Alemanha quer preço para o carbono, França pede mais ambição e Espanha dá mais dinheiro
Angela Merkel salientou que acabar com o uso de combustíveis fósseis como o carvão para produção de energia não depende apenas da ação dos governos.
A chanceler alemã defendeu na abertura da COP26, na Escócia, que fixar um preço para as emissões de dióxido de carbono é a melhor maneira de garantir que as indústrias e atividades económicas se empenham em atingir a neutralidade carbónica.
Angela Merkel falava na Cimeira de Líderes Mundiais no âmbito da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).
“Apelo a que se coloque um preço nas emissões de dióxido de carbono, como já fazemos na União Europeia, como a China pretende fazer e como precisamos de aplicar noutros países do mundo. Se o fizermos, podemos garantir que as nossas indústrias, as nossas atividades económicas desenvolvem as melhores tecnologias e métodos para atingirem a neutralidade carbónica”, declarou a chefe do Governo alemão.
Angela Merkel salientou que acabar com o uso de combustíveis fósseis como o carvão para produção de energia não depende apenas da ação dos governos.
É preciso, advogou, “mudar a maneira de fazer negócios” e caminhar para uma “transformação abrangente” que encoraje a passagem para “mobilidade e processos industriais sem emissões carbónicas”.
A chanceler considerou que se está numa “década decisiva” para esta taxação das emissões, defendendo “mais ambição no desenvolvimento de instrumentos globais que façam sentido economicamente e não sirvam apenas para gastar o dinheiro dos contribuintes”.
Angela Merkel assumiu que os países signatários do Acordo de Paris de 2015, que visa limitar o aquecimento global até final do século, não estão “onde precisam de estar nem onde precisam de chegar”.
“As contribuições determinadas nacionalmente não nos colocam onde concordámos estar em Paris e a comunidade internacional espera de nós que estejamos em melhores condições” no fim da cimeira que decorre até 12 de novembro, frisou.
“Estamos obrigados e podemos aplicar o Acordo de Paris”, considerou, defendendo que as metas de neutralidade carbono têm que ser definidas para meados do século, não para o fim.
Os países mais desenvolvidos, referiu, têm “uma responsabilidade especial” em fazer com que isso aconteça, frisou, indicando que entre as metas definidas pelo seu país estão uma redução de 65% até 2030 nas emissões de gases com efeito de estufa em relação aos níveis de 1990 e a neutralidade carbónica em 2045.
Macron pede mais ambição nos próximos 15 dias aos “maiores emissores” de CO2
O Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu mais ambição aos países “maiores emissores” de dióxido de carbono, durante a cimeira da ONU sobre o clima (COP26) que decorre até 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.
“A chave para os próximos 15 dias, aqui na COP, é que os maiores emissores, cujas estratégias nacionais não estão em linha com a nossa meta de 1,5 graus, aumentem as suas ambições nos próximos 15 dias. É a única forma de tornarmos a nossa estratégia mais credível”, afirmou o chefe de Estado francês na sessão plenária da Cimeira de Líderes Mundiais da 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26).
Macron pediu àqueles países que “elevem a sua ambição nos próximos 15 dias”, numa alusão à Rússia e à China, que estão ausentes em Glasgow, embora esteja prevista uma declaração escrita do líder chinês, Xi Jinping.
Na sua intervenção, o Presidente francês pediu igualmente que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) verifique que as transferências dos países mais industrializados para mitigar as alterações climáticas nos países em desenvolvimento cheguem realmente ao seu destino.
“Os países de África, do Pacífico, das Caraíbas e da América Latina e América do Sul que mais precisam não são os que recebem a maioria desse financiamento, nós sabemos”, acusou, sugerindo que a OCDE deve produzir um relatório anual “em plena transparência” sobre a utilização de cem mil milhões de dólares que os países desenvolvidos se comprometeram a entregar entre 2020 e 2025.
Segundo a OCDE, apenas 79,6 mil milhões de dólares foram reunidos no âmbito deste compromisso internacional, e Macron deixou a mensagem aos seus pares de que a França e a União Europeia “estiveram ao nível dos seus compromissos e até um pouco mais acima”.
O Presidente francês defendeu que “todos os países desenvolvidos devem contribuir, na sua justa medida, porque a liderança exige exemplo”, e referiu que “os três eixos essenciais” que permitiram o Acordo de Paris em 2015 foram “a ambição, a solidariedade e a confiança”.
“Sabemos que nossa meta é de 1,5 graus até ao final do século”, afirmou, advertindo que o mundo caminha, porém, para um aumento de 2,7 graus no final do século em relação aos valores pré-industriais e os anúncios feitos em vésperas da COP26 “começam a reduzir essa lacuna”, mas não a fechá-la”.
Aumentar os compromissos e acelerá-los para reduzir as emissões de CO2 em 2030 “é a única maneira de tornar credível” a meta de 1,5 graus, disse ainda.
Espanha anuncia 1.350 milhões de euros para Fundo Verde para o Clima
O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou um aumento da contribuição de Espanha de 50% a partir de 2025 para o Fundo Verde para o Clima, correspondendo a 1.350 milhões de euros anuais.
Sánchez foi o primeiro dirigente a discursar na sessão plenária da Cimeira de Líderes Mundiais, inserida na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), na qualidade de país anfitrião da anterior COP, que decorreu em 2019 em Madrid.
O Fundo Verde para o Clima é um instrumento financeiro que reúne os países mais industrializados para ajudar os países em desenvolvimento a tomar medidas contra as alterações climáticas, com o compromisso internacional de ser dotado com cem mil milhões de dólares (cerca de 86 mil milhões de euros).
Dirigindo-se aos líderes mundiais, o chefe do Governo espanhol pediu à comunidade internacional mais ambição para travar as alterações climáticas, considerando que o objetivo orçamental do Fundo é uma das “provas de fogo” desta cimeira.
“Espanha fará a sua parte. Comprometemo-nos a aumentar o financiamento climático para chegar a 2025 com um aumento de 50% do nosso compromisso atual”, indicou.
Pedro Sánchez recordou também, à semelhança do que já tinha feito na cimeira do G20 em Roma, que Espanha destinará 20% dos seus direitos especiais de saque a países vulneráveis, o que implica um mínimo de 350 milhões de euros.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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