Moody’s sobe rating de Portugal
A agência passou a dívida portuguesa de uma notação de Baa3 para Baa2, com outlook "estável".
Mais de dois anos depois, a Moody’s mudou finalmente o rating de Portugal, passando para o nível de investimento Baa2. O outlook passa de “positivo” para “estável”, refere a agência, em comunicado publicado esta sexta-feira.
A Moody’s elevou o rating da dívida nacional de Baa3 para Baa2, enquanto a perspetiva passa de “positiva” para “estável”, refere a agência financeira. Para esta mudança de avaliação, a Moody’s elenca algumas razões, entre as quais a “expectativa de que Portugal verá melhorias nas suas perspetivas de crescimento a longo prazo devido à utilização dos fundos Next Generation EU e à implementação de reformas estruturais”.
A agência está confiante que “a peso da dívida de Portugal diminuirá nos próximos anos devido a um crescimento económico mais forte e à maior eficácia da formulação de políticas orçamentais”, lê-se.
Esta perspetiva “estável” “equilibra as fortes instituições e governação de Portugal, uma economia relativamente diversificada e níveis de riqueza elevados em comparação com os pares [avaliados em] Baa2, contra desequilíbrios macroeconómicos persistentes que incluem elevado endividamento do setor privado e público e uma posição de investimento internacional negativa, bem como fraquezas persistentes no setor bancário”.
A agência afirma que “a economia portuguesa está a experimentar uma recuperação robusta da recessão pandémica, apesar dos desafios em curso no setor do turismo”. Além disso, nota que “os níveis de emprego se normalizaram, o que está a apoiar o consumo privado, enquanto recuperações mais fortes nos principais mercados de exportação estão a apoiar uma recuperação nas exportações de bens”.
Este ano, a Moody’s “acredita que o rácio da dívida de Portugal tenha começado um declínio constante”, esperando que “essa tendência continue no futuro”. “Em 2021, projetamos que o rácio da dívida atinja 127% do PIB, abaixo dos 133,6% do PIB registados em 2020“, lê-se. Já em 2024, “esperamos que o aumento da dívida relacionado com a pandemia tenha sido totalmente eliminado”. Essa redução da dívida será impulsionada por “fortes taxas de crescimento económico, défice em queda e custos de financiamento favoráveis”.
“Portugal tem um historial relativamente bom de absorção de fundos da UE”
Olhando para além de 2021, a agência de rating antecipa que “os fundos Next Generation EU serão um apoio importante ao crescimento de médio prazo”, esperando, assim, “que as taxas de crescimento ultrapassem as médias da Zona Euro e de Portugal antes da pandemia”. A Moody’s estima que o crescimento real do PIB será 0,7 pontos percentuais maior, em média, entre 2021 e 2025.
A Moody’s afirma que “será um desafio para Portugal absorver de forma eficaz os fundos” Next Generation EU, mas também os fundos estruturais da União Europeia. “No entanto, Portugal tem um historial relativamente bom de absorção de fundos da UE, o que nos deixa confiantes de que o Governo será capaz de cumprir o seu plano de investimento“, lê-se. Em percentagem do PIB, Portugal é o sexto maior beneficiário destes fundos europeus. As garantias e empréstimos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) equivalem a 8,2% do PIB de 2020, avança a Moody’s, antes de equiparar este valor a “cinco anos de investimento público”.
Além disso, o Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PRR) “também aborda alguns dos principais desafios estruturais do país, que também tem potencial para aumentar o potencial de crescimento”. A Moody’s afirma que “o maior impacto no crescimento provavelmente virá da melhoria da base de qualificação da força de trabalho, digitalização e do acesso à habitação“.
“Desequilíbrios macroeconómicos” são “os principais pontos fracos” de Portugal
Já quanto à revisão da perspetiva, de “positivo” para “estável”, a Moody’s justifica com os “riscos equilibrados no nível de rating Baa2″. E explica. “Por um lado, a diversificação da economia, riqueza elevada e instituições fortes fornecem uma capacidade significativa de absorção de choques em comparação com [países] soberanos com classificação Baa2”, lê-se. “Portugal também se destaca pela rapidez com que vai desfazer o aumento da dívida devido à pandemia”, refere a agência.
Por outro lado, “os desequilíbrios macroeconómicos em curso, incluindo uma economia altamente alavancada e uma posição de investimento internacional negativa, são os principais pontos fracos” de Portugal. “Os elevados níveis de endividamento das empresas limitam a capacidade de investimento de uma parte considerável das empresas nacionais que se concentram na desalavancagem”.
A Moody’s refere que “Portugal ainda tem altos níveis de dívida pública, o que limita o espaço orçamental do governo para suportar choques”. Antecipa ainda que o Executivo português “continuará a enfrentar pressões políticas para aumentar os gastos –, particularmente com saúde e salários do setor público nos próximos anos”. Contudo, a agência não espera “que isso vá prejudicar os planos de redução do défice e da dívida”.
Por fim, “apesar do menor risco de passivo contingente (…) decorrente da reestruturação dos maiores bancos, a rentabilidade do setor bancário continua fraca e os elevados empréstimos inadimplentes — que devem começar a subir novamente em 2021 — continuarão a pesar sobre a capacidade de contribuir para o potencial de crescimento da economia”.
Leão diz que avaliação “dá sinal muito forte sobre estratégia económica e orçamental” do Governo
“A melhoria hoje anunciada acontece num contexto de crise, após um ano e meio de pandemia, o dá um sinal muito forte sobre a estratégia económica e orçamental que o Governo adotou até aqui e também de confiança na capacidade que o país tem de recuperar da crise pandémica“, refere o ministro das Finanças, citado em comunicado, reagindo à avaliação da Moody’s. A mesma reação pode ser lida no Twitter do Ministério das Finanças.
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Esta decisão “contribui para reforçar ainda mais a confiança dos investidores e a credibilidade externa de Portugal, com impacto direto nos custos de financiamento das famílias, das empresas e do Estado”, acrescenta João Leão, referindo que já este ano, o Governo estima “pagar menos cerca de 3 mil milhões de euros de juros do que em 2015”, um “resultado que se deve em muito ao rigor e responsabilidade orçamental dos últimos seis anos”.
No início de julho, a Moody’s pronunciou-se sobre a bazuca europeia, considerando ser uma “oportunidade considerável” para os países mais endividados baixarem as suas dívidas públicas. O impacto que o financiamento dos fundos Next Generation EU poderá ter no futuro destas economias “oferece uma oportunidade considerável a este respeito, aumentando o investimento público e promovendo reformas económicas estruturais”.
Portugal continua a ser visto como investimento de qualidade pela Moody’s, tal como pelas restantes agências de rating. A Standard&Poor’s e a DBRS também decidiram não mexer na avaliação que fazem à dívida portuguesa. A Fitch é a próxima agência a pronunciar-se, a 12 de novembro. Do lado do ministro das Finanças há a “ambição que depois da Moody’s, outras agências subam o rating, permitindo melhores condições de financiamento para a República, por forma reduzir os encargos do país e aumentar os ganhos para todos os portugueses”.
(Notícia atualizada às 22h30 com mais informação)
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