Que impacto terá o Euro 2020 na economia portuguesa? Pandemia veio baralhar as contas
Daniel Sá, do IPAM, explica ao ECO que a elevada incerteza provocada pela pandemia impede que haja estimativas fiáveis. Mas admite que o impacto na economia será bem menor do que em anos anteriores.
Chama-se Euro 2020, mas vai ser realizado em 2021. A chegada da pandemia de Covid-19 à Europa no início do ano passado impediu a realização da prova futebolística mais importante do Velho Continente, empurrando-a para 2021. Apesar da melhoria da situação epidemiológica e o avanço da vacinação na União Europeia, a incerteza continua elevada, o que impediu o IPAM de ter uma estimativa fiável sobre o impacto positivo do Euro 2020 na economia portuguesa. Mas certamente será menor do que em edições anteriores.
É a primeira vez desde 2012 que o Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) não divulgará uma estimativa prévia do impacto económico de um Europeu de Futebol. “É uma decisão inédita”, confessa ao ECO Daniel Sá, diretor executivo IPAM que coordenou os estudos de edições anteriores, explicando que “o grau de incerteza é tanto que íamos ficar com um intervalo demasiado grande e com pouca fiabilidade“. Ainda assim, o especialista em marketing desportivo admite que o impacto “será sempre inferior porque na prática quase todas as variáveis descem”.
Daniel Sá detalha o porquê de ser difícil calcular o impacto económico do Euro 2020, o qual numa situação normal até poderia suscitar mais atividade económica pelo interesse acrescido de Portugal defender o título conquistado em 2016. Desde logo, os jogos serão repartidos por várias cidades e países, o que dificulta as contas, apesar de não ser esse o “problema central”. A principal dúvida está nas duas “grandes fatias” do impacto económico da prova futebolística na economia nacional: os portugueses que se deslocavam para ir ver o jogo e a forma como os jogos são vistos em território nacional.
"O grau de incerteza é tanto que íamos ficar com um intervalo demasiado grande e com pouca fiabilidade.”
No primeiro caso, a incerteza é grande por causa das limitações das viagens, seja pela necessidade de teste PCR (o que aumenta o custo da deslocação) seja por apenas a 1 de julho entrar em vigor do certificado digital Covid-19 (que pretende facilitar as viagens) ao nível da União Europeia; e ainda pelo risco de os jogos não se realizarem no local para onde estão planeados, alerta o especialista. Daniel Sá revela que em edições anteriores havia cerca de 15 a 20 mil portugueses a deslocarem-se ao exterior para ver os jogos da seleção nacional, “por vezes 30 mil pessoas”, números que não deverão repetir-se este ano.
No segundo caso, tudo depende das regras em vigor e da perceção do risco em função da evolução da situação epidemiológica. Normalmente, os portugueses enchem a casa para ver os jogos ou vão para a rua em esplanadas, cafés e centros de fãs. Com o país desconfinado a diferentes velocidades — Lisboa, Braga, Odemira e Vale de Cambra ficaram estagnados no desconfinamento — e as limitações a 10 pessoas nas esplanadas e seis dentro dos estabelecimentos, é provável que o consumo associado à visualização dos jogos não se aproxime ao de anos anteriores. “A audiência televisiva até pode aumentar [por cada um estar na sua casa em vez de em conjunto], mas o consumo tenderá a diminuir“, diz Daniel Sá.
Há ainda outros fatores mais secundários como é o caso das vendas de merchandising, “que não estão no mesmo patamar”, o investimento das marcas que patrocinam o futebol — onde admite uma estabilização apesar de “ser difícil de estimar” — e o mercado de apostas onde “até pode subir” como se tem verificado desde o primeiro confinamento. Porém, “combinando o bolo todo, haverá uma descida“, admite.
Assim, o impacto económico positivo em Portugal deverá ficar significativamente aquém dos 609 milhões de euros no Euro 2016 (em que Portugal foi vencedor) e os 420 milhões no Euro 2012 (Portugal foi até às meias-finais), ambas estimativas prévias ao evento feitas na altura pelo IPAM.
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