Comida, clima, dinheiro. Qual o “peso” de 8.000 milhões de pessoas no mundo?

  • Joana Abrantes Gomes
  • 12 Novembro 2022

Com o crescimento populacional a desafiar o uso de recursos, demógrafos e economistas aconselham os países ricos a adaptar-se ao envelhecimento e a apostar no progresso social dos menos desenvolvidos.

A população mundial deverá atingir o marco dos oito mil milhões na próxima terça-feira, dia 15 de novembro, segundo a estimativa do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas. Este número — que nunca foi tão elevado, mas que também está a desacelerar — esconde diferentes diagnósticos, se o planeta for dividido em regiões mais e menos desenvolvidas, mas levanta grandes alertas: ao nível da produção alimentar, das alterações climáticas e da distribuição de recursos. O que podem as economias fazer para se adaptarem ao crescimento demográfico e aproveitarem o aumento da esperança de vida?

Antes de responder à pergunta, importa perceber como é que o mundo chegou aqui. A explicação mais simples para o aumento da população mundial é que resulta de um saldo natural “muito positivo”, ou seja, o número de nascimentos supera bastante o número de óbitos, resume ao ECO a demógrafa e professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), Maria João Valente Rosa. No fundo, trata-se de um fenómeno denominado transição demográfica, que consiste na alteração da relação entre nascimentos e óbitos.

O presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD), Paulo Machado, explica que, no passado, essa relação fazia com que o crescimento da população tivesse “uma variação baixa”. Com a transição demográfica, observou-se uma redução muito relevante dos óbitos. Só que, numa parte do mundo — designadamente nos países da África subsariana, em parte da Ásia e, mais moderadamente, na América Latina –, “essa redução dos óbitos não foi acompanhada por uma redução dos nascimentos”, o que resultou na quadruplicação da população mundial em pouco mais de 80 anos, assinala o demógrafo.

Com a mortalidade a baixar muito e a natalidade a não baixar da mesma maneira, houve um aumento muito significativo da esperança média de vida à escala mundial. Em 1800, a esperança de vida à nascença era de 30 anos, sendo que nenhum país tinha uma esperança de vida acima dos 40 anos, de acordo com estimativas da época. Em 1950, a esperança média de vida à nascença era de 46,5 anos, enquanto em 2021 se fixou nos 71 anos.

Maria João Valente Rosa sublinha que esta evolução advém de progressos sociais importantes em áreas como saúde pública, nutrição, higiene das pessoas e medicina. No entanto, é algo “paradoxal”, ressalva. “O aumento da população mundial é um indicador de sucesso social, porque tem que ver com a diminuição da mortalidade. Mas representa, ao mesmo tempo, um sinal de alerta para o futuro, porque embora isto resulte de algo que foi benéfico para a população, o que acontece hoje é que o rápido crescimento da população é consequência do fraco desenvolvimento social“.

O motor foi positivo, mas a população continua a crescer muito e de uma forma desigual à escala regional. É nas zonas menos desenvolvidas, como países africanos, asiáticos e da América do Sul, que “a diferença entre os nascimentos e os óbitos é maior e, por isso, nascem muitos mais do que aqueles que morrem”, detalha a docente da FCSH-UNL. De acordo com a ONU, estes países representavam cerca de 8% da população mundial em 1950; hoje, já representam 14% da população mundial e espera-se que em 2050 representem 20% da população mundial.

os países mais desenvolvidos, que se concentram na Europa e na América do Norte, estão a perder protagonismo à escala mundial, quando foi neles que começou a explosão demográfica. “Os países europeus e os EUA e Canadá sofreram uma mutação muito significativa, que fez com que tivesse baixado a mortalidade, mas também tivesse baixado bastante a natalidade”, sustenta Paulo Machado. Se em 1950 representavam cerca de 32% da população do mundo, atualmente já representam cerca de 16% e, em 2050, poderão representar 13% da população mundial.

Noutras zonas do planeta, os desequilíbrios agravaram-se não tanto por um aumento da população, mas sim pelo povoamento. Isto é, a urbanização teve um crescimento brutal desde 1980/90, mais até do que o crescimento populacional em alguns casos. E nas novas zonas cada vez mais sobrepovoadas encontram-se desequilíbrios. É o caso do Brasil, que se tornou “muito mais assimétrico” por causa da sua urbanização, exemplifica o demógrafo.

