Juros de Portugal disparam na venda de 1.250 milhões de dívida pública
Como era esperado, os custos de financiamento subiram no leilão de obrigações desta manhã. IGCP pagou mais de 1% para vender títulos com prazo de nove anos. Fraco apetite dos investidores condicionou.
Face ao aumento dos juros no mercado secundário nas últimas semanas, os custos de financiamento de Portugal dispararam no leilão de obrigações que o IGCP realizou esta quarta-feira. A agência que gere a dívida pública obteve um financiamento de 1.250 milhões de euros e os investidores exigiram juros bem mais altos do que nas últimas operações comparáveis. O fraco apetite pela dívida portuguesa também condicionou resultado da operação.
Foram duas linhas a leilão esta manhã. Portugal obteve 706 milhões de euros em Obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2031 (nove anos), pelas quais pagou um juro de 1,008%. Compara com o juro de 0,127% do anterior leilão comparável a nove anos realizado julho. É preciso recuar a 2017 para termos um custo mais alto: em março desse ano o IGCP pagou uma taxa de quase 4% por títulos a nove anos – um prazo pouco usado. Se compararmos com leilões a dez anos, Portugal pagou um juro de 1,194% em abril de 2020, sendo que a última operação neste prazo registou uma taxa cerca de três vezes inferior (0,314%).
Numa outra linha, os títulos com maturidade em outubro de 2028 (seis anos) registaram um juro de 0,603% e permitiram ao Tesouro um “empréstimo” de 555 milhões. O anterior leilão de junho tinha fixado um juro negativo, nos -0,162%, neste prazo.
Obrigações a nove anos custam mais de 1%
Fonte: IGCP
Portugal colocou o máximo pretendido nesta operação, mas os investidores demonstraram menos apetite, o que acabou por contribuir para uma subida significativa dos custos. Por exemplo, na linha a nove anos a procura situou-se apenas 1,27 vezes acima da oferta. Quantas mais ordens o IGCP recebe, mais competitivo é o preço final.
O agravamento do custo da nova dívida era algo já antecipado, tem em conta a nova realidade de alta inflação e de uma expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) vai ter de subir as suas taxas de referência para atenuar a subida dos preços rumo ao seu objetivo de 2% no médio prazo. Christine Lagarde, que lidera o BCE, disse esta segunda-feira que vai esperar por dados económicos para tomar uma decisão em março, mas destacou que não quer precipitar-se na subida dos juros e que o aumento será gradual e apenas depois de terminado o programa de compras de dívida.
“A subida que estamos a assistir no prémio de risco de Portugal é um reflexo do movimento que temos tido em todas as dívidas soberanas e que acabam por refletir as novas posições que os bancos centrais têm vindo a adotar”, disse Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
"A subida que estamos a assistir no prémio de risco de Portugal é um reflexo do movimento que temos tido em todas as dívidas soberanas e que acabam por refletir as novas posições que os bancos centrais têm vindo a adotar.”
“O mercado obrigacionista, numa tentativa de antecipar estes movimentos, tem caído o que leva a uma subida das taxas. Os países da periferia têm sido mais prejudicados com o seu spread versus a Alemanha a aumentar. No entanto, este movimento acaba por refletir a normalização do mercado, face a uma economia mais robusta, voltarmos para taxas positivas e para spreads ajustados ao risco de cada uma das economias, à medida que vão saindo do mercado os bancos centrais com os seus programas de compra de ativos”, acrescenta o responsável.
Prazo a seis anos também regista subida do juro
Fonte: IGCP
O mercado acabou por se ajustar um cenário de subidas das taxas do BCE já este ano, aliás, conforme alguns governadores de bancos centrais da Zona Euro vão antecipando. A taxa de juro da dívida portuguesa a dez anos voltou a superar a fasquia dos 1% na passada segunda-feira, o que não tinha acontecido desde abril de 2020, quando os investidores foram “sacudidos” com a incerteza da pandemia.
“Não podemos hesitar” na redução da dívida, diz Centeno
Ao contrário do que aconteceu há dois anos, em que os juros acabaram por baixar novamente, desta vez os analistas falam em subida estrutural, o que vai implicar um aumento do custo do financiamento dos Governos.
Para Portugal, que tem uma das maiores dívidas públicas, os efeitos serão mais sentidos, daí os avisos recentes do Governo e do Banco de Portugal em relação à necessidade de retomar a trajetória de redução do endividamento público e de consolidação orçamental.
O aviso foi repetido esta quarta-feira pelo governador Mário Centeno: “Naquele que é o maior desafio que enfrentamos, já sabemos o caminho a percorrer, já o iniciámos, não podemos hesitar. (…) É fundamental retomar a trajetória de redução do rácio da dívida pública, sustentada por um plano credível de consolidação orçamental.” Portugal terminou 2021 com um rácio da dívida pública de 127,5% do PIB.
(Notícia atualizada às 11h43 com intervenção do governador Mário Centeno)
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