Projeto português quer pôr consumidores a transacionarem energia
Um grupo de investigadores do Instituto Superior de Engenharia do Porto está a trabalhar num projeto que pretende colocar os consumidores a "participar diretamente" na transação de energia.
Investigadores do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) integram um projeto, financiado em 3,9 milhões de euros, que visa, com um novo modelo de comercialização de energia, colocar os consumidores a “participar diretamente” na sua transação.
Em declarações à Lusa, Tiago Pinto, do grupo de Investigação em Engenharia de Computação Inteligente para a Inovação e Desenvolvimento (GECAD) do ISEP, explicou que o projeto surge da necessidade de “criar um balanço” entre a energia gerada e os consumos.
“Neste momento, garantir esse balanço não é fácil. Tendo em conta que não conseguimos controlar a geração proveniente de fontes de energia renováveis, então vamos tentar controlar o consumo”, afirmou o investigador.
O projeto, intitulado DOMINOES e financiado em 3,9 milhões de euros pelo programa Horizonte 2020 da União Europeia, pretende colocar o consumidor como “entidade ativa” no mercado energético.
“O que nós propomos é a existência de mercados locais onde os consumidores vão participar diretamente e podem transacionar uns com os outros, tanto a compra, como a venda de energia”, salientou.
Se tiver um painel solar em casa, em vez de estar a vender [energia] à rede a um preço fixo pequeno, consigo vendê-lo quando é mais benéfico para mim e para o sistema.
Tendo por base um novo modelo de comercialização, os investigadores pretendem potenciar o uso de energias renováveis e o “reaproveitamento das redes locais de distribuição”.
“Neste momento, um consumidor que tem geração própria, por exemplo um painel solar, é obrigado a vender [a energia gerada] à rede por um custo muito baixo, ou seja, quase que não há lucro em produzir essa geração. O que estamos a tentar fazer é com que o consumidor consiga vender essa energia a um preço mais benéfico, fazendo-o também ao nível local”, esclareceu.
Dessa forma, os consumidores passam a ser “produtores em pequena escala”, adaptando hábitos de consumo em troca de incentivos financeiros, nomeadamente, através de “benefícios nas faturas de energia”.
“Se tiver um painel solar em casa, em vez de estar a vender [energia] à rede a um preço fixo pequeno, consigo vendê-lo quando é mais benéfico para mim e para o sistema, por exemplo, quando houver falta de geração, consigo vender [energia] ao meu vizinho, não sendo necessário que ele compre à rede”, esclareceu.
O novo modelo, ao permitir que a energia gerada seja consumida localmente, “evita perdas inerentes ao transporte da energia em largas distâncias”, bem como “investimentos avultados no reforço das redes de transmissão de energia”.
Além do ISEP, integram este projeto quatro instituições de ensino superior e três empresas de Portugal, Espanha, Reino Unido e Finlândia, sendo que uma das empresas é a EDP. A integração da EDP neste projeto mostra, segundo Tiago Pinto, “a forma como os grossistas do mercado energético se estão a posicionar face a esta evolução”.
“Estas empresas já perceberam que é uma prioridade mundial e da União Europeia implementar este tipo de soluções e estão a tentar encontrar formas de rentabilizar e posicionar-se neste tipo de negócios, sendo que vão fazer uso das mudanças de consumo”, referiu.
Apesar das grandes empresas do setor energético já se estarem a posicionar, a “abertura por parte dos consumidores para estas soluções ainda não é grande”, salientou o investigador, acrescentando, contudo, que o principal desafio que a implementação destas soluções enfrenta é ao nível da regulamentação.
Os mecanismos de mercado propostos no âmbito do DOMINOES vão ser validados em três demonstradores reais, nomeadamente, numa micro rede localizada no campus da Universidade de Lappeenranta, na Finlândia, em várias filiais de bancos em Portugal e numa rede de distribuição em Évora.
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