Exclusivo Novo Banco vende dívidas do Grupo Lena e da Urbanos de Alfredo Casimiro
Banco continua a ter de reduzir malparado para cumprir exigências europeias. Pôs à venda carteira de malparado de grandes devedores, onde constarão o Grupo Lena e ainda a Urbanos, de Alfredo Casimiro.
O Novo Banco colocou recentemente à venda uma carteira de crédito malparado de grandes devedores no valor de 640 milhões de euros. O perímetro ainda não está fechado e pode ser alterado (com a inclusão ou exclusão de créditos) até final deste processo, como tem sido habitual nestas operações. Ainda assim, para já, entre as duas dezenas single names que fazem parte chamado “Projeto Harvey” constam dois nomes mais conhecidos: o Grupo Lena e a Urbanos, de Alfredo Casimiro, segundo as informações recolhidas pelo ECO.
Ao ECO, o banco liderado por António Ramalho não comenta a operação, pois diz que está sujeito a deveres de confidencialidade. Em todo o caso, lembra que, “tal como os restantes bancos que estão no mercado, o Novo Banco está a aproveitar uma oportunidade e apetência do mercado por este tipo de NPL”. Também a Caixa Geral de Depósitos (CGD), Santander Totta e BCP têm carteiras no mercado.
Além disso, o Novo Banco apresenta ainda um rácio de malparado superior a 7%, apesar do esforço realizado nos últimos anos para limpar o legado do BES — chegou a ter 33% de rácio de NPL. Continua a ter de reduzir a exposição a ativos tóxicos para atingir um rácio de 5%, em linha com as exigências europeias.
Depois de anos de prejuízos — provocados em grande parte por estes ativos –, o Novo Banco quer agora virar a página e aponta para lucros sustentados a partir deste ano. Para já, chegou ao primeiro trimestre com 70 milhões de resultados e deve apresentar as contas igualmente positivas no semestre brevemente.
Grupo Lena lidera carteira
O processo “Projeto Harvey” ainda está no seu início. O Novo Banco esteve a contactar potenciais interessados para um processo competitivo de venda — com o banco a esperar um resultado positivo com esta operação.
Das informações que chegaram ao mercado foi possível perceber que construtora da família Barroca Rodrigues será mesmo a maior devedora que integra esta carteira de NPL, com um crédito em incumprimento de cerca de 180 milhões de euros (valor contabilístico bruto, isto é, exclui imparidades que o banco já registou para este financiamento).
Ao avançar para a venda em pacote, isto significará que o Fundo de Resolução terá recusado uma proposta que chegou ao Novo Banco para vender a dívida a gestores do grupo de Leiria, que tinham apresentado uma oferta de compra de créditos também aos outros dois bancos credores: Caixa e BCP. Foi o diretor de recuperação de créditos de empresas do Novo Banco, Daniel Santos, que revelou a existência desta proposta na comissão de inquérito no Parlamento.
O responsável indicou mesmo que o BCP já teria vendido o crédito, mas a Caixa não, enquanto o Novo Banco se encontrava a aguardar por uma autorização do Fundo de Resolução para também vender.
Aos deputados, Daniel Santos argumentou que uma execução judicial da construtora seria menos favorável, pois o banco recuperaria apenas dois a três milhões de euros.
Urbanos com crédito tóxico de nove milhões
Em relação à Urbanos, de Alfredo Casimiro, que tem estado no centro das atenções por causa da crise na sua Groundforce, trata-se de um crédito tóxico de cerca de nove milhões de euros (valor bruto) que poderá agora ser vendido neste pacote. A carteira ainda pode sofrer ajustamentos, como aconteceu no Nata 2, de resto, quando o Fundo de Resolução exigiu a retirada de alguns grandes devedores da carteira vendida à Davidson Kempner.
Em 2016, o Novo Banco já surgia como maior credor da empresa de logística e transportes, que havia então recorrido a um Processo Especial de Revitalização (PER) para ultrapassar as dificuldades, apresentando uma dívida global de 44 milhões de euros. O PER acabou chumbado.
Alfredo Casimiro detém 50,1% da Groundforce, por via da Pasogal (os outros 49,9% pertencem ao grupo TAP). A empresa de handling está no meio de um caos, atravessa dificuldades por causa da pandemia, tem salários em atraso aos trabalhadores e está em vias de sair das mãos de Alfredo Casimiro.
A posição detida pela Pasogal está sob quatro penhoras (três no Montepio e uma no Novo Banco) e, após ter entrado em incumprimento, foi alvo de uma execução extrajudicial por parte do Banco Montepio, que contratou o Bison Bank para vender. E já haverá interessados.
Com a TAP a saldar os vencimentos em atraso e os subsídios férias, e com a garantia do Governo de que a indefinição na estrutura acionista da empresa de handling vai ser resolvida brevemente, alguns sindicatos da Groundforce aceitaram esta quinta-feira desconvocar a greve que estava marcada para o fim do mês e início de agosto, depois do protesto do anterior fim de semana ter levado ao cancelamento de mais de 600 voos.
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