Portugal está a transformar-se num país de salários mínimos
Estudo do economista Eugénio Rosa conclui que salário mínimo nacional, atualmente de 665 euros, representa uma proporção cada vez maior do salário médio, tendo já atingido 67,3% da remuneração média.
A remuneração média nacional aumentará 10,1% entre 2015 e 2022, ao mesmo tempo que o salário mínimo subirá 39,6%, fazendo com que Portugal se transforme “num país de salários mínimos”, conclui o economista Eugénio Rosa.
Entre 2015 e 2022, segundo dados do Ministério do Trabalho citados no estudo do economista divulgado esta segunda-feira, o salário médio aumentará 96 euros, para 1.048 euros, enquanto o salário mínimo nacional subirá 200 euros, para 705 euros (segundo a intenção manifestada pelo Governo).
A “distorção salarial”, como lhe chama o economista, está a determinar que o salário mínimo nacional (atualmente de 665 euros) represente uma proporção cada vez maior do salário médio, tendo já atingido 67,3% da remuneração média.
“Este facto está a transformar Portugal num país de salários mínimos, pois um número cada vez maior de trabalhadores recebe apenas aquele salário”, afirma o economista consultor da CGTP.
Segundo Eugénio Rosa, “tem-se assistido nos últimos anos a uma grande preocupação política em aumentar o salário mínimo nacional, descurando a atualização dos salários dos trabalhadores mais qualificados, o que está a provocar fortes distorções salariais no país e a transformar Portugal num país em que cada vez mais trabalhadores recebem apenas o salário mínimo ou uma remuneração muito próxima”.
A situação na Administração Pública, cujas remunerações estão praticamente congeladas desde 2009, “é dramática, sendo quase impossível a contratação de trabalhadores altamente qualificados e com as competências que necessita”, salienta o economista.
No estudo, Eugénio Rosa refere que no site do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) estão 156 ofertas de emprego para engenheiros civis, eletrotécnicos, mecânicos, agrónomos, entre outros, “cujos salários oferecidos, na sua esmagadora maioria, variam entre 760 euros e 1.000 euros brutos”, ou seja, antes dos descontos para o IRS e para a Segurança Social.
“Como é que o país assim pode reter quadros qualificados?”, questiona o economista, sublinhando que sem trabalhadores altamente qualificados o crescimento económico e desenvolvimento do país serão impossíveis.
Além disso, continua, “o país despende uma parte importante dos seus recursos em formar nas universidades jovens altamente qualificados que depois o abandonam e vão contribuir para o desenvolvimento de outros países, porque não encontram no seu país remunerações e condições de trabalho dignas”.
Eugénio Rosa considera que “o que está a suceder no SNS [Serviço Nacional de Saúde] devia abrir os olhos aos políticos”, com médicos e enfermeiros “a trocar o SNS pelos grandes grupos privados de saúde, que os atraem oferecendo melhores remunerações e condições de trabalho”.
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