Retirada do Afeganistão faz segunda baixa no governo holandês
Um dia depois da ministra dos Negócios Estrangeiros deixar o executivo, também a ministra da Defesa se demitiu esta sexta-feira após criticas pela gestão da saída do Afeganistão.
A ministra da Defesa holandesa, Ank Bijleveld, anunciou esta sexta-feira a sua demissão, após a gestão caótica da retirada de civis do Afeganistão, seguindo as passadas da titular dos Negócios Estrangeiros, Sigrid Kaag, que se demitiu na quinta-feira.
“Informei o meu partido e o primeiro-ministro [Mark Rutte] de que vou pedir ao rei para aceitar a minha demissão”, declarou Ank Bijleveld, um dia após a aprovação pelo parlamento de uma moção de reprovação criticando o Governo por não ter conseguido retirar do Afeganistão cidadãos afegãos que trabalharam com as tropas holandesas e não ter prestado atenção aos sinais que faziam prever uma tomada rápida do poder pelos talibãs, depois de o parlamento ter instado, inclusive desde o ano passado, à retirada desses civis do país.
A ministra demissionária assegurou também, em declarações à imprensa, não querer “atrapalhar o importante trabalho” dos seus colegas que estão ainda a tentar retirar pessoas de território afegão.
“Não vou esconder que me surpreenderam as consequências do debate parlamentar. Queria continuar o meu trabalho, pelos homens e mulheres na linha da frente e os intérpretes que ainda estão no Afeganistão, mas a minha permanência está sujeita a debate, pelo que já não posso fazer o meu trabalho de forma correta”, explicou Bijleveld.
Antes mesmo de uma maioria parlamentar apoiar, na quinta-feira, a moção de reprovação das duas ministras, a titular da Defesa anunciou que permaneceria no cargo fosse qual fosse o resultado da votação, porque a sua “prioridade é pôr a salvo os intérpretes que ainda estão retidos no Afeganistão” e cujo número ronda uma vintena.
Mas quando a moção foi votada – ao contrário de uma moção de censura, a de reprovação não implica necessariamente a demissão de governantes – e a ministra permaneceu em funções, a sua formação política, o Partido Democrata-Cristão (CDA) mostrou-se desconcertado com a decisão, que contrastava com a demissão imediata da titular da pasta dos Negócios Estrangeiros.
Sigrid Kaag demitiu-se na quinta-feira, depois de ter sido também ela criticada pelo parlamento pela incapacidade do Governo para retirar do Afeganistão alguns funcionários locais e intérpretes que trabalharam com as tropas holandesas no terreno e por não se ter apercebido dos sinais de uma tomada iminente do poder pelos talibãs.
Kaag defendeu a sua gestão da crise, mas admitiu que o executivo tinha “ângulos mortos” sobre a situação no Afeganistão, que a Holanda partilhava com outros países.
As duas ministras holandesas estão entre os primeiros responsáveis ocidentais a demitir-se e a assumir uma responsabilidade no caos que reinou entre a tomada de Cabul pelos talibãs, a 15 de agosto, e a retirada das forças norte-americanas e dos aliados europeus, no fim de agosto.
O impacto da sua demissão no sistema político holandês deverá, contudo, ser limitado, já que faziam parte de um Governo interino, que está no poder apenas enquanto o país aguarda que terminem as negociações em curso para a formação de uma nova coligação governamental, após as legislativas de 17 de março.
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