Subida dos preços da energia tira 1,1 pontos ao PIB, calcula BPI
O BPI revê em baixa o crescimento da economia portuguesa para 4,2% em 2022, uma travagem face aos 4,9% em 2021. Economistas estimam que a subida dos preços da energia vá tirar 1,1 pontos ao PIB.
A equipa de economistas do BPI/CaixaBank preparava-se para rever em alta o crescimento do PIB português em 2022, mas o início da invasão russa na Ucrânia no dia 24 de fevereiro mudou completamente as previsões. Agora, a projeção é revista em baixa para 4,2%, o que compara com os 4,9% estimados anteriormente — o que era uma estabilização face aos 4,9% que a economia cresceu em 2021. O impacto da subida dos preços da energia deverá situar-se nos 1,1 pontos percentuais do PIB.
“Apesar do elevado nível de incerteza dos impactos que a guerra poderá ter no crescimento – que dependem, por exemplo, da duração do conflito e dos efeitos das sanções impostas à Rússia – estimamos que em 2022, o crescimento poderá reduzir-se para 4,2%, menos 7 décimas do que a nossa anterior previsão“, lê-se na nota informativa da Unidade de Estudos Económicos e Financeiros do BPI/CaixaBank divulgada esta segunda-feira.
Os economistas explicam que “até 24 de fevereiro, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia, as perspetivas para o crescimento da economia portuguesa em 2022 eram muito positivas” e que preparavam-se para rever em alta a variação do PIB este ano para um intervalo de 5,5% a 6%, o que coincidia com a previsão anterior do Governo. Porém, “os acontecimentos daquele dia vieram inverter a tendência da revisão de positiva para negativa”.
A equipa do BPI/CaixaBank antecipa que “o impacto mais significativo virá do aumento dos preços do gás e do petróleo, mas outros impactos, sobretudo relacionados com a confiança dos agentes económicos podem ser sentidos, nomeadamente a recuperação mais lenta do turismo e o agravamento do prémio de risco de Portugal”. E tenta quantificar esses efeitos, a começar pela subida dos preços da energia que retira 1,1 pontos percentuais ao crescimento, assumindo que o preço médio do petróleo fica nos 105 dólares e o do gás natural nos 125 euros por megawatt.
Acontece que o efeito de arrastamento (carry-over) de 2021 permite acomodar algum desse impacto. “Como ponto de partida para estimarmos a nova taxa de crescimento esperada em 2022, refere-se que o facto do crescimento no 4T 2021 ter sido muito mais forte do que o incorporado nas nossas previsões tem um impacto positivo equivalente a 1 p.p. no crescimento de 2022, compensando parte dos impactos negativos derivados do conflito”, notam. No total, a dinâmica de 2021 permite um crescimento de 3,7% em 2022.
Contudo, há mais três efeitos a tirar seis décimas ao crescimento português: o atraso na recuperação do turismo, na ordem das três décimas; o agravamento dos custos de financiamento por causa da normalização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na ordem das duas décimas; adiamento das decisões de consumo e de investimentos por parte dos consumidores e empresas, na ordem de uma décima.
No caso do turismo, os economistas do BPI/CaixaBank admitem que Portugal até “poderá beneficiar de maior procura por deslocamento de procura de territórios mais próximos do conflito“, mas antecipam que “é provável que os movimentos turísticos diminuam, refletindo por um lado a deterioração da confiança das famílias, e por outro, a necessidade destas alocarem mais rendimento à compra de bens energéticos, reduzindo o rendimento disponível para aquisição de outros tipos de bens e serviços, nomeadamente os turísticos”.
A concretizar-se esta previsão de crescimento de 4,2%, a economia portuguesa não conseguirá recuperar o nível pré-pandemia em 2022, ao contrário do que prevê o Governo (5%) e o Banco de Portugal (4,9%): “Esta primeira tentativa de construção de um novo cenário para o crescimento da economia portuguesa, tendo em conta o conflito Rússia-Ucrânia e admitindo que as tensões se desagravam ao longo da segunda metade do ano, atrasa para o início de 2023 a recuperação dos níveis pré-covid, (antes meados de 2022) mas não porá em causa esta recuperação“, concluem os economistas.
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