“Perdas incalculáveis”, “desânimo”, “cancelamentos”. Reação às novas medidas contra a Covid
Setor da restauração antecipa perdas avultadas com as novas medidas contra a Covid, criticam que as restrições tenham sido anunciadas em cima da hora e pedem mais apoios ao Governo.
O Governo decidiu esta terça-feira antecipar para o dia 25 de dezembro o período de contenção que inicialmente estava previsto começar apenas em 2 de janeiro. O acesso a restaurantes, casinos e festas de passagem de ano vai exigir a realização de um teste negativo à covid-19 com esta obrigatoriedade a abranger os dias 24, 25, 30 e 31 de dezembro e 1 de janeiro.
E passa também a ser obrigatório um teste negativo para entrar em hotéis e estabelecimentos de alojamento local bem como no acesso a cerimónias familiares, como casamentos e batizados, e eventos empresariais. O setor antecipa já um impacto grave das medidas:
PRO.VAR prevê “perdas incalculáveis” nos próximos dias e pede apoio ao Governo
A PRO.VAR – Associação Nacional de Restaurantes pediu que o Governo “encontre uma forma de apoiar substancialmente as empresas”, prevendo “perdas incalculáveis” nos próximos dias, depois de terem sido apresentadas novas medidas restritivas de combate à pandemia.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da PRO.VAR, Daniel Serra, adiantou que havia solicitado ao Governo, na passada sexta-feira, que não apresentasse medidas “ao ponto de retirar o fluxo de clientes aos restaurantes”, referindo que a testagem obrigatória provocaria “perdas enormes ao setor”.
“[…] Aquilo que nós vamos assistir é que os restaurantes vão estar fechados de porta aberta, sem clientes”, observou, lembrando que, apesar de ter reduzido os dias previstos em discussão, o Governo optou por selecionar “dias muito importantes”.
De acordo com Daniel Serra, a melhor solução para muitos restaurantes seria o encerramento total e receberem apoios do que estarem abertos, porque, segundo o mesmo, existe um conjunto de despesas acrescidas. “Aquilo que estamos a prever realmente é que são alguns dias em que prevíamos um nível de faturação razoável e está perdido. […] Estamos a pedir que o Governo encontre uma forma de apoiar substancialmente as empresas. Sugerimos o [Programa] Apoiar, na reunião falámos disso. Falámos na questão da descida do IVA da restauração para o futuro”, atentou.
Para Daniel Serra, o Governo e o Partido Socialista deviam comprometer-se com a redução do IVA da restauração para resolver os problemas no setor. “São 19 meses – uma grande parte – em perda. E agora este final de ano com uma perda incalculável que estamos a prever. É uma dificuldade muito grande, porque, ainda por cima, o primeiro trimestre do ano é normalmente um trimestre de menor faturação e as empresas tinhas esse período [Natal e Ano Novo] para ganhar robustez”, indicou.
Daniel Serra referiu ainda que já há empresas “sobre-endividadas” e que ficarão ainda mais fragilizadas, adiantando que muitos empresários “já estão a pensar em despedir trabalhadores”.
Fecho de discotecas fomenta festas ilegais e aumento de contágios
O presidente da Associação de Discotecas Nacional, José Gouveia, acusou esta terça-feira o Governo de estar a abrir caminho para o aumento de contágios em festas ilegais, ao obrigar ao encerramento das discotecas na altura do fim de ano.
“Mais uma vez, o Governo segue ao sabor do vento e deixa para trás um rasto de destruição nunca visto, tomando medidas sem consultar o setor”, afirmou José Gouveia à agência Lusa, após o anúncio da antecipação do encerramento de discotecas e bares para o dia 25, no âmbito das novas medidas para conter a propagação da Covid-19.
Para o presidente da Associação de Discotecas Nacional (ADN), está em risco a recuperação de discotecas e bares, que fizeram “investimentos de milhares de euros”, assumindo “despesas de testagem, de técnicos de saúde para que os seus clientes pudessem ter acesso” a estes espaços, e que agora são obrigados a encerrar.
O porta-voz do setor critica ainda que a medida tenha sido anunciada “em cima do acontecimento”, quando “já estão compras feitas, quando já há contratações feitas e já com bilhetes vendidos”, acrescentando não ter dúvidas de que “haverá eventos de passagem de ano”. “Abriu neste momento a caça às festas ilegais”, sublinhou José Gouveia, alertando que nessas festas, ao contrário do que acontecia nas discotecas, “não haverá qualquer controle de entrada, nem verificação de controles de testagem”.
Do ponto de vista do empresário, a medida anunciada esta terça-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, vai “abrir espaço, exatamente como aconteceu no ano passado, para um aumento dos contágios por via das festas ilegais e dos ajuntamentos ilegais, sem qualquer tipo de controle”.
