Três biliões de máscaras descartáveis podem ir parar ao lixo ou ao mar
Ao contrário do que era esperado para 2020, os descartáveis de uso único, aos quais se somam agora milhões de máscaras e luvas descartáveis, são cada vez mais uma realidade, dizem as ONGA.
As contas foram feitas por três organizações não governamentais de ambiente: se todos usarmos uma máscara descartável por dia, ao fim de um ano serão três biliões destes resíduos de uso único que podem ir parar ao lixo ou, pior, ao mar. É para evitar este cenário que as associações ambientalistas ANP|WWF, SCIAENA e ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável lançaram uma campanha nacional para apelar à utilização de máscaras reutilizáveis “sempre que seja seguro”, alertando para o impacto dos descartáveis na natureza e na vida selvagem.
“Uma proteção para si. Um sufoco para a natureza” é o lema da campanha que já está está a decorrer nas redes sociais e lembra que “para quem não pertence a um grupo de risco as máscaras reutilizáveis são igualmente seguras”. A queda a pique no preço das máscaras descartáveis (uma caixa de 40 custa agora apenas 7 euros) nos últimos meses também não ajuda a que o seu uso seja evitado por quem tem de usar máscara diariamente nas escolas, nos transportes públicos, para trabalhar, ir às compras, entre muitas outras situações.
“Com a pandemia vimo-nos obrigados a interiorizar novos hábitos em nome da saúde e segurança de todos. Mas infelizmente perduram outros, como o desleixo que leva o nosso lixo a chegar aos rios e mares por todo o planeta. Sabemos que 80% de todo o plástico que está no oceano tem origem em terra, e é garantido que as máscaras e luvas que vemos nas nossas ruas vão acabar aí. Proteger a nossa saúde não pode implicar colocar em risco a do planeta, até porque inevitavelmente isso irá virar-se contra nós. É crucial que usemos máscaras reutilizáveis, sempre que for seguro fazê-lo. O risco dos descartáveis que, depois de usados, são deitados na natureza, são um perigo imediato para a biodiversidade, e um perigo a longo prazo para a nossa saúde”, afirmou Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF.
Logo em março, o ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, apelou aos portugueses para seguirem as regras de eliminação de luvas e de máscaras através do lixo indiferenciado (contentor normal) e nunca nos ecopontos ou na sanita. E também, para que fizessem uma gestão mais cuidada dos seus resíduos urbanos.
Apesar dos vários apelos, os ambientalistas alertam que as máscaras e luvas descartáveis usadas acabam muitas vezes por ser deitadas ao chão e, por falta de informação, são colocadas no contentor errado (devendo ser colocadas no lixo orgânico). “Não sendo recicláveis, é lixo que se vai acumulando, juntando-se aos milhares de descartáveis que todos os dias se avistam perdidos no chão. Ao contrário do que era esperado para 2020, os descartáveis, aos quais se somaram agora milhões de máscaras e luvas descartáveis, são uma realidade cada vez mais recorrente e visível no dia-a-dia de cada um”, referem as associações em comunicado conjunto.
Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF, justifica a necessidade para esta sensibilização “pela banalização do uso de plástico descartável a que temos assistido nos últimos meses, e que levou inclusivamente a um adiamento de seis meses em Portugal da aplicação da Diretiva sobre Plásticos de Uso Único. Esta banalização acontece sob o pretexto da segurança sanitária, quando não há evidência científica que suporte esta opção”.
Já Renata Fleck, da SCIAENA, dá um exemplo de excesso de produção de resíduos plásticos: “Até há um mês eram usadas diariamente 98.000 capas de plástico descartável em aulas de condução no nosso país, quando a utilização de máscara reutilizável, a correta desinfeção do volante e a lavagem das mãos antes e após a aula seriam suficientes, e o mesmo se aplica a vários outros setores que passaram a fazer o uso desnecessário de plásticos descartáveis devido a pandemia. Estes números são assustadores, pois se já vivíamos uma crise de fuga de plásticos para os oceanos, esta será seguramente agravada nos próximos anos”.
Para Susana Fonseca, da ZERO, “é importante termos a noção que a resposta à atual crise pandémica não pode esquecer que existem outras crises que estão a decorrer em paralelo – alterações climáticas, perda da biodiversidade, exploração desregrada dos recursos naturais – pelo que, é fundamental minimizar o impacto das soluções encontradas, onde a reutilização pode assumir um papel chave”.
A propósito das máscaras descartáveis, que o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) classifica como um “novo flagelo ambiental”, o partido vai propor, em sede do Orçamento do Estado para 2021, a “criação de uma tara para as máscaras descartáveis que incentive assim a devolução por parte do consumidor”, evitando que estas sejam deixadas em sítios inapropriados.
“O PAN defende a criação de uma tara para as máscaras descartáveis que incentive assim a devolução por parte do consumidor, seja nas farmácias, seja nas superfícies comerciais, para que depois possam ser deitadas fora devidamente, ao invés de continuarmos a encontrar máscaras no chão, nas sarjetas, nos jardins, nos parques infantis ou nas praias e nos mares”, disse à Lusa a líder parlamentar do PAN.
Em causa poderá estar o pagamento de “mais 10 ou 20 cêntimos” pagos no momento de compra da máscara, valor que seria “devolvido quando adquirissem a próxima”.
“Não queremos que a máscara descartável seja o novo flagelo ambiental, mas sim que seja criado um incentivo, através desta tara, e para nós esta é uma medida que apesar do impacto financeiro que tem acaba por ser simbólica, para que as pessoas percebam a importância de não deitarem as máscaras para o chão ou não descartarem indevidamente”, disse Inês Sousa Real.
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