Este aumento do volume populacional exige mais recursos, desde água e alimentos às matérias-primas. Que não são ilimitados. Até hoje a sua distribuição nunca foi feita de forma igual. Aliás, no final do século XVIII, Thomas Malthus alertava no livro “Ensaio sobre o Princípio da População” que a população, quando não controlada, cresce desmesuradamente e vai exceder os recursos naturais.

Por outras palavras, “se a população aumenta e os recursos não acompanham este crescimento, vai dar origem à miséria, à fome e, por sua vez, vai dar origem à morte”, precisa Maria João Valente Rosa. Acontece que a relação entre população e recursos está “razoavelmente controlada” apenas no sentido de “assegurar a sobrevivência em relação às zonas mais ricas”, acrescenta o presidente da APD.

Reconhecendo que nos países europeus e nos Estados Unidos já existem “dificuldades óbvias no domínio da água”, Paulo Machado dá como exemplo a tecnologia alimentar, que veio resolver parte dos problemas nestes países mais ricos e desenvolvidos. mas em países mais pobres e menos desenvolvidos, onde a tecnologia alimentar é menos eficaz, as dificuldades “já se manifestam há muito tempo e a ideia é que se vão acentuar”. Cenário semelhante deverá acontecer com os recursos energéticos.

Segundo Maria João Valente Rosa, este problema não tem unicamente que ver com o crescimento da população, como também com o estilo de vida e os modos de consumo e produção, sobretudo nas regiões mais ricas, provocando “um enorme desgaste no planeta” devido ao forte impacto ambiental.Se todos vivessem como os europeus ou os norte-americanos, o planeta já não chegava“, assevera.

Um relatório da ONU dá conta de que o sistema de produção de alimentos, tal como existe atualmente, não pode continuar sem causar graves danos ambientais. E alerta para a necessidade de se desenvolverem políticas que alterem as práticas desses sistemas e que as tornem sustentáveis, preservando a biodiversidade. Por exemplo, adaptar as colheitas à diversidade de climas e desenvolver melhores transportes e redes de distribuição alimentar.

Não podemos continuar a fazer mais do mesmo para responder a um crescente número de pessoas que habitam o planeta Terra. Para que mais gente consiga ter o alimento de que necessita para viver, é necessário que os sistemas de produção alimentar sejam adaptados a uma população em rápido crescimento.

Maria João Valente Rosa

Demógrafa e professora universitária da FCSH-UNL

Ainda assim, a economista Marta Sistelo, da Faculdade de Economia do Porto, observa que as taxas de crescimento da população têm desacelerado. Por isso, “o medo de que os alimentos não sejam suficientes para uma população maior parece menos preocupante do que o perigo da utilização dos recursos terrestres às taxas atuais, com consequências ambientais gravíssimas“, salienta.

Desenvolvimento social como “contracetivo” para a elevada fecundidade

Cimeiras como a COP27 – Conferência do Clima das Nações Unidas, que está a decorrer no Egito, procuram soluções para mitigar os desafios sociais, económicos e demográficos provocados por oito mil milhões de habitantes. Até ver, as consequências destes fóruns de discussão, no sentido do resultado prático, têm sido “razoavelmente modestas”. As palavras são de Paulo Machado, que sublinha que a escala a que essas soluções hoje se colocam “ultrapassa e muito a escala dos países”, deixando os governos “razoavelmente coartados na sua ação”.

“Por outro lado, mesmo dentro de cada país, as soluções — aquelas que poderiam ser imediatamente compreendidas como boas soluções — exigem recursos para os quais é difícil encontrar mobilização. Seja dentro dos próprios países, seja até através de recursos internacionais. Refiro-me a recursos de natureza financeira, mas também de natureza tecnológica”, remata.

A rápida criação de vacinas contra a Covid-19 é um bom exemplo de como a ciência e a tecnologia podem resolver problemas, ainda mais a nível global. Mas como corrigir as assimetrias populacionais? A política do filho único, experimentada na China, é uma das soluções mais conhecidas. Paulo Machado não a defende, visto que daí resultaram outros problemas demográficos. Mas é “a melhor solução” que conhece, de tal maneira que o país mais populoso do mundo vai ser rapidamente ultrapassado pela Índia.

