Procura por automóveis de luxo escapa à pressão da inflação
Enquanto o segmento convencional assiste a uma redução na procura, em particular no mercado europeu e norte-americano, marcas de luxo como a Ferrari e Lamborghini festejam os seus melhores resultados.
À medida que a inflação acelera e as taxas de juro sobem, o rendimento disponível das famílias encolhe, levando a ajustamentos na procura. É um cenário que se verifica em muitos setores da economia, incluindo no setor automóvel, que também enfrenta outros constrangimentos, como a escassez de componentes e de matérias-primas. Esta gestão representa um grande desafio para as marcas, levando a ajustamentos na oferta e na procura, mas ainda há razões para otimismo no segmento dos carros de luxo.
De acordo com informações que foram sendo divulgadas pelas principais fabricantes de automóveis, a nível global, é possível ver uma tendência díspar entre o segmento de luxo e os segmentos mais convencionais. As marcas de luxo, como a Ferrari e a Lamborghini, ganham terreno no que toca ao número de encomendas, apesar dos desafios que assolam o setor.
Em contrapartida, a Volvo assistiu a uma queda na procura na Europa e EUA e a Volkswagen identifica sinais de alerta nestes mercados. Já a BMW reviu em baixa o número de novas encomendas, antecipando um ano volátil.
Enquanto isso, a Mercedez-Benz procura refúgio nos modelos topo de gama, antecipando que a procura pelos melhores automóveis continue a aumentar, afastando um cenário de recessão.
Ferrari
Os resultados da Ferrari no segundo trimestre do ano atingiram novos recordes, com as entregas a nível mundial a crescerem 29% e a mais do que duplicarem na China.
Para o CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, “a qualidade dos primeiros seis meses e a robustez” do negócio permitem “rever em alta as orientações para 2022 em todas as métricas”, disse, citado pela Reuters.
Com as previsões de lucros superadas, também a “entrada líquida” de novas encomendas atingiu um novo recorde no segundo trimestre, avançou o CEO da marca, sublinhando que a procura aumentou, ainda que a maioria dos seus modelos estivessem esgotados.
Lamborghini
Embora esteja a ser afetada pelos mesmos constrangimentos que têm assolado o setor, a Lamborghini encerrou o primeiro semestre do ano com o melhor resultado de sempre.
Segundo avançou Paolo Poma, administrador financeiro (CFO) da Lamborghini, nos primeiros seis meses do ano, a marca entregou 5.090 unidades a nível mundial, o que representa um aumento de 4,9% face a igual período de 2021. Também o volume de negócios aumentou neste período, tendo atingido os 1.332 mil milhões de euros, um aumento de 30,6% em termos homólogos.
A margem de lucro aumentou dos 24,6% no primeiro semestre de 2021 para 31,9% em igual período de 2022. Face a estes resultados, a Lamborghini espera aumentar o lucro anual para um nível entre os 22% e os 25%, a médio prazo.
Mercedes-Benz
A Mercedes entregou no segundo trimestre do ano cerca de 40 mil veículos a menos, dentro do grupo de pequenos carros familiares (segmento C), em termos homólogos, dando gradualmente prioridade aos seus veículos topo de gama. Isto resultou numa queda geral de 7% das vendas.
Ainda assim, a marca antecipa que a procura pelos seus modelos topo de gama continue a aumentar no segundo semestre de 2022, descartando mesmo um cenário de recessão neste segmento, nos mercados europeu e norte-americano.
Para o CEO da marca alemã, Ola Källenius, a empresa está a verificar uma “forte procura tanto na Europa e nos EUA, como na China – com grandes carteiras de pedidos”, citou o Financial Times. Em função disto, a marca alcançou um lucro “muito sólido” apesar dos constrangimentos na sua cadeia de abastecimento, referiu o CEO.
A marca alemã antecipa agora que as receitas de 2022 fiquem “significantemente acima” dos valores do ano anterior, com um lucro antes de juros e impostos (EBIT) acima dos 16 mil milhões de euros de 2021, segundo Ola Källenius.
Os dados financeiros do setor automóvel apontam, desta forma, para uma manutenção da procura no segmento do luxo, apesar da inflação. No entanto, esta pressão está a afetar a procura das restantes marcas, cuja estratégia comercial não assenta neste nicho, principalmente nos mercados europeu e norte-americano.
Volvo
Fabricantes automóveis como a sueca Volvo já viram as suas vendas cair 21,5% em julho, em termos homólogos, devido a constrangimentos na cadeia de abastecimento. Embora a escassez de semicondutores, e outros componentes, tenha vindo a ditar um aumento de custos e a pressionar a produção automóvel em todo o setor, a Volvo nota uma melhoria na estabilização da sua cadeia de abastecimento.
A empresa sueca espera que a sua produção aumente progressivamente nos próximos meses, à medida que esta normalização continua. Contudo, “com base nessa melhoria esperada, a empresa prevê que as vendas a retalho permaneçam estáveis, ou um pouco mais baixas durante todo o ano de 2022, em comparação com os volumes em 2021”, cita a agência Reuters.
O motivo para esta declaração assenta na queda da procura em dois mercados. Só na Europa, as vendas da Volvo caíram 29,1% em julho, para as 15.893 unidades, e no mercado dos EUA afundaram mesmo 40,7%, para 6.868. Em comparação, as vendas da fabricante na China avançaram 6,4%, para 15.487 veículos, segundo dados citados pelo Marketwatch.
BMW
A fabricante sueca não é a única a rever em baixa as suas previsões de vendas. A alemã BMW, contrariamente à Volvo, não antecipa uma melhoria nos atuais constrangimentos que assolam o setor. A BMW alerta mesmo para um segundo semestre volátil, identificando o abastecimento europeu de energia, bem como o abastecimento de chips em todo o mundo, como os dois fatores principais a influenciar as suas previsões.
Segundo o CEO da BMW, Oliver Zipse, a marca registou uma redução no número de novas encomendas face ao volume do ano passado, sendo este recuo na procura mais percetível no mercado europeu, nomeadamente nos modelos Série 1 e 2, cita a Bloomberg. As atuais encomendas da BMW permanecem em níveis elevados, mas isto deve-se à escassez de semicondutores que tem atrasado as entregas anteriores, e a marca espera mesmo que as entregas de final de ano fiquem aquém do recorde do ano passado de 2,52 milhões de veículos, avança a Reuters.
O reforço das sanções contra a Rússia, a interrupção do abastecimento de gás europeu, e o risco da guerra na Ucrânia se alastrar para fora do país, não foram consideradas nas previsões da BMW.
Volkswagen
Em linha com a BMW e a Volvo, o CFO da Volkswagen, Arno Antlitz, admitiu que “a procura está a cair”, embora tenha sublinhado que “os sinais de alerta são para a Europa e América do Norte”, e não tanto para o mercado da China, indicou a Reuters.
Isto deve-se ao facto de a Volkswagen ter registado uma queda de 16,5% no segundo trimestre nas vendas de veículos elétricos no mercado europeu, um dos seus maiores segmentos, enquanto estas mais que duplicaram na China.
O total de entregas do grupo Volkswagen, a nível mundial, caiu 22,4% no segundo trimestre do ano, sendo que que as entregas afundaram mais acentuadamente na Europa Central e Oriental (-49,3%), avança a Reuters. Esta tendência também se alastra à Europa ocidental, cujas vendas recuaram 25,7% no segundo trimestre, enquanto as quedas no mercado americano e chinês se situaram entre os 16 e 18%.
Ainda assim, Arno Antlitz esclareceu que os registos de novos pedidos de encomendas permanecem preenchidos para os próximos meses.
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