BCE junta-se à Reserva Federal no discurso duro sobre subida dos juros
Membros do Conselho do BCE defenderam em Jackson Hole aumento "significativo" das taxas e sacrifício do crescimento económico e emprego para cumprir mandato de baixar inflação para 2%.
O presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, não foi o único com um discurso duro sobre a necessidade de subir as taxas de juro durante o simpósio de Jackson Hole. Os membros presentes do Conselho do BCE também vincaram a necessidade de uma política monetária mais restritiva, mesmo com a Zona Euro a caminho de uma provável recessão. Palavras que preparam um novo aumento “significativo” dos juros em setembro.
Villeroy de Galhau (na foto) governador do Banco de França, defendeu que as taxas devem continuar a subir até atingirem um nível considerado neutral, que não estimula nem trava a economia. Esse nível estará neste momento em volta de 1,5%. “Podemos lá chegar antes do fim do ano após mais um passo significativo em setembro”, afirmou no sábado durante o simpósio económico de Jackson Hole, citado pela Reuters.
O banco central da Zona Euro aumentou as taxas em 50 pontos em julho, acabando com os juros negativos na Zona Euro, naquela que foi a primeira subida desde 2011. A expectativa atual do mercado é que a decisão seja repetida na reunião do próximo dia 8. Mas outro membro do Conselho do BCE sobe a parada.
“Devemos estar abertos a discutir quer os 50 quer os 75 pontos base como possíveis movimentos, afirmou Martins Kazaks, presidente do banco central da Letónia, em declarações à Reuters à margem da conferência que teve lugar na estância de montanha no estado norte-americano do Wyoming. “Concentrar a subida dos juros no início do ciclo é uma opção sensata”, disse acrescentou.
Kazaks não está sozinho. Outros responsáveis com assento do Conselho querem que seja considerado um aumento de 75 pontos base, entre eles alguns “falcões” do BCE, como Klaas Knot, presidente do banco central neerlandês e Robert Holzmann, seu homólogo austríaco.
Villeroy de Galhau, considerado mais ao centro, sublinhou que se for necessário ir além da taxa neutral o BCE irá fazê-lo. “Baixar a inflação para os 2% é a nossa responsabilidade; a nossa determinação ou capacidade para cumprir o nosso mandato são incondicionais”, disse.
A credibilidade da política monetária e do BCE estão ameaçadas. O índice de preços no consumidor registou uma variação homóloga recorde de 8,9% em julho na Zona, quatro vezes mais do que o previsto no mandato. Uma preocupação expressa em Jackson Hole por Isabel Schnabel, membro do Conselho e da comissão executiva.
Se o público espera que os bancos centrais baixem a guarda perante os riscos para o crescimento económico — isto é, se abandonarem o combate à inflação prematuramente — então arriscamos a ter uma correção muito mais forte mais à frente.
A alemã afirmou que os bancos centrais arriscam perder a confiança do público e têm de agir de forma determinada, mesmo perante a deterioração da atividade. “Se o público espera que os bancos centrais baixem a guarda perante os riscos para o crescimento económico — isto é, se abandonarem o combate à inflação prematuramente — então arriscamos a ter uma correção muito mais forte mais à frente”, afirmou Isabel Schnabel.
“Tanto a probabilidade como o custo da inflação alta atual se entrincheirar nas expectativas são desconfortavelmente elevados”, disse Schnabel. “Neste ambiente, os bancos centrais precisam agir de forma vigorosa.”
“Os bancos centrais vão provavelmente enfrentar um rácio de sacrifício mais elevado do que nos 80, mesmo se os preços tiverem uma resposta mais forte a mudanças nas condições económicas, com a globalização da inflação a tornar mais difícil aos bancos centrais controlarem as pressões sobre os preços”, afirmou Schnabel, citada pelo Financial Times. O rácio mede o dano que a política monetária tem de inglingir no emprego e no crescimento para baixar a inflação.
Palavras que não são muito diferentes das proferidas por Jerome Powell na sexta-feira. O presidente da Reserva Federal que a economia dos EUA precisará de aperto monetário “durante algum tempo” para fazer regressar a taxa de inflação para o objetivo de 2%. O necessário abrandamento económico irá causar “alguma dor às famílias e empresas”. “Estes são os custos infelizes de reduzir a inflação. Mas uma falha em restaurar a estabilidade de preços significaria uma dor muito maior“, acrescentou.
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