carros e do uso do multibanco mostram que já recuperaram da crise pandémica. Mas os economistas recomendam cautela nas conclusões.
Há sinais positivos para o consumo privado em Portugal, a componente do PIB que mais penalizou a economia no segundo trimestre. Seja no crédito ao consumo ou à habitação, seja nas vendas de carros ou nos pagamentos por multibanco, os indicadores micro já recuperaram da crise pandémica, sinalizando uma melhoria da atividade económica em julho. Ainda assim, os economistas recomendam cautela na retirada de conclusões gerais sobre a economia dada a incerteza elevada.
“Há aqui várias questões com leituras diferentes“, começa por dizer ao ECO Filipe Garcia, economista da IMF, argumentando que, por exemplo, “a maior utilização do multibanco decorre essencialmente da maior adoção desse método de pagamento devido à pandemia” uma vez que tanto os bancos como as autoridades de saúde promovem o uso de cartão em vez de dinheiro.
Ainda assim, o economista considera que “há, sem dúvida, uma recuperação dos níveis de atividade“. Uma afirmação corroborada por Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, em declarações ao ECO: “Os indicadores de consumo e investimento apontam para uma recuperação forte depois dos mínimos de abril“, diz, apesar de agora indiciarem uma “quase estabilização em julho/agosto”.
A economista-chefe do BPI acrescenta que os dados da construção, como o investimento no setor e as vendas de cimento, assim como os dados de ofertas de emprego no IEFP, “que aumentaram ligeiramente em agosto mensalmente”, são bons sinais para a recuperação da economia portuguesa.
Porém, quanto ao consumo privado em específico, Filipe Garcia diz que não é possível tirar já conclusões gerais sobre os dados. “Por um lado as moratórias de crédito estão a dar uma folga orçamental às famílias, que não têm tido de pagar prestações do crédito pessoal ou à habitação; por outro lado, os bancos continuam generosos na concessão de crédito”, explica, referindo as razões pelas quais o consumo pode estar a melhorar temporariamente.
“Só quando tivermos o final das moratórias será possível perceber em rigor qual a saúde financeira das famílias portuguesas e, já agora, das empresas“, diz o economista da IMF.
Paula Carvalho está ainda mais cautelosa quanto à recuperação económica, principalmente por causa da situação epidemiológica. “Atendendo à evolução dos indicadores de saúde pública, diria que o ritmo de atividade nos próximos meses tenderá a evoluir muito moderadamente”, responde, afirmando que o nível da recuperação dependerá “sobretudo da evolução da crise de saúde pública”.
-
Compras nacionais por multibanco crescem 0,7% em julho
Face ao ano passado, as compras nacionais com recurso ao multibanco aumentaram 0,7% em julho, segundo os dados do Banco de Portugal divulgados na passada segunda-feira. “Os pagamentos mostram sinais de progressivo regresso à normalidade“, concluía o banco central, revelando ainda que os dados relativos a agosto confirmavam essa tendência, crescendo 8% em duas semanas consecutivas, “pela primeira vez desde o início da pandemia”. Ainda assim, é de notar que o valor dos levantamentos continua abaixo dos números do ano passado.
Pagamentos por multibanco
-
Crédito ao consumo aproxima-se dos níveis de março. Crédito à habitação sobe
Os últimos dados mostram que o crédito ao consumo, relativamente a julho, fixou-se nos 402 milhões de euros, após uma queda acentuada em abril, como mostra o gráfico do Banco de Portugal. Este valor fica já próximo dos 421 milhões de euros concedidos em crédito ao consumo em março.
Já no caso do novo crédito à habitação, este subiu para 931 milhões de euros em julho, mais 98 milhões de euros face a junho e pouco aquém dos 966 milhões de euros de julho de 2019. Contudo, é de notar que neste caso a queda não foi acentuada em abril, como mostra o gráfico do Banco de Portugal.
Crédito ao consumo
-
Venda de carros ligeiros com queda de apenas 0,1% em agosto
Os dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) mostram que a venda de automóveis ligeiros de passageiros caiu apenas 0,1% em agosto, face ao mesmo mês do ano passado. Este é um sinal de recuperação após as fortes quedas durante o período de confinamento (com os stands fechados), o que resultou numa queda acumulada até agosto de 40% nas vendas de carros.
-
Consumo de gasóleo e gasolina recuperam
Segundo os números de consumo de gasóleo e gasolina da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis (ENSE), há uma aproximação progressiva aos valores “normais”, antes da crise pandémica. No caso do gasóleo, a quebra homóloga em julho já é de apenas 8,23%. No caso da gasolina, ainda é de 11,55%, mas os dados ao longo dos meses mostram uma clara melhoria.
Consumo de gasolina
-
Portugal foi o país da UE onde as vendas a retalho mais cresceram em julho
Segundo os dados do Eurostat, as vendas a retalho em Portugal cresceram 3,9% em julho face ao mês anterior, a maior subida entre os países da União Europeia. Apesar deste sinal positivo, é de assinalar que as vendas a retalho ainda estão 3,9% aquém dos valores de julho de 2019. Na comparação europeia, mesmo em termos homólogos, Portugal compara bem face a alguns países como Holanda, Luxemburgo, entre outros, mas mal em relação à média da Zona Euro em que já se regista um crescimento de 0,4%.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Há sinais positivos no consumo. Crédito, carros e gastos com multibanco já recuperaram da crise
{{ noCommentsLabel }}