Para o presidente da APD, “não existem propriamente” soluções — no limite, obrigaria a uma “verdadeira revolução, de modos de produção, política, cultural”. “Encontramos movimentos sociais importantes, mas são isso mesmo, movimentos sociais, que ainda não têm uma expressão que nos capacite a uma verdadeira transformação da sociedade”, lamenta.

Não obstante, como aconteceu no passado, a chave deve passar pelo desenvolvimento social. O crescimento populacional pode ser uma boa oportunidade sobretudo para os países da África subsariana, alguns da Ásia e parte da América Latina, designadamente onde a natalidade é maior, criarem “empregos mais produtivos e decentes”, de modo a “acelerar algum crescimento económico”, defende Maria João Valente Rosa.

Ao mesmo tempo, os governos dessas regiões necessitam de promover a desaceleração do seu crescimento demográfico, apostando em fatores como a educação, a igualdade de género e o acesso aos sistemas de saúde, particularmente à saúde reprodutiva e ao planeamento familiar. “A ideia é também diminuir as gravidezes indesejadas, que fazem com que nasçam muito mais crianças do que aquelas que à partida poderiam nascer”, argumenta.

Economias adaptadas ao envelhecimento da população

Contrariamente às regiões mais pobres, os países mais desenvolvidos deparam-se com os desafios trazidos pelos baixos níveis de mortalidade e de fecundidade, que resultam no envelhecimento das suas populações. Os cuidados de saúde de longa duração e o decréscimo da população em idade ativa são os principais, mas em alguns países, como Portugal, há ainda o desafio da sustentabilidade da Segurança Social.

O envelhecimento, com maior intensidade nos países mais desenvolvidos, é uma tendência que está e vai ficar, pelo menos, a médio prazo“, salienta Maria João Valente Rosa. Mitigar esta intensidade passa muito pela questão migratória. “Sobretudo pela entrada de pessoas do tipo laboral, ou seja, se esta entrada acontecer nas idades ativas, que são simultaneamente as idades mais férteis”, detalha a investigadora.

Por um lado, a imigração ajuda a compensar a diminuição das pessoas em idade ativa, para efeitos de mercado de trabalho e para efeitos de produtividade; por outro lado, as pessoas nas idades ativas estão também nas idades mais férteis e, por isso, acabam por contribuir para o número de nascimentos nos países mais envelhecidos.

Só em Portugal, 13,6% dos nascimentos que ocorreram em 2021 eram nascimentos cujas mães tinham nacionalidade estrangeira. “É uma fatia extremamente importante. Sem esses nascimentos, os nascimentos em Portugal no último ano – que já foram muitíssimo baixos – nem tinham atingido os 70 mil”, admite Maria João Valente Rosa, ressalvando que “não evita o prosseguimento do processo de envelhecimento”.

“Em países como Portugal são os imigrantes que ajudarão a travar a descida na taxa de natalidade, e serão um motor de crescimento e rejuvenescimento da população”, frisa a economista Marta Sistelo. Isto porque, justifica, “uma população envelhecida significa mais despesas com pensões e cuidados de saúde, menos força de trabalho e menor crescimento da produtividade com consequente impacto negativo no crescimento económico. A produtividade no trabalho é superior a meio da vida e, por isso, um aumento da população nessa idade tem um contributo direto para a produção nacional”.

Uma população envelhecida significa mais despesas com pensões e cuidados de saúde, menos força de trabalho e menor crescimento da produtividade com consequente impacto negativo no crescimento económico. A produtividade no trabalho é superior a meio da vida e, por isso, um aumento da população nessa idade tem um contributo direto para a produção nacional.

Marta Sistelo

Economista

Faz sentido os países continuarem a adotar os mesmos sistemas e modelos que tinham, quando a sua população está a envelhecer? A demógrafa argumenta que, em termos coletivos e individuais, “todos temos a ganhar se essas pessoas continuarem a ter um papel importante para a sociedade, contribuindo com algumas atividades que possam ser desenvolvidas”. “A idade não é um atributo importante para decidirmos sobre o valor de alguém“, sublinha.

