É preciso desmistificar a ideia de que a distribuição está a esmagar os produtores nacionais, diz diretor-geral da APED
Empresas de distribuição garantem que não estão a subir as margens e afastam escassez de produtos, mas admitem que "vai haver retração no consumo". Limites à venda de produtos já foram levantados.
O diretor-geral da APED reitera que “até ao final do primeiro semestre” deste ano os preços dos produtos alimentares vão subir, em média, cerca de 30%, mas assegura que as empresas de distribuição não estão a aumentar as margens de lucro. Em entrevista ao ECO, Gonçalo Lobo Xavier admite que a escala de preços vai provocar uma “retração no consumo” e garante que o setor não está “a esmagar os produtores nacionais”.
“O retalho alimentar é um negócio de volume, não é um negócio de margens altas e o que temos conseguido manter é o mesmo nível de margens na ordem dos 2% a 3% apesar de estarmos com níveis de custos dos fatores de produção a aumentar 10%, 15% ou 20%“, garante o diretor-geral da APED, que representa mais de 180 associados, dos quais 60 do retalho alimentar.
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia veio juntar-se à subida de preços da energia e à seca, provocando uma escalada do custo de várias matérias-primas essenciais para a produção alimentar, como os cereais. Nesse sentido, e baseando-se nas estimativas apresentadas pela OCDE e pela FAO, Gonçalo Lobo Xavier antecipa que o “custo de produção de bens alimentares vai ter um incremento na ordem dos 30%“, com este aumento a ser “completamente transmitido” ao consumidor até ao “final do primeiro semestre”.
“Não é em todos os produtos, não é em todos os segmentos, não é imediato, mas é decorrente de algo que está a acontecer desde setembro”, sinaliza, o responsável, em entrevista ao ECO, acrescentando, no entanto, que apesar de não as empresas do setor de distribuição não estarem a aumentar as margens estão a transmitir “obviamente, o aumento de custo de decorrente” a que foram sujeitos por parte dos “produtores e forneceres”.
Não obstante, Gonçalo Lobo Xavier diz que “é preciso desmistificar a ideia” de que o setor da distribuição está “a esmagar os produtores nacionais”, dado que as cadeias de supermercados não são “autossuficientes em todas as áreas, em todos os produtos” e têm “dado uma preferência bastante grande” à produção nacional. “A maior parte das vezes não compramos diretamente aos produtores. Compramos a organizações de produtores ou a intermediários ou à indústria e, portanto, até o produto chegar à distribuição há vários canais. É escusado os produtores estarem a atirar acusações à distribuição quando muitas vezes nem temos contacto com eles”, atira, em entrevista ao ECO.
O diretor-geral da APED reitera que “vivemos um clima de abundância”, pelo que não há “qualquer risco de rutura de produtos” e assegura que a venda de produtos como óleo de girassol, farinha ou pão ralado nos supermercados já não está sob qualquer limitação. “Esses produtos que foram há três ou quatro semanas limitados hoje já estão sem limitações, quer no mercado grossista quer no mercado retalhista“, revela.
Face à escalada de preços, Gonçalo Lobo Xavier admite ainda que “vai haver alguma perda de poder de compra” que irá provocar, consequentemente “uma retração no consumo”, dado que não é expectável que os salários dos portugueses acompanhem a inflação. “Aqui ao lado, em Espanha, a inflação em março estava nos 9,8%, rapidamente chegará aos dois dígitos. Em Portugal podemos correr esse risco também, nós estamos inseridos na Zona Euro e, portanto, vamos ser contaminados com certeza por esse fenómeno e isso é algo que tem que ser debatido e debelado a nível europeu”, conclui.
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