Portugueses pouparam mais 9,5 mil milhões desde o início da pandemia
Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os portugueses pouparam mais 9,5 mil milhões de euros, face ao que seria comum num ano normal, desde o início da pandemia.
Cerca de 5% do PIB. Foi o quanto os portugueses pouparam durante o último ano em que tiveram de se adaptar à nova realidade restringida pela pandemia. No total, houve um acréscimo de 9,5 mil milhões de euros de poupança face ao que seria comum num ano sem pandemia, de acordo com os cálculos do ECO com base nos números divulgados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
A poupança bruta dos portugueses entre o segundo trimestre de 2020 (a pandemia chegou no final do primeiro trimestre a Portugal) e o primeiro trimestre de 2021 totalizou 21,2 mil milhões de euros. Este valor compara com 11,6 mil milhões de euros que os portugueses tinham poupado entre o segundo trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020, antes da pandemia e com a economia a crescer. Sem margem para dúvidas, os trimestres com maior poupança por parte dos portugueses são o segundo trimestre por causa do subsídio de férias de junho e o quarto trimestre por causa do subsídio de natal, uma tendência que também se manteve durante o último ano.
Assumindo que na ausência de pandemia a poupança iria ser semelhante ou ligeiramente superior, pode-se concluir que os portugueses pouparam quase o dobro por causa da Covid-19 em comparação com um cenário sem vírus. Tal como explica o gabinete de estatísticas, o principal contributo para esse aumento vem da queda do consumo privado que é provocado pelas restrições à mobilidade para conter o número de casos e internamentos.
Mas esta evolução da poupança só é possível também porque o rendimento disponível dos portugueses manteve-se praticamente estabilizado (ou até subido ligeiramente em 2020), ao contrário do que aconteceu em crises anteriores em que a queda do rendimento disponível levou a uma contração simultânea do consumo e da poupança.
Os dados do INE mostram que chegou aos 148,6 mil milhões de euros no ano terminado no primeiro trimestre de 2021, ligeiramente acima dos 148,3 mil milhões de euros do ano terminado no primeiro trimestre de 2020. Contudo, é de assinalar que este é o valor agregado, o qual esconde realidades muito diferentes consoante o setor da economia, faixa etária ou classe social.
Esta evolução do rendimento disponível e da poupança bruta permitiram um aumento da taxa de poupança para um máximo de 14,2%, coincidindo com um trimestre em que o país esteve novamente confinado de forma mais restritiva. Desde pelo menos 1999, o primeiro ano para o qual há dados do INE, que os portugueses não poupavam tanto do seu rendimento disponível (quase um sexto do total). A taxa mais elevada até ao momento tinha sido registada no terceiro trimestre de 2002 (13,8%), altura da introdução do euro.
Ainda assim, apesar de atingirem um valor máximo, os portugueses continuam a poupar uma percentagem mais baixa do seu rendimento do que os europeus. Segundo os dados do Eurostat, os cidadãos da Zona Euro pouparam em média 20% do seu rendimento disponível no quarto trimestre do ano passado.
Taxa de poupança em máximos históricos
Na semana passada, o Banco de Portugal revelou um cálculo que aponta para um acréscimo de poupança, de certa forma “forçada” pela pandemia, de 17,5 mil milhões entre 2019 e 2023 face ao cenário pré-pandemia. Este é um fator que pode impulsionar o crescimento económico, mas só se esta “poupança adicional” se traduzir em consumo no futuro.
Esta é “uma almofada de crescimento se e quando as decisões das famílias face a esta poupança se traduzirem em aumentos do consumo”, assinalou Mário Centeno na conferência de imprensa do boletim económico de junho, notando que a propensão para transformar a riqueza em consumo é menor do que para gastar o rendimento corrente.
No boletim “assume-se que a poupança acumulada pelas famílias durante a pandemia se traduz, em termos agregados, num aumento persistente da riqueza”, ou seja, não se transforma em consumo. “As características dos principais aforradores – de rendimentos mais elevados e com menor propensão ao consumo – suportam esta hipótese“, argumentam os economistas do banco central. No entanto, “não pode ser excluída a possibilidade de uma parcela destes recursos ser canalizada para consumo”, admitem.
A taxa de poupança das famílias mede a parte do rendimento disponível que não é utilizado em consumo final, sendo calculada através do rácio entre a poupança bruta e o rendimento disponível (inclui ajustamento pela variação da participação líquida das famílias nos fundos de pensões).
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