No modelo atual, as pessoas iniciam uma atividade quando são mais novas e, de uma maneira geral, continuam nessa atividade ao longo do tempo. Mas as pessoas vão mudando as suas características e, quando são mais velhas, já não estão a fazer tão bem a sua atividade como faziam e também ficam cansadas de a fazer. Em resumo, indica a investigadora da FCSH-UNL, “o trabalho que estão a fazer não se adaptou também à mudança e não potencializou aquilo que, ao longo do tempo, a pessoa foi acrescentando a si própria”.

Com as sociedades sustentadas no conhecimento, e sendo este “um valor que não se perde com a idade”, a resposta passa pela formação contínua, não só para a atualização de saberes, mas também para a aquisição de novos conhecimentos, até porque as próprias empresas beneficiam desse aspeto, bem como a sociedade como um todo, defende Maria João Valente Rosa.

O demógrafo norueguês Vegard Skirbekk, que esteve recentemente em Portugal, defendeu precisamente a necessidade de mudar a forma como é encarado o envelhecimento da população. Paulo Machado ressalva, porém, que a questão não está na capacidade de adaptação, antes está no tempo da adaptação.

A velocidade da mudança, em termos do comportamento demográfico, não foi acompanhada de uma transformação societal que tivesse permitido acomodar facilmente e sem efeitos muito negativos aquilo que está a acontecer: temos muitos filhos que não têm sítio para ficar; temos instituições de má qualidade no acolhimento de idosos; não temos uma habitação ajustada às famílias, sobretudo na relação entre o local de trabalho e o local de residência, obrigando as pessoas diariamente a fazer deslocações que demoram horas.

Paulo Machado

Demógrafo e Presidente da Associação Portuguesa de Demografia

Entretanto, as estimativas da ONU publicadas em julho preveem ainda que o crescimento da população já está a desacelerar e que em 2086 vai mesmo começar a diminuir, o que resulta do fator do dividendo demográfico. Por um lado, com o envelhecimento da população, existem mais pessoas nas idades superiores e o número de óbitos começa a aumentar, enquanto serão cada vez menos as mulheres em idade reprodutiva (dos 15 aos 50 anos), logo, haverá menos nascimentos.

Em resumo, “a população vai desacelerar fruto do número de óbitos que vai ultrapassar o número de nascimentos; quando isto acontecer, a população mundial diminui”, explica Maria João Valente Rosa. Daí que os oito mil milhões precisem de ser vistos com uma “leitura dupla”: chegámos aqui pela diminuição significativa da mortalidade, mas isto não significa que devam continuar a aumentar.

Uma frase atribuída a Darwin diz: “Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem mesmo a mais inteligente, mas a que reage melhor à mudança”. Os demógrafos alertam que as mudanças que se fizerem levam muito tempo a produzir resultados, pelo que é preciso começar a trabalhar já. Com o crescimento da população mundial a desacelerar, as economias serão obrigadas a pensar a fecundidade sob a lente de aspetos como desigualdade, baixos níveis educacionais e pobreza.

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Passos Coelho: “Ilusões sobre milagre da dívida podem estar a chegar ao fim”

  • Lusa
  • 12 Novembro 2022

Antigo primeiro-ministro considera que "os esforços de redução orçamental em países como Portugal continuaram a depender sobretudo do sacrifício do investimento".

O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho alerta que “a ilusão” da consolidação orçamental dos últimos anos poderá estar a chegar ao fim e que a elevada carga fiscal indireta pode ser um travão à recuperação económica.

“Parece que as ilusões sobre o milagre da dívida e da consolidação dos últimos anos poderão estar a chegar ao fim”, adverte o anterior chefe do executivo português num texto de 40 páginas inserido no livro “Portugal – Alemanha Convergência e Divergências”, a que a Lusa teve acesso, e que estará em breve nas livrarias.

Pedro Passos Coelho contesta também a ideia “que vem sendo propalada” em Portugal de que a dívida europeia não terá custos para os países periféricos, considerando-a “manifestamente enganadora”.

