BRANDS' CAPITAL VERDE Hidrogénio verde é a solução para levar a descarbonização a todos os setores
Até 2030, o preço do hidrogénio verde cairá brutalmente, ajudando a tornar este gás renovável mais competitivo no mercado a médio prazo, como explica Pedro Amaral Jorge, CEO da APREN.
Por força das alterações climáticas, cada vez mais presentes no dia-a-dia de todos nós, a União Europeia decidiu reduzir, até 2030, pelo menos 55% das emissões de CO2, face a 1990. O grande objetivo é a atingir a neutralidade carbónica no ano de 2050.
O caminho para alcançar este objetivo, na maior parte dos setores da economia, é assegurado por via da eletrificação com base em energias renováveis. E no caso dos setores em que eletrificar não é técnica, económica ou ambientalmente viável? Nesses casos, a solução mais eficaz em termos de custo e impacte é a eletrificação indireta através da utilização do hidrogénio verde (que recorre à eletrólise da água com corrente elétrica obtida a partir de eletricidade renovável).
Quem também defende esta ideia é António Bento, professor catedrático de políticas públicas na University of Southern California. O economista, que participou no webinar sobre a Estratégia Nacional para o Hidrogénio organizado recentemente pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e pela Associação Portuguesa de Promoção do Hidrogénio (AP2H2), estudou o tema e concluiu que o hidrogénio vai tornar-se competitivo no mercado a médio prazo.
"Para atingir o objetivo definido pela União Europeia teremos de reduzir substancialmente as emissões do lado da eletricidade, dos transportes e indústria, desde a cimenteira, à cerâmica passando pela indústria do vidro, o que não será possível sem o hidrogénio.”
Este cenário irá verificar-se, não só por via da evolução tecnológica, mas também pelo aumento do preço da taxa de carbono que tornará mais caro quer o gás natural, quer o hidrogénio obtido a partir do mesmo (hidrogénio cinzento) face ao hidrogénio verde. É verdade que, face à forma como hoje são contabilizados os custos de produção e a falta de economias de escala dos eletrolisadores, o hidrogénio verde não é economicamente competitivo face ao hidrogénio cinzento (utiliza um processo denominado de “conversão de vapor-gás natural”, que usa gás natural como matéria prima) ou hidrogénio azul (é produzido através do mesmo processo que o hidrogénio cinzento, mas usa técnicas de captura e armazenamento de carbono para reduzir as emissões).
No entanto, entre 2020 e 2030, segundo os cálculos do economista, o preço do hidrogénio verde cairá brutalmente, enquanto subirá muito rapidamente o preço do carbono, devendo este último atingir cerca de 80 a 100 euros por tonelada. Mesmo o cenário mais pessimista aponta para que, em 2030, o hidrogénio verde seja já vantajoso, também em termos económicos, face ao cinzento.
"É preciso apostar já no hidrogénio verde dando espaço aos setores para que se ajustem. A inovação tecnológica, as economias de escala e a taxa de carbono farão o resto, viabilizando o hidrogénio verde.”
Para atingir o objetivo definido pela União Europeia teremos de reduzir substancialmente as emissões do lado da eletricidade, dos transportes e indústria, desde a cimenteira, à cerâmica passando pela indústria do vidro, o que não será possível sem o hidrogénio.
O professor António Bento defende, com propriedade, que é preciso apostar já no hidrogénio verde dando espaço aos setores para que se ajustem. A inovação tecnológica, as economias de escala e a taxa de carbono farão o resto, viabilizando o hidrogénio verde.
Fundamental para o sucesso da estratégia é que a procura por parte dos setores a descarbonizar seja estimulada, atingindo-se o grande objetivo de redução de emissões.
Esta é também uma oportunidade para que a indústria portuguesa inove, como já está a fazer, por exemplo, a Caetano Bus, que anunciou recentemente a venda do primeiro autocarro movido a Hidrogénio Verde para o projeto eFarm, um dos maiores projetos de mobilidade a hidrogénio verde na Alemanha
A aposta no hidrogénio verde pode ser uma contribuição para alavancar a indústria nacional enquanto se reforça a aposta nas energias renováveis cumprindo-se o desígnio da descarbonização.
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