Seca provoca segunda pior campanha de cereais de inverno de sempre
Temperaturas elevadas e situação de seca reduziram previsões de colheita dos cereais, bem como das maçãs, peras e uvas. Campanhas de milho, arroz, tomate e amêndoa encontram-se dentro da normalidade.
As previsões agrícolas no final de julho apontam para a segunda pior campanha de cereais de inverno de sempre, visto que grande parte do ciclo vegetativo foi fortemente afetado pela situação de seca. Mas as quebras não se ficam por aqui: de acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as culturas de batatas, maçãs, peras, uvas e pêssegos deverão ter quebras até aos 30%.
Além da seca severa a extrema, que deixou muitas searas com “povoamentos pouco homogéneos e espigas curtas”, o gabinete de estatísticas refere a “escassa humidade dos solos” e as “elevadas temperaturas” como causas para a fraca produtividade, com as ceifas a confirmarem o baixo peso específico do grão. Embora existam searas com produtividades e qualidade aceitáveis, a maioria das áreas colhidas apresenta quebras de produção: de 15% no trigo duro e centeio, 25% na aveia e na ordem dos 30% no trigo mole, triticale e cevada.
“Globalmente, a atual campanha de cereais de inverno deverá ser a segunda pior desde que existem registos sistemáticos, apenas superior à produção da campanha de 2012. De referir que as piores campanhas cerealíferas coincidiram com as secas mais graves”, reitera o INE.
No caso das vinhas, prevê-se um decréscimo global de 10% quer na uva para vinho, quer na uva de mesa, face à campanha anterior. Apesar do elevado número de cachos, a seca severa a extrema e as altas temperaturas de julho – o mais quente desde 1931 – não só condicionaram o enchimento do bago e, consequentemente, a produtividade, como potenciaram o escaldão, que impactou o rendimento.
Globalmente, a atual campanha de cereais de inverno deverá ser a segunda pior desde que existem registos sistemáticos, apenas superior à produção da campanha de 2012. De referir que as piores campanhas cerealíferas coincidiram com as secas mais graves
As culturas de macieiras e pereiras, por seu lado, foram “consideravelmente afetadas” pela onda de calor, aponta o INE. Este choque térmico provocou a paragem no crescimento dos frutos, estimando-se que as quebras por escaldão no Oeste sejam na ordem dos 10% nas maçãs e um pouco menos nas peras. Para a colheita da maçã, que teve início na segunda semana de agosto, estão prevista quebras de produtividade de 15%, enquanto na colheita da pera, que deverá começar esta semana, a produtividade deverá decrescer em 30%.
Já a colheita da batata teve de ser antecipada, igualmente devido à seca e às altas temperaturas – que aceleraram a maturação dos batatais e secaram a rama muito rapidamente, ao mesmo tempo que inibiram a tuberização -, provocando uma quebra generalizada de produtividade. A batata de regadio tem necessitado de mais rega que o normal, o que nem sempre tem sido possível de satisfazer por causa dos baixos níveis das reservas hídricas. Assim, face à campanha passada, prevê-se uma diminuição da produção de 15% para a batata de regadio, e de 30% na batata de sequeiro, o que representa um aumento das previsões em relação ao final de maio.
Além disso, em algumas regiões têm-se registado dificuldades de comercialização da batata, sobretudo devido ao excedente de produção da campanha anterior. Os preços pagos ao produtor, apesar de registarem variações positivas face ao período homólogo, são considerados baixos pela produção em relação ao aumento dos custos dos meios de produção.
As temperaturas elevadas são também a principal causa do decréscimo da produtividade do pêssego, estimado em 25%.
“As baixas temperaturas noturnas e a formação de geadas prejudicaram a polinização e atrasaram o desenvolvimento vegetativo dos pomares de pessegueiros. A precipitação de março afetou a floração contribuindo, juntamente com os ventos fortes de abril, para a queda fisiológica dos pequenos frutos, cujo desenvolvimento aparentava um vingamento consolidado”, refere o gabinete estatístico, acrescentando que as altas temperaturas aceleraram depois a maturação do pêssego.
Tomate, amêndoa, arroz e milho escapam às quebras na produção
Apesar da escalada dos preços dos meios de produção e da escassez de água de rega que, em muitos regadios privados, tem condicionado a frequência e dotação de rega, o cenário nas culturas de primavera não é tão negativo. Na área do milho, prevê-se um aumento de 5%, enquanto o arroz e tomate para a indústria deverão manter a produtividade em relação ao ano passado.
O aumento da área semeada do milho para os 78 mil hectares era já a previsão no final de maio. Fatores como a subida da cotação do milho nos mercados internacionais de matérias-primas e o potencial efeito da produção de alimentos em terrenos de pousio, que poderiam desencadear um maior interesse por esta cultura, “foram atenuados pelo impacto significativo do aumento dos preços dos meios de produção, sobretudo dos fertilizantes, energia e combustíveis, e da previsível escassez dos recursos hídricos”, aponta o INE.
Ao contrário de outras culturas, o arroz beneficiou das temperaturas mais quentes, com as sementeiras a decorrerem dentro da normalidade e a concluírem-se no final de junho. Nesse sentido, prevê-se uma produtividade semelhante à de 2021, apesar da presença de milhã na região do Baixo Mondego, infestante difícil de controlar e que compromete a produtividade da cultura.
Quanto ao tomate, as primeiras colheitas foram animadoras e decorreram sem interrupções e em boas condições, com as produtividades alcançadas idênticas às da campanha passada. Ainda assim, as altas temperaturas provocaram escaldões nos frutos em crescimento, existindo também o receio de que a onda de calor tenha afetado a polinização.
As culturas de amendoeiras em Trás-os-Montes tiveram um desenvolvimento vegetativo também muito condicionado pela situação de seca e pelas geadas tardias, embora a floração e parte do vingamento do fruto tenham decorrido normalmente.
No Alentejo, deverá haver um aumento de produtividade, devido essencialmente aos pomares com três a quatro anos de instalação que entraram em produção, bem como aos pomares instalados há mais tempo que atingiram a produção cruzeiro. Globalmente, prevê-se uma produtividade da amêndoa semelhante à alcançada em 2021.
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