Governo ouve partidos. Mas espera pela reunião do Infarmed para decidir sobre restrições
O primeiro-ministro retomou este sábado as reuniões que convocou com os partidos para discutir as medidas a adotar nos próximos dias.
O primeiro-ministro retomou este sábado as reuniões que convocou de emergência com os partidos para discutir e decidir sobre as medidas e restrições a aplicar nos próximos dias, na sequência do disparo do número de casos de coronavírus. O PAN foi o primeiro partido a ser ouvido esta manhã, afirmando que o Executivo está à espera da reunião de terça-feira do Infarmed para tomar uma decisão.
“Nada está fechado neste momento” começou por dizer o líder do PAN, André Silva, em declarações aos jornalistas à saída da reunião com António Costa. “O que se perspetiva é algo que possa ser semelhante [ao que foi feito em] março e abril [de 2020], mas com algumas exceções”, continuou. “Estamos à espera da reunião de terça-feira do Infarmed para percebermos o que faremos na quarta-feira”.
Apesar de não ter adiantado detalhes sobre o que está a pensar o Governo fazer, o líder do PAN disse ser “inevitável que um aumento de restrições não ocorra”, mas salientou que isso “deve ser visto com uma perspetiva positiva”.
André Silva detalhou que “as escolas estão já excecionadas” dos encerramentos — apesar de os peritos defenderem esta medida –, mas que “há outras atividades económicas e culturais que estão ainda em cima da mesa para definir se vão ou não encerrar” e que, por isso, “é importante que se reforcem os apoios às empresas, nomeadamente ao pequeno comércio”.
Sobre o horizonte temporal a aplicar às medidas que vierem a ser definidas, o líder do PAN adiantou que António Costa deu como referência na reunião “uma primeira fase de 15 dias” e, ao fim desse tempo, “será avaliado o contexto epidemiológico”. “Os números dizem-nos que não atingimos ainda o pico e é precoce estamos a prever cenários”, rematou.
PEV diz que Costa e Marcelo “não se podem esconder atrás de um estado de emergência”
Os Verdes foram o segundo partido a ser ouvido por António Costa esta manhã e saíram deste encontro com alguma “abertura” dada pelo Governo relativamente a certas preocupações demonstradas. “Da parte do Governo houve uma abertura para que houvesse uma ajuda [do Estado] para pagar as contas [de energia] que poderão ser mais elevadas no fim deste mês tão exigente”, disse Mariana Silva, em declarações aos jornalistas.
A deputada esclareceu que uma das propostas apresentadas pelo PEV nesta reunião foi que “a fatura [da luz] de janeiro de 2020 seja um reflexo para janeiro de 2021 e que o resto que seja, de alguma forma, suportado pelo Estado”. Mariana Silva referiu que o partido pressentiu que “o Governo estaria com alguma abertura para pensar numa medida mais eficiente nesta área”.
Sobre as restrições a aplicar nos próximos dias à população, a deputada do PEV referiu que “o Governo e o Presidente da República não se podem esconder atrás de um estado de emergência” e que “as medidas têm de ser concretas, prolongadas no tempo para que os números não oscilem tanto”. Por isso, explicou, “não é um estado de emergência que será a solução”.
Dando poucos detalhes sobre a reunião com António Costa, Mariana Silva disse que o primeiro-ministro referiu foi que “tudo seria na base das medidas que foram aplicadas em março”, mas que “poderá haver algumas dúvidas com barbeiros, cabeleireiros e algum comércio mais essencial”. “Penso que as medidas ainda estão a ser trabalhadas”, acrescentou, notando estar a aguardar pela reunião do Infarmed.
Referindo que o PEV concorda que as escolas se mantenham abertas, a deputada afirmou que “quanto mais restritivas foram as medidas, mais eficazes são”. “Por isso, se as medidas forem muito restritivas, em 15 dias poderemos ver uma diminuição de números. Se forem menos restritivas, poderão ter de se prolongar mais no tempo”, concluiu.
“Portugueses e circunstâncias não são iguais a março”, diz André Ventura
André Ventura afirma, à saída da reunião com o primeiro-ministro, que “está em cima da mesa um novo confinamento geral, idêntico ao de março”. Contudo, salienta que o partido transmitiu a António Costa que “os portugueses e as circunstâncias não são iguais a março”. “Estávamos com uma nova pandemia, as pessoas queriam muito rapidamente resolver o problema, e hoje é um cenário completamente diferente”, justificou.
O líder do Chega notou que “há vários aspetos que separam” o partido do Governo, detalhando que um deles é o “encerramento total da restauração, dos cafés e, eventualmente, do pequeno comércio”. “Pensamos ser demasiado arriscado fazer isto neste momento, e face às condições financeiras que o Estado dispõe, sem termos ainda todos os dados que nos possam dizer que restaurantes, cafés ou o pequeno comércio são focos de contágio reais”.
Aqui, André Ventura disse que o Governo ainda não decidiu o que fazer quanto ao pequeno comércio. Mas que há um ponto certo: “Aquele tipo de atividade que em março ficou aberta, agora mantém-se novamente aberto. Ou seja, vai haver uma regra de equivalência: tudo o que se manteve aberto em março, vai manter-se aberto agora“, explicou. O líder do Chega disse ainda que apelou ao Governo para que os apoios sejam mais fáceis e “menos burocratizados”, dado que as famílias vão precisar de apoios rápidos.
Iniciativa Liberal diz que “não é razoável não adotar medidas de contenção”
“É importante perceber porque é que passados estes meses todos ainda é possível haver este tipo de surpresas”, disse João Cotrim de Figueiredo sobre o aumento do número de casos dos últimos dias, à saída da reunião com António Costa.
O deputado do Iniciativa Liberal referiu aos jornalistas que a conversa que o partido teve com o primeiro-ministro foi, “sobretudo, perguntar sobre os dados que têm em cima da mesa, que têm levado a este sentido de urgência e que justificam um aumento inédito na média dos casos diários”. “Estivemos a tentar conhecer os motivos pelos quais a doença se propaga”, detalhou.
João Cotrim de Figueiredo referiu que, com cerca de 10 mil casos de infeção por dia, “não é razoável não adotar medidas de contenção”. “Mas é particularmente importante conhecer quais as medidas que fazem sentido, quais as que funcionam e baseadas em dados que sejam fiáveis”, sublinhou.
O deputado disse ter feito “mais uma insistência para que as reuniões do Infarmed sejam sobre a apresentação de temas que permitam responder cabalmente à pergunta básica: porque é que a pandemia está em expansão e quais as medidas que mais a combatem?”. E referiu: “Pela primeira vez, nas várias conversas que temos tido sobre esta matéria com o Governo, sentimos que há alguma vontade em aprofundar a origem dos dados”.
As reuniões desta manhã do Governo arrancaram com o PAN, seguindo-se depois o PEV, Chega e Iniciativa Liberal. Falta apenas o encontro com o Bloco de Esquerda.
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(Notícia atualizada às 12h49 com declarações de João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal)
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