Apesar de dissertar maioritariamente sobre as políticas europeias, o antigo primeiro-ministro deixa vários recados para Portugal, criticando sobretudo os impostos elevados que considera ser o sustentáculo da consolidação orçamental.

Como o tempo dos juros baixos está a ficar ultrapassado com o ressurgimento da inflação, a política monetária não só não ajudará a pagar os custos de financiamento daqui para a frente, como constituirá uma fonte de pressão para que os governos também imponham políticas mais restritivas para ajudar ao controlo da inflação

Pedro Passos Coelho

Antigo primeiro-ministro

A carga fiscal indireta elevada, que ajuda à ilusão de ter ‘contas certas’ sem políticas restritivas, acaba por ser um travão à recuperação quando as crises batem à porta” e “ainda mais em ambientes recessivos”, adverte.

O ex-líder do PSD considera que “os esforços de redução orçamental em países como Portugal continuaram a depender sobretudo do sacrifício do investimento e na concentração da ‘austeridade’ orçamental em torno de uma carga fiscal crescentemente elevada, centrada na tributação indireta”.

“Como o tempo dos juros baixos está a ficar ultrapassado com o ressurgimento da inflação, a política monetária não só não ajudará a pagar os custos de financiamento daqui para a frente, como constituirá uma fonte de pressão para que os governos também imponham políticas mais restritivas para ajudar ao controlo da inflação”, alerta.

Dívida é toda para pagar

O ex-chefe do executivo PSD-CDS insiste que “toda a dívida tem de ser paga, e esta dívida contraída nos mercados internacionais pela Comissão Europeia deverá contar com recursos próprios, que virão dos bolsos dos contribuintes de toda a União, para ser amortizada”.

“Se, por qualquer razão (relacionada por exemplo com a dificuldade de os governos virem a aceitar esses recursos próprios tal como desenhados pela Comissão Europeia, ou dificuldade simplesmente de os parlamentos nacionais os virem a ratificar) esses custos tiverem de recair diretamente sobre os meios a serem garantidos pelos Estados, então ficará claro que, independentemente de serem contribuintes ou beneficiários líquidos dos fundos europeus, serão os países a diretamente a suportar os custos do financiamento, e verificar-se-á mais uma vez a máxima económica de que ‘não há almoços grátis’”, sublinha.

Passos volta então a deixar mais um recado para o executivo português: “No caso de Portugal e dos portugueses, portanto, esses fundos serão tudo menos oferecidos (já que sempre serão pagos, direta ou indiretamente) e a ilusão de que, sendo da União, ninguém tem de os pagar ou de que serão os contribuintes dos países excedentários a suportar em exclusivo esse financiamento é tudo menos realista”.

Recordando o período da pandemia em que “foram os Estados mais endividados aqueles que menos despenderam” em medidas de apoio aos setores afetados pela crise”, o ex-primeiro-ministro indica que Portugal esteve “entre os mais condicionados no conjunto da União Monetária”.

“Apesar da retórica mais despreocupada a propósito da dívida durante alguns anos, a verdade é que a memória dos tempos da crise do euro acabou por trazer algum travão na utilização de recursos públicos no apoio à recuperação económica”, escreve.

Passos Coelho aborda também o passado para refutar a ideia de que a austeridade foi desnecessária.

A ideia de que a crise trouxe uma ‘austeridade’ desnecessária e desumana por imposição dos credores e por falta de determinação dos devedores é outra caricatura demasiado irrealista (tanto no que respeita aos credores propriamente ditos, como relativamente a qualquer dos governos em Portugal – tanto o governo socialista que negociou o pedido de ajuda, quanto o governo que chefiei e que ajustou o memorando recebido e negociado anteriormente”, argumenta.

Quanto à posição da Alemanha nesse período, o ex-líder do executivo português escreve: “Um aliado interessado em ajudar-nos a ultrapassar as dificuldades e a vencer a crise”.

No final do texto e depois de prever o fim das ilusões do “milagre da dívida”, mostra-se expectante quanto a uma inversão de políticas ao nível europeu.

“Veremos em breve se estamos perto de um virar de página no projeto europeu, ou se simplesmente viveremos com o fim das ilusões e prosseguiremos o equilíbrio instável em que nos temos habituado a viver”, conclui.

