O canto do Bode. E a Comporta como lugar de cultura
Uma exposição colaborativa na Casa da Cultura da Comporta com obras de 32 artistas é um bom motivo para visitar a vila, até 29 de agosto.
Há algo de teatral n’ O Canto do Bode. Uma exposição a dois atos, que acaba de inaugurar o primeiro deles com 22 obras expostas no antigo cinema da histórica Casa da Cultura da Comporta, que se converteu numa galeria pop-up, mantendo, por exemplo, as cadeiras antigas entre todo o espaço aberto à memória.
Não fosse o nome desta exposição colaborativa de três galerias brasileiras de gerações diferentes — a Fortes D’Aloia & Gabriel, a Galeria Luisa Strina e a Sé, já por si teatral (o título faz referência ao termo grego “tragoedia” de tragos (bode) e oidé (canto); às obras dos primeiros 19 artistas, junta-se um Palco, uma estrutura do artista João Maria Gusmão, criando uma narrativa que se desdobra em simultâneo entre plateia, palco e bastidores. O Canto do Bode é também uma celebração da tradição brasileira de sacralização do profano e profanação do sagrado, desconstruindo a dicotomia entre o dionisíaco e o apolíneo.
“Estamos quase lá”, o Neon de 2021 dos Manata Laudares destaca-se numa das paredes. Talvez porque venha cheio de possibilidades: estamos quase no fim da pandemia é a primeira questão que me assola; ou estamos quase a chegar ao ponto em que a arte pode sair dos grandes centros urbanos e instalar-se num lugar como este. Como explicou durante a visita inaugural Maria Ana Pimenta, diretora internacional da Fortes D’Aloia & Gabriel, a exposição sugere a construção de novos modelos de atuação num contexto inédito no circuito das artes.
“Esta exposição parte de uma vontade que tínhamos há algum tempo que a pandemia acelerou, que é de procurar novos modelos operacionais, novas formas de atuação dentro do circuito, fora do ciclo de feiras muitas seguidas por ano. Interessa-nos encontrar formas de colaborar com colegas nossos, encontrar novas formas de diálogo e decidimos fazer aqui na Comporta porque surgiu esta possibilidade achámos que fazia sentido por puder fazer num espaço diferente com ritmo diferente, sentimos que havia um publico que poderia responder bem a uma exposição como esta”, explica Maria Ana Pimenta.
Depois de um ano difícil com a Pandemia, “foi muito bom perspetivar um evento físico, criar este diálogo entre artistas de gerações distintas, podermos todos experienciar esta exposição onde tentámos brincar com a natureza do espaço”, acrescenta a diretora internacional da Fortes D’Aloia & Gabriel.
Neste primeiro ato inaugurado, há artistas como Luiz Zerbini um artista brasileiro com um trabalho experimental na pintura; Panmela Castro com duas telas retrato onde se nota o seu papel ativista no tema da mulher; o venezuelano Sheroanawe Hakihiiwe que resgata as tradições orais através de diferentes simbologias, entre muitos outros. Artistas portugueses, brasileiros, venezuelanos, entre outros, para visitar e conhecer até final de agosto na Comporta.
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