Fechar após Natal causa “desânimo” nas Discotecas do Sul e Algarve
Os empresários estão “preocupados” e “desiludidos” com a decisão de encerrar as discotecas a partir de sábado, anunciada esta terça-feira pelo Governo para conter a pandemia de Covid-19, disse o presidente da Associação de Discotecas do Sul e Algarve.
O anúncio feito pelo primeiro-ministro, António Costa, vai obrigar as discotecas a fecharem logo após o Natal e impede os empresários de aceder ao encaixe financeiro da passagem do ano, um período “em que mais se fatura” e que era visto pelas empresas como uma “ajuda no meio dos problemas todos” causados ao setor da diversão noturna pela pandemia e pelas restrições adotadas para a conter, disse o presidente da associação, Liberto Mealha.
O presidente da Associação de Discotecas do Sul e Algarve (ADSA) argumentou que na passagem do ano é quando “não só os trabalhadores recebem a dobrar, como os empresários também têm possibilidade de cobrar mais”, por se tratar de um “dia do ano especial”. Mas, a adoção de uma “nova semana de contenção”, a juntar à anunciada para o período entre 2 e 9 de janeiro de 2022, “faz cair por terra esta futura receita, que muito vinha ajudar” os empresários, afirmou.
Quanto aos apoios prometidos por António Costa para compensar o setor por este encerramento, e que incidem sobre o apoio ao ‘lay-off’ simplificado e o acesso ao programa Apoiar.pt, Liberto Mealha disse que “não são significativos”. “O ‘lay-off’ simplificado para uma semana ou duas, o que é que isso representa? Importante era um ‘Apoiar’ a fundo perdido, mas de que maneira? Vão fazer uma comparação com o ano anterior, em que já não podíamos trabalhar? Este ano também não vamos poder trabalhar, não há comparação possível de receita para se poder receber 20% a fundo perdido, portanto também não dá nada”, sustentou.
APHORT preocupada com efeito da escassez de testes
O vice-presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) considera negativo que as novas restrições sejam tomadas “em cima da hora” e está preocupada com a escassez de testes, reconhecendo porém que reforçam a sensação de segurança.
Assinalando que perante uma pandemia é necessário reagir, a vice-presidente da APHORT, Inês Sá Ribeiro, considera, no entanto, que as medidas deviam ser tomadas “com alguma margem” e “não tão em cima da hora”, como agora sucedeu.
Em declarações à Lusa depois de terem sido conhecidas as novas restrições aprovadas pelo Conselho de Ministros, Inês Sá Ribeiro manifestou ainda algum desagrado pelo facto de as medidas que são aprovadas nunca serem aplicadas na totalidade do prazo para o qual foram definidas, mas salientou o facto de, à luz do que foi anunciado, não terem sido impostos encerramentos ou limitações no número de clientes no caso da hotelaria.
AMRR contra novas limitações de clientes no interior dos espaços comerciais
A Associação de Marcas de Retalho e Restauração (AMRR) manifestou-se esta terça-feira contra a limitação de clientes nos espaços comerciais, duvidando da eficácia da solução, e criticou as novas restrições e a imprevisibilidade das medidas.
Em declarações à Lusa, após o Conselho de Ministros em que foi decidido reforçar as medidas de controlo da pandemia de covid-19, o secretário-geral da AMRR, Marco Claudino, referiu que a “constante imprevisibilidade” na tomada de medidas dificulta o planeamento por parte das empresas estando já a levar a cancelamentos, sobretudo ao nível da restauração.
As medidas anunciadas pelo Governo, acrescentou, vêm impor um travão às empresas num momento em que começavam a ver “alguma luz ao fundo do túnel”, com o adicional de não obrigarem ao encerramento, mas de criarem novas restrições – o que as exclui dos apoios como o ‘lay-off’ simplificado ou o programa APOIAR.
Relativamente à limitação da lotação das lojas, Marco Claudino afirmou desconhecer a sustentação científica da medida e duvida da sua eficácia em evitar aglomerados de pessoas, lembrando o que sucedeu durante os largos meses em que esta medida esteve em vigor.
“No passado medidas deste género tiverem efeitos perniciosos porque levaram a aglomerações de pessoas à porta dos espaços comerciais”, referiu acrescentando que, no caso dos centros comerciais, acaba por se verificar uma dupla restrição o que penaliza as lojas que têm espaço para receber os clientes, mas a lotação do centro comercial impede-os de entrar.
“Não é uma medida justificada e há uma dificuldade que não pode ser escondida: nestes dois últimos anos estes espaços estiveram em grande parte ou encerrados ou com limitações de pessoas”, referiu para aludir às dificuldades que estas empresas enfrentam.
O secretário-geral da AMRR criticou também a “imprevisibilidade” das medidas que não tiveram em conta toda a logística instalada nos restaurantes, considerando que as novas restrições “vão acabar por levar a cancelamentos”.
Para Marco Claudino, nada o que aconteceu nestas últimas duas ou três semanas justifica as mudanças agora anunciadas.
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