Perfil: “Super Mario” salvou zona euro, mas não resiste a crise interna
Como primeiro-ministro, Draghi tornou-se figura respeitada e colocada acima dos partidos. Conduziu Itália à frente de uma coligação que estava sempre à beira de um abismo e que acabou mesmo por cair.
Mario Draghi tornou-se primeiro-ministro de Itália em fevereiro de 2021 para tirar o país da crise, mas não resistiu às lutas internas no seu próprio Governo e atirou nesta quinta-feira a toalha ao chão, demitindo-se formalmente.
Depois de o Movimento 5 Estrelas ter decidido abandonar a coligação governamental, Draghi ainda tentou obter uma moção de confiança do parlamento, mas a resposta foi dececionante e apresentou a sua renúncia ao cargo ao Presidente de Itália, Sergio Mattarella.
Nascido e criado em Roma, onde o seu pai trabalhava para o Banco da Itália, recebeu uma educação jesuíta e estudou economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, com Franco Modigliani, que mais tarde ganhou o Prémio Nobel de Economia, e Stanley Fischer, futuro chefe do banco central de Israel.
Foi o primeiro italiano a obter um doutoramento na instituição e, durante a década de 1980, ensinou economia na Universidade de Florença e trabalhou para o Banco Mundial em Washington.
Casado e pai de dois filhos, Mario Draghi representou o seu país no Banco Mundial, entre 1984 a 1990, e, em 1991, tornou-se diretor-geral do Tesouro italiano, onde foi o decisor das principais privatizações realizadas de 1996 a 2001.
Em 2002, passou a integrar a administração do banco norte-americano Goldman Sachs. Uma experiência que ainda hoje lhe rende críticas, já que a instituição ainda é vista como símbolo dos muitos excessos de Wall Street.
Entre 2011 e 2019, foi presidente do Banco Central Europeu, a instituição financeira responsável por tomar decisões sobre política monetária na zona do euro.
Foi nesta altura que ganhou a alcunha de “Supre Mário”, por ter conseguido salvar o euro com medidas que eram, até então, inimagináveis: reduziu as taxas de juro para terreno negativo, injetou liquidez nos mercados através de compras massivas de ativos e fez empréstimos gigantes a bancos.
Face à ameaça de implosão da zona euro, o “Super Mário” respondeu em inglês e com a maior determinação. “Estou pronto para fazer o for preciso” para apoiar a zona do euro. Palavras que tranquilizaram imediatamente os mercados e salvaram a moeda única.
Em fevereiro de 2021, Mario Draghi aceitou a oferta do Presidente da República para se tornar chefe de Governo de Itália a fim de tirar o país da crise sanitária causada pelas restrições impostas no âmbito da pandemia da covid-19 e negociar com Bruxelas um plano de recuperação europeu do qual Itália recebeu a parte do leão.
Draghi tornou-se uma figura respeitada, que se colocava acima dos partidos, e conseguiu conduzir o país à frente de uma coligação que estava sempre à beira de um abismo, já que reunia partidos antagónicos, da extrema-direita à esquerda.
Vendo-se como um “avô ao serviço das instituições”, já dava os primeiros sinais de cansaço em dezembro passado, quando começou a “apalpar terreno” para a possibilidade de se tornar chefe de Estado. Os partidos da sua coligação bloquearam-lhe essa via, o que encheu de amargura.
No entanto, o seu lema de vida foi sempre “nunca desistir”, como confidenciou à imprensa pouco antes de passar a chefiar o BCE, e, como afirmou Benoît Coeuré, ex-membro do conselho executivo do BCE, Draghi “tem um profundo sentido de serviço e dever público”.
No entanto, os acontecimentos dos últimos dias parecem ter sido mais pesados do que esperava e, num momento em que Itália enfrenta o choque da guerra na Ucrânia, uma nova vaga de covid-19, e já deveria estar a preparar o Orçamento de Estado para 2023, além de colocar em prática todas as medidas exigidas por Bruxelas para beneficiar cerca de 200 mil milhões de euros concedidos a Roma, Draghi quer sair.
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