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Ministério do Ambiente prepara reunião com Rui Moreira por causa do Metro do Porto

Ministério do Ambiente pretende reunir-se com presidente da câmara do Porto por causa do impacto das obras de expansão da rede do Metro do Porto.

O Ministério do Ambiente prepara-se para marcar uma reunião com o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira. Em causa está o impacto na cidade da construção da linha Rosa do Metro do Porto e a ameaça do autarca de não serem autorizadas as obras de construção da linha Rubi e do metrobus na Avenida da Boavista.

A reunião deverá decorrer na semana entre 21 e 25 de novembro, já depois da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 27), segundo apurou o ECO. Ainda está em avaliação se a reunião vai contar com o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, ou o secretário de Estado da Mobilidade, Jorge Delgado, antecessor de Tiago Braga na presidência do Metro do Porto. O ministério liderado por Duarte Cordeiro está envolvido neste tema porque tutela o Metro do Porto.

Em carta enviada na quinta-feira ao presidente do Metro do Porto, o presidente da câmara do Porto manifestou a sua preocupação com o “impacto profundamente negativo” da construção da nova linha Rosa da Metro do Porto, alegando que a obra apresenta “excessivos atrasos” em “praticamente todas as frentes”. Rui Moreira acusou a empresa de cancelar as reuniões do grupo de trabalho conjunto com o município, STCP Serviços, empreiteiro e entidade fiscalizadora.

A linha Rosa deverá ficar pronta até dezembro de 2024. Conhecida como linha circular, vai ligar a estação de São Bento/Praça da Liberdade à Casa da Música, com a construção de novas estações em São Bento (II)/Praça da Liberdade, Hospital Santo António, Galiza e Casa da Música (II).

O autarca ameaçou mesmo não autorizar o lançamento da obra de construção da linha Rubi e do metrobus porque estas “não poderão ser concomitantes com as obras ainda em curso e cujo real cronograma não pode ser aferido”.

Um eventual atraso no lançamento das obras da linha Rubi pode ser comprometedor para a construção da segunda linha do Metro do Porto em Gaia: a empreitada, orçada em 299 milhões de euros, pertence ao Plano de Recuperação e Resiliência e tem de ficar pronta até ao final de 2025, sob pena de perder o financiamento comunitário.

A linha Rubi será uma nova linha do Metro do Porto entre Santo Ovídio (Vila Nova de Gaia) e Casa da Música (Porto). Em Gaia, as estações previstas são Santo Ovídio, Soares dos Reis, Devesas, Rotunda, Candal e Arrábida, e no Porto Campo Alegre e Casa da Música.

Na nova linha está prevista uma nova ponte sobre o rio Douro entre as zonas do Candal (Gaia) e do Campo Alegre (Porto). A necessidade da construção desta ponte já foi criticada por Rui Moreira: “Para que fique claro: não era ali que eu fazia a ponte. Não fazia a ponte com aquela altura. E até lhe digo mais: tenho dúvidas se a ponte é necessária”, referiu o autarca no final de setembro.

Antes do encontro entre Governo e câmara do Porto, está marcada para segunda-feira uma reunião restrita entre elementos da Assembleia Municipal do Porto e a administração do metro do Porto por causa da Linha Rubi.

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Centeno critica Carlos Costa e pede “respeito pelas instituições”

  • ECO
  • 11 Novembro 2022

"Permitam-me que deixa aqui hoje este apelo, um apelo de respeito pelas instituições", disse o ex-ministro das Finanças, na sequência da polémica que envolve o livro com declarações de Carlos Costa.

Mário Centeno deixou esta sexta-feira uma crítica a Carlos Carlos na sequência da polémica com a pré-publicação do livro onde o ex-governador do Banco de Portugal (BdP) deixa duras críticas ao primeiro-ministro. Citado pela TSF, Mário Centeno apelou ao “respeito pelas instituições”.

“A melhor estratégia para combater a desigualdade é a educação”, disse o atual governador do BdP esta sexta-feira, durante um discurso em que o objetivo era homenagear a economista Manuela Silva, falecida em 2019, e que se notabilizou pelo combate às desigualdades sociais.

