Israelitas “graduam” investimento na produção de lentes em Vila do Conde
A Shamir vai aumentar a capacidade no fabrico de lentes para óculos graduados e montar nova unidade para tratamentos antirreflexo em Portugal, onde emprega 300 pessoas e fatura 50 milhões de euros.
É numa pequena freguesia do concelho de Vila do Conde que a gigante israelita Shamir produz lentes oftálmicas para óculos graduados, sendo o core business as progressivas, que representam 80% da produção. Sob receita, todos os dias saem dez mil lentes da fábrica portuguesa, onde trabalham quase 300 pessoas e que vai beneficiar de um aumento de capacidade em 2022, num investimento total próximo dos cinco milhões de euros.
Luís Feijó, presidente executivo da Shamir em Portugal, adiantou ao ECO que o grupo vai substituir duas linhas de produção mais antigas e adicionar uma outra de raiz – passa a somar uma dezena –, o que vai permitir fabricar diariamente mais perto de 1.300 lentes. O gestor contava ter a unidade industrial renovada no início do próximo ano, mas devido à falta de componentes eletrónicos no mercado, essas novas máquinas apenas devem chegar no segundo trimestre.
Ainda nas instalações de Vilar, que no ano passado foram ampliadas com uma nova área de armazém com 1.150 metros quadrados – funciona também como centro logístico para abastecer outros laboratórios e distribuidores na Europa –, o grupo fundado em 1972 vai investir num sistema para escoar e compactar os desperdícios das máquinas, construir um centro de formação e também mudar uma parte do telhado para acrescentar uma nova ala de painéis solares.
Com orçamento já aprovado e um prazo de conclusão previsto até março de 2022, a Shamir vai avançar igualmente com uma nova unidade de produção em série, que ficará situada a poucos metros da fábrica original, dedicada em exclusivo a fazer tratamentos antirreflexo em lentes semiacabadas. “É um processo que fazemos aqui dentro de forma limitada, em quantidades pequenas, mas para abastecer Portugal e os outros laboratórios temos de ter uma unidade externa. Vai libertar espaço para crescer noutras áreas”, resumiu Luís Feijó, prevendo transferir cinco funcionários e criar 20 postos de trabalho.
O que motiva estes investimentos e o acréscimo na produção de lentes em Portugal? “Há efetivamente mais pessoas a usarem óculos porque se usam cada vez mais equipamentos digitais e o teletrabalho aumentou imenso [o número de] pessoas que precisam de correção visual porque estão muito tempo à frente de ecrãs. Mas o mercado não é elástico. Felizmente temos conseguido crescer e este ano estamos a aumentar as vendas em 16,3% no mercado nacional e 9,7% a nível global”, justificou o gestor.
Há efetivamente mais pessoas a usarem óculos porque se usam cada vez mais equipamentos digitais e o teletrabalho aumentou imenso as pessoas que precisam de correção visual. Mas o mercado não é elástico.
A Shamir Portugal prepara-se para fechar o ano de 2021 com uma faturação de quase 50 milhões de euros. Natural de Lisboa, onde nasceu há 65 anos, Luís Feijó está neste cargo desde janeiro de 2005, quando trocou a Carl Zeiss, em Setúbal, pelo projeto do grupo israelita. O mercado interno absorve atualmente 20% das peças produzidas no norte do país, mas vale 40% da faturação, uma vez que a exportação é feita a preços intercompany, apenas para oito subsidiárias europeias do grupo. Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Polónia são os destinos mais relevantes.
Maior fábrica na Europa e ateliês em Lisboa e Matosinhos
Levando na origem, na propriedade e também na designação comercial o nome de um kibutz situado na região mais elevada da província da Galileia, a Shamir é atualmente um dos maiores grupos mundiais no desenvolvimento e produção de lentes oftálmicas. Conta com 16 laboratórios e uma equipa de mais de 2.100 trabalhadores, está presente em 24 países e faz atualmente parte do grupo francês Essilor, que em 2011 comprou uma participação acionista de 50%.
Até 2001, o grupo não tinha produção própria e vendia apenas os designs – as geometrias das lentes progressivas – a outros laboratórios. E foi precisamente em Vila do Conde, no esqueleto de uma têxtil que nunca chegou a ser usada, que os israelitas instalaram a primeira fábrica. A mão-de-obra barata, a facilidade em recrutar quadros especializados e que “vestem a camisola” e o facto de então não ter clientes em Portugal fez com que “[valesse] a pena experimentar aqui o mercado para ver como funcionava”.
O projeto de expansão para a Europa desenhado pela Shamir, que a partir de 2006 reforça a aposta comercial em Espanha, Inglaterra, Turquia, Holanda, França e Alemanha, faz com a unidade fabril portuguesa passasse em apenas dois anos de 700 para 2.000 lentes produzidas por dia, todas sob receita – “não fazemos lentes para a prateleira, qualquer lente que entre aqui tem o nome da pessoa e o destino”, ressalva o CEO. Passou a fabricar também na Itália, Grécia e Turquia, mas continua a produzir mais em Portugal do que no conjunto desses outros laboratórios europeus.
Além da fábrica de Vila do Conde, a Shamir tem também em funcionamento dois ateliês em Lisboa (desde 2014, com 12 pessoas) e em Matosinhos (desde 2017, com sete funcionários), que têm uma produção máxima limitada a 200 lentes por dia e que assegura a entrega das lentes em duas horas. Há dois anos criou ainda uma unidade móvel, montada num camião TIR e com máquinas mais pequenas, que anda a circular pelo país e por algumas cidades europeias “a divulgar o processo e a fazer parcerias com as óticas para as pessoas perceberam a vantagem do serviço”.
Felizmente não temos tido problemas de abastecimento, embora cada vez mais estejamos a aumentar o volume de stocks, com medo de que amanhã [haja falhas no fornecimento de matérias-primas].
Em termos industriais, excetuando o atraso num produto que é injetado na Tailândia, Luís Feijó, que tem formação de base em programação informática e estudou depois Optometria na Suíça, assegurou que “felizmente não [tem] tido problemas de abastecimento, embora cada vez mais [esteja] a aumentar o volume de stocks, com medo de que amanhã” haja falhas no fornecimento. É que 90% da matéria-prima para a produção de lentes vem da Ásia e, além de o preço ter disparado, o tempo do transporte marítimo para a Europa passou, “com sorte”, de quatro para seis a oito semanas.
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