Preço do gasóleo ultrapassa o preço da gasolina. Porquê?
O que explica que o preço do gasóleo, o combustível mais usado em Portugal, tenha acelerado mais do que o da gasolina a ponto de ficar mais caro?
Com a escalada dos preços do brent devido às incertezas no abastecimento de petróleo nos mercados globais, o preço dos combustíveis voltou a subir esta segunda-feira: o litro de gasóleo subiu 16,4 cêntimos, já com o apoio de 1,3 cêntimos no ISP anunciado pelo Governo, e o da gasolina seis cêntimos, sem alterações no ISP. Subidas que levaram o diesel a custar 2,011 euros por litro e a gasolina 1,987 euros por litro, assumindo os preços médios em Portugal Continental.
Mas o que explica que o preço do gasóleo, o combustível mais usado em Portugal (77% do consumo total), tenha acelerado mais do que o da gasolina a ponto de ficar mais caro? A guerra na Ucrânia.
“A Rússia produz sobretudo gasóleo na sua indústria refinadora”, explica ao ECO fonte do setor; e como a maior parte das empresas “cortou com a compra de produtos petrolíferos provenientes da Rússia, isso determinou uma redução do lado da oferta, tendo-se mantido o nível da procura, o que dita um aumento dos preços”.
Mas há outro fator a pesar negativamente nesta equação: o VGO. O vácuo é uma das componentes utilizadas no fabrico de gasóleo, para o tornar mais leve já que este hidrocarboneto tem mais hidrogénio e menos carbono. Ora, a Rússia é responsável por metade da produção mundial deste produto e, perante a suspensão dos fornecimentos russos, há uma escassez no mercado.
A estes dois fatores específicos juntam-se a cotação do brent, que serve de referência ao mercado europeu, que tem sofrido fortes oscilações decorrentes do nervosismo dos mercados e dos receios de rutura de stocks, mas também da cotação do euro face ao dólar, que pode agravar mais as subidas de preços. Mas ambos os motivos pesam nas subidas semanais dos preços da gasolina e do gasóleo.
A gasolina subiu durante 14 semanas consecutivas e o gasóleo 11 semanas, um movimento interrompido na semana passada, e já entretanto retomado esta semana, muito alimentado pelos receios de um possível embargo da União Europeia ao petróleo e gás russos como sanção a Moscovo pela invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro. A eventualidade de ter de encontrar alternativa ao fornecimento de 2,5 mil milhões de barris diários colocou uma enorme pressão nas cotações ao longo da semana.
A Galp foi uma das empresas que cortou com o fornecimento russo. A decisão foi tomada a 2 de março. “A Galp repudia a agressão russa contra o povo da Ucrânia”, por isso, “o conselho de administração da Galp decidiu suspender quaisquer novas aquisições de produtos petrolíferos provenientes, quer da Rússia, quer de empresas russas”, avançou a empresa em comunicado ao mercado, admitindo que a medida pudesse “ter impacto na refinaria de Sines e na sua contribuição financeira”.
Um dos impactos decorre precisamente do VGO, “uma das matérias-primas utilizadas para a produção de gasóleo na Refinaria de Sines”. A empresa de Paula Amorim explicava que estava “a desenvolver planos para obter o VGO através de fornecedores alternativos, ou para operar a refinaria a um ritmo limitado, embora assegurando sempre o fornecimento de gasóleo ao mercado português”. Estes fornecedores alternativos estão no Médio Oriente e na Europa, explicou fonte da empresa. A Galp produzia VGO na refinaria de Matosinhos, embora em pequenas quantidades.
O fornecimento de gasóleo ao mercado português está assegurado, frisa a Galp, até porque, como explicava o mesmo comunicado do início do mês “as cargas de produtos petrolíferos com origem na Rússia já adquiridas e atualmente em trânsito serão recebidas e descarregadas”.
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