Grandes empresas lançam programa para ajudar PME a ultrapassarem carências de gestão
Iniciativa da Associação Business Roundtable Portugal, em parceria com o Instituto Português de Corporate Governance, incluiu um guia de boas práticas, um scoring e uma bolsa de conselheiros.
A Associação Business Roundtable Portugal, em parceria com o Instituto Português de Corporate Governance, apresentou esta segunda-feira um programa que visa introduzir nas PME boas práticas de governo societário, acelerando o seu crescimento. Chama-se Metamorfose e pretende chegar a 50 mil empresas.
“A falta de escala e o problema da baixa produtividade do tecido empresarial português são temas que Portugal debate há largos anos e urge uma mudança deste paradigma para que seja efetivamente possível transformar o país e torná-lo mais próspero”, afirma António Rios de Amorim, vice-presidente e líder do grupo de trabalho Empresas da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), que reúne líderes de 42 grandes empresas portuguesas.
Durante a cerimónia de apresentação, que decorreu esta manhã no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, o também CEO da Corticeira Amorim explicou que foram ouvidas 35 entidades especialistas, nacionais e internacionais. Foi depois elaborado um processo de benchmarking, tendo sido identificadas três dimensões prioritárias: governo societário, internacionalização e financiamento.
“A mais unânime dos 35 especialistas que ouvimos é que o governance é absolutamente fundamental para que as empresas cresçam e se tornem grandes“, aponta António Rios Amorim. “A conclusão é que seria necessário acelerar a profissionalização da gestão das PME e robustecer as estruturas de governance que, nestas organizações, podem constituir uma barreira que impede as empresas de crescerem e se tornarem grandes”, acrescenta.
Assim nasceu o Programa Metamorfose, desenvolvido por 18 empresas dentro da BRP, com destaque para a Sogrape, Sonae, EDP e BPI. O objetivo, numa primeira fase, passa por chegar a 5% das 1,1 milhões de PME do país, ou seja, cerca de 50 mil. O outro grande parceiro foi o Instituto Português de Corporate Governance (IPCG).
João Moreira Rato, presidente do IIPCG, assinalou que “há uma identificação de um défice de profissionalização da gestão e uma carência de estruturas de governance” no tecido empresarial português, que resultam “num défice de crescimento“.
O responsável salientou que a ausência de um bom modelo de governo corporativo “é um obstáculo à capacidade para atrair talento, conseguir clientes de grande qualidade e investidores”. Torna também a gestão mais sustentável. “A promoção do G [Governance] do ESG é crucial para se ter melhorias no S [Social] e no E [Environment – ambiente]”.
Um guia, uma ferramenta de scoring e acesso a conselheiros
“Este é um programa ambicioso e pragmático, que acreditamos irá dotar o tecido empresarial, nomeadamente as PME, de ferramentas para que possam crescer. Queremos dotar as PME das melhores condições para se tornarem grandes e contribuírem para o sucesso económico do país”, afirmou Vasco de Mello, presidente da Associação BRP. Com esse objetivo, o Programa Metamorfose é composto por três ferramentas: um guia de boas práticas, um scoring e uma bolsa de conselheiros.
"Queremos dotar as PME das melhores condições para se tornarem grandes e contribuírem para o sucesso económico do país.”
O guia, disponível online, identifica um conjunto de 68 medidas e recomendações práticas que devem ser adotadas de forma gradual pelas empresas tendo em vista a evolução do modelo de gestão e o reforço das estruturas de governance.
No futuro estará também disponível um modelo de scoring [pontução] que permitirá às PME “medirem o seu grau de maturidade em matéria de governance, conhecerem os seus pontos fortes e fracos, e compararem a sua avaliação com os resultados do setor e com empresas de dimensão ou estágio de maturidade similares”, assinalam os promotores.
Em estudo está a possibilidade de empresas se candidatarem a uma certificação, baseada no scoring, que permita, por exemplo, melhores condições de financiamento. A ideia é que “os bancos pudessem utilizar este modelo no futuro para atribuir crédito. Também pode ser usado por auditores ou nas candidaturas a fundos europeus“, explica António Rios Amorim. O responsável sugeriu ainda que as empresas pedissem a adoção de modelos de governo corporativo aos fornecedores com que trabalham.
Ana Paula Marques, líder do grupo de trabalho de Corporate Governance da Associação BRP, afirmou que “os contactos iniciais com outras entidades já começou”, mas nada está ainda fechado. “Queremos ver o scoring a funcionar e depois aferir quando passamos para uma fase de certificação“, disse.
Por último, será disponibilizada uma bolsa de quadros de topo para colaborar com as empresas. Segundo o comunicado, a Associação BRP constituiu uma bolsa de conselheiros com mais de 40 quadros superiores e executivos das suas empresas, que, “em pleno respeito pela lei e boas práticas da concorrência, estarão disponíveis para desafiar e apoiar as equipas de gestão das PME interessadas em participar, e trazer uma visão externa e independente”. Para já arranca um piloto com quatro empresas e quatro conselheiros, que os promotores esperam escalar até ao final de 2022.
Com as empresas familiares na mira
“Muitas PME, com bom desempenho, chegam a um determinado patamar em que estagnam o seu crescimento”, observa Vasco de Mello. “Isto ocorre porque o empresário tem dificuldade em tocar todos os instrumentos do seu negócio. Se a empresa não estiver organizada com o governo adequado a probabilidade de estagnar é elevada”, acrescenta.
"Conseguimos ter sucesso na sucessão substituindo líderes carismáticos por modelos de governance.”
Uma questão que é mais premente nas empresas que são detidas pela família. “No contexto das empresas familiares, que são o número das empresas a operar em Portugal e no mundo, é necessário preparar a questão da sucessão com a adoção de boas práticas”, sublinhou o presidente da Associação BRP. “Conseguimos ter sucesso na sucessão substituindo líderes carismáticos por modelos de governance”, afirmou, por sua vez, António Rios Amorim, que deu como exemplo a sua própria empresa.
A assistir à apresentação estava Peter Villax, presidente da Associação das Empresas Familiares, que destacou que “desenvolver modelos de governo corporativo é essencial para gerir bem” estas empresas. Afirmou também que “o governo da família é tão importante como o da empresa”.
“Mitigar o risco é importantíssimo. Temos de ser mais transparentes e publicar os nosso modelos de gestão familiar. Os nosso modelos e práticas de governo da família deve fazer parte da avaliação de risco destas empresas. Os bancos deviam avaliar esta dimensão”, completou.
(Empresa atualizada às 15h30 com mais informação)
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