Rápida, barata e ecológica, impressão 3D é a solução para criar foguetões, casas ou bifes
De bifes a casas, e até componentes para foguetões, a impressão 3D está a dar cartas. Tecnologia pode revolucionar o paradigma da construção.
A impressão 3D, conhecida como fabrico aditivo, veio revolucionar o paradigma da construção. Atualmente existem impressoras 3D capazes de produzir casas, vegetais frescos, bifes de lombo e até próteses dentárias.
A nível mundial já existem vários exemplos de casas construídas através da impressão 3D. Na Europa, no início do ano, um fabricante italiano de impressoras 3D, a Wasp, juntamente com a empresa Mario Cucinella Architects, imprimiram uma casa ecológica feita a partir de argila e materiais reciclados, em apenas 200 horas. Para concluir este projeto foram usadas várias impressoras 3D sincronizadas para trabalhar em simultâneo, avança o Arch Daily (acesso livre).
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Na Índia, a empresa L&T “imprimiu” uma casa de dois pisos construída em apenas 106 horas. No processo de impressão foi usada argamassa constituída por uma mistura de cimento, areias e argilas locais, como noticia a RTP (acesso livre).
Mas há mais. Vários investigadores estão a desenvolver os primeiros alimentos através do fabrico aditivo. Investigadores de Singapura desenvolveram uma forma de “imprimir” vegetais frescos em 3D mais nutritivos e saborosos, que podem ser usados em doentes com dificuldades em engolir. Descrevem a façanha como “um passo na gastronomia digital”.
Mas o menu tem outras opções. Em Israel, a empresa Aleph Farms Ltd criou o primeiro bife do lombo em impressão 3D. “Este é primeiro bife de lombo sem abate do mundo”, disse a organização em comunicado. A tecnologia consiste em imprimir células vivas que são incubadas para crescer, diferenciarem-se e interagir para adquirir a textura e as qualidades de um verdadeiro bife, avança o Jornal do Brasil (acesso livre).
Existem impressoras 3D para todos os gostos e carteiras. De acordo com o site Impressoras 3D Everything to Create, uma impressora 3D pode custar entre 200 e treze mil euros.
Em Portugal, a impressão 3D é uma realidade, mas o processo não está tão avançado como noutros países. O foco para já é a produção de pequenos componentes. A nível nacional, existem empresas nacionais a produzir peças em 3D, como componentes para foguetões ou brackets. A grande vantagem é a redução da pegada ambiental e o custo de produção. Para o diretor geral da AED Cluster Portugal, Rui Santos, a impressão 3D é o “futuro dos setores”.
“O processo aditivo reduz não só a matéria-prima necessária como tempo de produção, levando a um consumo energético mais reduzido, tornando o processo mais sustentável. Conseguem-se peças com redução de peso de 70%. É uma das variáveis mais importantes tanto para a indústria aeronáutica como para o espaço. Há toda uma mentalidade diferente ao criar uma peça”, explica Rui Santos.
Em Portugal, a impressão 3D está mais disseminada na indústria da aviação
A Active Space Technologies, empresa portuguesa especializada em projetos dedicados ao Espaço, tem alguns projetos em carteira no fabrico aditivo. Apesar do 3D printing não ser o core business da empresa localizada em Coimbra, o business developer da portuguesa, Filipe Castanheira, conta que atualmente fazem brackets – peças metálicas para as mais variadas aplicações.
Outro exemplo é a BBE. Carlos Marto explica, ao ECO, que “têm uma gama de equipamentos que permite executar algum tipo de produtos e serviços para a indústria aeroespacial”. O general manager acrescenta que, nesse âmbito, estão a participar em alguns projetos a nível nacional relacionados com micro lançadores para satélites. “Participamos com maior frequência na execução de peças e componentes metálicos para esses micros lançadores — pequenos foguetões que levam uma carga menor — para lançar pequenos satélites”.
A BBE produz esses componentes para a Omnidea. Esta empresa nacional faz parte do Grupo Omnidea que também inclui Omnidea-RTG, a empresa que forneceu componentes para o satélite de observação da Terra Sentinel-3B, da Agência Espacial Europeia.
Em Portugal, a impressão 3D está mais disseminada na indústria da aviação. “No A355 já existem mais de cinco mil peças a nível de fabrico aditivo”. Em relação ao setor automóvel, a AED acredita no potencial da impressão 3D neste cluster, mas considera que irá acontecer “num futuro mais longínquo”, exemplifica Rui Santos.
Apesar de todo o potencial inerente a esta tecnologia, o diretor geral da AED Cluster, destaca que ainda existem alguns desafios pela frente, nomeadamente no processo construtivo. “É necessário garantir todos os requisitos dimensionais e de fiabilidade. Isso passa pela certificação do processo, de materiais e criação de materiais novos. Tudo isto implica processos de certificação exigentes”, sublinha.
De acordo com o relatório “Despesa Nacional em I&D por área temática da ENEI (2014-2018)”, produzido pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, com base no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional, entre 2014 e 2018, o investimento em I&D na área “Automóvel, aeronáutica e espaço” registou uma média de crescimento anual de 16%.
Para a AED esta inovação pode ser uma oportunidade para Portugal. “Quem aparecer no mercado com essa capacidade de introduzir inovação e com esses processos que exigem muito menos infraestruturas industriais e muito menos investimento, tem aqui um modelo de negócios muito interessante. Portugal pode posicionar-se e apostar neste setor é uma ótima forma de assumir aqui um novo papel”, salienta o diretor geral da plataforma agregadora dos setores da Aeronáutica, Espaço e Defesa.
Fora do contexto aeroespacial, em Portugal a medicina dentária também já está a recorrer à impressão 3D, para produzir modelos dentários, guias cirúrgicas, alinhadores, enceramentos digitais, próteses fixas ou removíveis, como explicou à revista Saúde Oral, o responsável da MaloClinic, Ricardo Martins Almeida.
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