Portugal é o país europeu onde os salários mais caíram por causa da pandemia
Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, os salários praticados em Portugal recuaram 13,5% por causa da pandemia. É a maior quebra entre os países europeus.
A pandemia de coronavírus fez tremer o mercado de trabalho. Entre os países europeus, registou-se uma quebra sem precedentes do emprego e das horas trabalhadas. Em resultado, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os salários emagreceram, em média, 6,5%, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020. Portugal verificou a perda remuneratória mais acentuada do Velho Continente: 13,5%.
A OIT divulgou, esta quarta-feira, o “Global Wage Report 2020/21”, um relatório que analisa as tendências salariais dos últimos anos, bem como o impacto da Covid-19 nas remunerações.
Por efeito da crise provocada pelo novo coronavírus, verificou-se uma quebra sem precedentes do emprego e uma redução das horas trabalhadas, nos países europeus, o que resultou em perdas salariais médias de 6,5%, estima a OIT. Isto sem ter em conta os apoios e subsídios concedidos pelos Governos aos empregadores para mitigar os efeitos da pandemia nas remunerações.
Essa quebra média dos salários é explicada sobretudo pela redução das horas trabalhadas. De notar que em vários países europeus, incluindo Portugal, a diminuição do período normal de trabalho — através de mecanismos como o português lay-off simplificado — foi um dos principais caminhos escolhidos para mitigar o impacto da pandemia no mercado de trabalho e proteger os empregos.
A OIT salienta que, tudo somado, a perda salarial ligada aos despedimentos foi menor do que aquela relativa à redução dos horários, “o que sugere que as políticas implementadas para salvaguardar os empregos conseguiram conter os impactos negativos da crise no emprego“.
Em Portugal — país onde foi registada a perda salarial mais grave da Europa –, essa tendência repete-se. No total, as remunerações recuaram 13,5%, entre o primeiro e o segundo trimestre (o que compara com a média europeia de 6,5%). Tal evolução explica-se sobretudo pela redução das horas trabalhadas: a quebra salarial associada à diminuição dos horários foi de 11,7%, enquanto a quebra salarial associada aos despedimentos foi de 1,8%.
Tal reflete a forte adesão dos empregadores ao lay-off simplificado. Mais de 100 mil empresas recorreram a este regime, que permite reduzir os horários de trabalho ou suspender os contratos, implicando um corte máximo dos salários de 33%.
O relatório da OIT detalha ainda que foi entre as mulheres portuguesas que se registou a quebra salarial mais acentuada de todo o Velho Continente. Em causa está uma redução de 16%. Os homens portugueses, por sua vez, verificaram uma quebra de 11,4%. Aliás, a OIT destaca que, de modo geral, o impacto da Covid-19 nos salários prejudicou mais as trabalhadoras do que os trabalhadores. Sem subsídios ou apoios às remunerações, as mulheres teriam perdido, tudo somado, 8,1% dos seus salários, no segundo trimestre de 2020. Os homens? 5,4%.
Além de Portugal, também na Irlanda e em Espanha as perdas salariais resultantes da pandemia de coronavírus ultrapassaram os 10%: 10,9% e 12,7%, respetivamente. Por outro lado, os trabalhadores da Holanda (-1,7%), Croácia (-2,1%) e da Suécia (-2,5%) foram os menos afetados, em termos remuneratórios, pela crise provocada pela Covid-19.
No relatório publicado esta quarta-feira, Portugal aparece em destaque também como um dos países onde a desigualdade mais se agravou, acompanhado igualmente da Irlanda e de Espanha.
O forte impacto da pandemia nas remunerações dos trabalhadores portugueses levou o Governo a desenhar mecanismos alternativos ao lay-off simplificado — como o apoio à retoma progressiva –, que implicam cortes salariais menos acentuados. Aliás, por negociação com a esquerda, o Governo decidiu incluir no Orçamento do Estado para 2021 a eliminação de todos os cortes remuneratórios até agora aplicados no âmbito do lay-off (tradicional ou simplificado) e do apoio à retoma progressiva.
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