“Consequências positivas” do vírus nas exportações agroalimentares? Está a acontecer
As exportações de bens estão a cair a pique este ano face a 2019. Contudo, há uma exceção: as vendas ao exterior de bens agroalimentares crescem, confirmando uma previsão da ministra da Agricultura.
Em fevereiro, ainda a pandemia não tinha chegado a Portugal, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, fez uma declaração que gerou polémica: o coronavírus “até pode ter consequências bastante positivas” para as exportações portuguesas do setor agroalimentar para os mercados asiáticos. Oito meses depois, os dados das exportações de alimentos sugerem que a previsão se concretizou, sendo esta a única categoria de vendas ao exterior que cresce face ao ano anterior.
Não é só o setor tecnológico que está a beneficiar da crise pandémica. Pelo menos na frente externa, o setor agroalimentar português também está a colher ganhos, exportando mais do que no ano passado. Olhando apenas para as exportações de bens, os agroalimentares são a única categoria identificada pelos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) com um crescimento homólogo entre janeiro e agosto deste ano.
“Em 2020, no período acumulado de janeiro a agosto, as exportações de mercadorias decresceram em valor -14,1% face a igual período do ano anterior (-5,6 mil milhões de euros), abrangendo todos os grupos de produtos à exceção do grupo ‘Agroalimentares’, que aumentou 119 milhões de euros“, realça o economista Walter Anatole Marques, numa análise divulgada pelo Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia. As exportações agroalimentares estão a crescer 2,5% no acumulado até agosto.
Apesar de as exportações agroalimentares serem as únicas a crescer em plena pandemia, não é possível traçar uma relação de causa e efeito — correlação não implica causalidade –, ou seja, isto não significa que foi a pandemia que levou a um aumento das vendas ao exterior de agroalimentares
Analisando em maior pormenor as exportações de agroalimentares — que representam cerca de 14% do total de exportações de bens –, é possível dizer que produtos como frutas, cascas de citrinos e melões e animais vivos são os que mais contribuem para este desempenho das exportações de agroalimentares.
Ainda assim, praticamente todo o tipo de produtos agroalimentares — em particular as carnes e miudezas comestíveis assim como os vinhos — está a ser mais exportado, à exceção do peixe que regista uma queda homóloga.
Apesar de não ser possível — através dos dados do INE — saber para onde é que está a haver mais exportações de agroalimentares, é possível saber para que países as exportações não estão a cair em termos homólogos. É o caso do Japão e da Coreia do Sul, dois países asiáticos, e também da Irlanda e de Israel.
São os únicos países para onde as empresas portuguesas estão a conseguir exportar mais este ano do que no anterior, mas o crescimento também é pequeno (inferior a 1%). Contudo, não é possível concluir que tal se deve em exclusivo ou sequer em parte por causa dos agroalimentares.
Esta segunda-feira, 9 de novembro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os novos dados do comércio internacional de bens até setembro e dedicou uma caixa especial aos produtos agroalimentares por serem os únicos a crescer. Nesse caixa, o gabinete de estatística revela que os países responsáveis pelo acréscimo das vendas ao exterior foram os “clientes” Espanha, Reino Unido, Holanda e China.
Ministério da Agricultura: Dados refletem “resistência e a capacidade de trabalho” do setor
Em outubro, quando os dados foram divulgados, o Ministério da Agricultura reagiu com um elogio ao setor: “São [dados] muito positivos, refletindo a resistência e a capacidade de trabalho dos nossos agricultores e de todo setor agroalimentar“, disse a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
No comunicado, o Ministério da Agricultura dava mais detalhes sobre o desagregamento deste desempenho. “Se analisarmos apenas a agricultura o crescimento é ainda maior. No acumulado de janeiro a agosto, quando comparado com o mesmo período de 2019, as exportações deram um salto de 7,1%. Já quando comparamos agosto de 2019 com o mesmo período homólogo de 2020 o crescimento é a dois dígitos: de 24,6%”, referia.
Apesar de não conseguir prever a manutenção desse desempenho, tendo em conta a previsível contração da economia mundial, na sequência da segunda vaga da pandemia, a ministra da Agricultura garantiu, no Webcast lab – “Agricultura: Agenda para a inovação 2030”, organizado pelo ECO/Advocatus, que o setor se mostrou capaz de dar uma resposta diferente daquilo que era expectável que acontecesse nos últimos meses.
“Todos antevemos que a situação possa vir a agudizar-se do ponto de vista social, económico e financeiro”, reconheceu Maria do Céu Antunes, mas o Plano de Recuperação e Resiliência será uma ferramenta para “dar uma resposta imediata para que os setores mais vulneráveis, e que apresentam neste momento mais fragilidades tendendo a esta pandemia, possam ter resposta” e conquistar “alguma segurança”, notou.
(Notícia atualizada às 11h51 de 9 de novembro com dados novos do INE)
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