Indústria do cimento estima investir 2 mil milhões para ser neutra em carbono até 2050
Até 2030, esta indústria espera já conseguir reduzir, face aos níveis de 1990, as emissões específicas brutas de CO2 por tonelada em quase metade (-48%) em toda a cadeia de valor.
A meta está traçada: até 2050 o setor cimenteiro nacional quer alcançar a neutralidade carbónica ao longo da sua cadeia de valor. Mais a curto prazo, até ao final da década, esta indústria espera já conseguir reduzir, face aos níveis de 1990, as emissões específicas brutas de CO2 por tonelada em quase metade (-48%) considerando toda a cadeia de valor.
Para isso, as empresas do setor calculam que terão de investir cerca de 490 milhões de euros numa primeira fase, até 2030, aos quais se somará ainda uma verba adicional de 1,5 mil milhões de euros até 2050. No total será um investimento estimado de 1.990 milhões de euros para pôr em prática o Roteiro da Indústria Cimenteira para a Neutralidade Carbónica 2050, apresentado esta semana na presença no ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, e do ministro da Economia, Siza Vieira, durante a conferência “Cimentar o Futuro”, promovida pela ATIC – Associação Técnica da Indústria de Cimento, com as suas associadas Cimpor e Secil.
Na prática, dizem as empresas, este documento traduz o alinhamento da indústria cimenteira nacional com as metas nacionais estabelecidas pelo Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), bem como com os compromissos assumidos por Portugal no contexto europeu e internacional, nomeadamente o Pacto Ecológico Europeu.
A solução passa por soluções tecnológicas inovadoras e sustentáveis, com vista à descarbonização da indústria, e pela “Abordagem 5C” — Clínquer, Cimento, Betão (Concrete), Construção, e (Re) Carbonatação) — que abrange toda a cadeia de valor. “Para cada um destes 5C, identificamos as medidas que nos permitirão alcançar reduções substanciais de CO2, as trajetórias tecnológicas que nos acompanharão nessa jornada, os investimentos que se prevê realizar, bem como as políticas públicas de suporte”, sublinha o Roteiro.
As medidas incluem o uso de combustíveis alternativos, uma maior eficiência energética (térmica), o desenvolvimento de tipos de clínquer de baixo teor em carbono e utilização de mineralizadores, o uso de hidrogénio renovável e eletrificação de alguns processos industriais, tecnologias de captura, utilização e armazenamento de CO2, menos clínquer no cimento, redução do consumo e utilização de energia elétrica neutra em carbono, transportes neutro em carbono, menos cimento no betão e um uso mais eficiente do betão na construção de edifícios e outras estruturas e infraestruturas, sem esquecer a reutilização e reciclagem do betão.
“Este é o compromisso público da indústria cimenteira com projetos concretos definidos com metas a dois tempos: o primeiro com reduções significativas de 48% ao longo de toda a cadeia de valor em 2030 e o segundo atingindo a efetiva neutralidade carbónica em 2050”, assumiu o presidente do Conselho Executivo da ATIC e CEO da Cimpor, Luís Fernandes.
De acordo com as contas da ATIC, entre 1990 e 2017 o setor cimenteiro nacional obteve já uma redução superior a 14% nas emissões específicas de CO2 por tonelada de cimento, considerando a totalidade das emissões de CO2 (de 783 para 673 kg de CO2/tonelada de cimento).
“A indústria do cimento e do betão assumiu o compromisso de ser parte da solução. Para isso precisamos de políticas públicas e reguladoras que garantam uma transição equilibrada. Esta transição não pode ser feita em benefício de uns e à custa de outros. Já vimos na Europa os problemas que tal pode trazer. Portugal não pode prescindir da pouca indústria que ainda tem”, alertou o presidente da Associação, Gonçalo Salazar de Leite.
O roteiro fala ainda em detalhe do hidrogénio verde e de como a indústria do cimento quer ter um papel na Estratégia Nacional do Hidrogénio (EN-H2), através das tecnologias de captura, utilização e armazenamento de CO2 (CCUS). “Parte das emissões estacionárias de CO2 capturado em instalações industriais passa agora a poder ser combinada com o hidrogénio verde, sendo-lhe atribuída uma finalidade. O CCUS torna-se, por isso e a partir de agora, implícito na EN-H2, e passa a ser visto como uma necessidade tecnológica para descarbonizar setores de tão difícil redução como é o caso do setor cimenteiro”, refere o documento.
“Ainda bem que os nossos produtores industriais estão conscientes dos desafios e estão a mobilizar-se para a mudança que é necessária. Este Roteiro para a Neutralidade Carbónica mostra que esta neutralidade é possível: a tecnologia está disponível nalguns níveis de maturidade muito diferenciados. É preciso continuar a fazer esforços ao nível da Investigação e Desenvolvimento, de investimentos em processos produtivos mais eficientes, na dotação do nosso país e de cada indústria em particular de acesso a fontes de energia renováveis, de possibilidades de utilizarmos outro tipo de energias nos próprios processos produtivos na indústria”, disse o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, na apresentação do documento.
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