Mas Centeno aproveitou para fazer referência, ainda que de forma indireta, à polémica com a pré-publicação do livro onde Carlos Costa critica o primeiro-ministro pela sua atuação em determinados momentos, levando o primeiro-ministro a avançar mesmo com processo judicial.

Não reduzimos a pobreza e desigualdade em democracia se não respeitarmos as instituições, quer quando as servimos, quer quando as deixarmos de servir. (…) Permitam-me que deixa aqui hoje este apelo, um apelo de respeito pelas instituições“, disse Mário Centeno, citado pela TSF. Questionado depois pelos jornalistas, o ex-ministro das Finanças disse que tinha sido “muito claro” no que tinha dito em palco.

No livro “O Governador”, do jornalista Luís Rosa, Carlos Costa acusa António Costa de, por exemplo, o ter pressionado para que Isabel dos Santos não fosse afastada da administração do banco BIC. António Costa vai avançar com um processo judicial. De acordo com o Observador, na obra são revelados “factos até agora desconhecidos sobre a intervenção da troika, o caso Banco Espírito Santo e a resolução do Banif, entre outros temas”.

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Novos casos e mortes por Covid descem na última semana. Internamentos aumentam

  • ECO
  • 11 Novembro 2022

Entre 1 de novembro e a passada segunda-feira, 7 de novembro, foram registados 5.291 novos casos de infeção e mais 44 mortes por Covid em Portugal.

Entre 1 de novembro e a passada segunda-feira, 7 de novembro, a Direção-Geral da Saúde (DGS) identificou 5.291 novos casos de Covid, em termos acumulados, menos 602 face aos registados na semana anterior. O boletim desta sexta-feira indica ainda que, neste período, morreram 44 pessoas, menos 12 com a doença face aos sete dias anteriores.

A região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) continua a registar o maior número de infeções. Dos 5.291 novos casos confirmados, 2.170 localizam-se nesta região, seguindo-se a região Norte, que contabilizou 1.233 novas infeções. Só no Algarve houve um aumento registado de novos casos, enquanto nas restantes regiões observou-se uma redução deste indicador.

A maioria dos infetados continua a recuperar em casa, mas voltou a verificar-se um aumento no número de pessoas hospitalizadas com Covid. Na segunda-feira, 7 de novembro, havia 571 pessoas internadas, mais 46 face à segunda-feira anterior. Deste total, 34 pessoas estavam internadas em unidades de cuidados intensivos (UCI), um número que não sofreu alterações face à segunda-feira anterior.

Boletim epidemiológico de 1 a 7 de novembro

A taxa de mortalidade está em quatro óbitos por milhão de habitantes, a sete dias, verificando-se menos 12 mortes face à semana anterior.

O boletim indica ainda que a incidência em Portugal fixou-se nos 51 casos por 100 mil habitantes, numa média a sete dias, o que representa uma redução de 11% face ao registado na semana anterior. Já o risco de transmissibilidade (Rt) subiu para 0,97, numa média a cinco dias.

Nove meses depois da última reunião, os especialistas voltaram esta sexta-feira a encontrar-se no Infarmed para avaliar a pandemia. No final do encontro, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, voltou a rejeitar a adoção de mais “medidas de saúde pública de natureza obrigatória”, mas lembrou que “virar a página não significa decretar o fim da pandemia por Covid.

(Notícia atualizada às 21h30 com mais informação)

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Acionistas da TAP aprovam alterações ao capital da companhia

  • Lusa
  • 11 Novembro 2022

Estas alterações servem para dar cumprimento ao plano de reestruturação, “inscrito nos compromissos que a empresa e o Estado português têm com Bruxelas”, diz o administrador financeiro da TAP.

Os acionistas da TAP aprovaram esta sexta-feira, em assembleia geral, uma proposta do Estado para um aumento do capital, seguido de redução em igual valor, e injeção de dez milhões de euros, confirmou à Lusa o CFO da companhia.

Segundo Gonçalo Pires, estas alterações servem para dar cumprimento ao plano de reestruturação, “inscrito nos compromissos que a empresa e o Estado português têm com Bruxelas”.

Na convocatória, disponível no site da companhia, o Estado deu conta da ordem de trabalhos, na reunião magna da TAP SGPS, para “a realização de um aumento de capital social da Sociedade do atual montante de 15.000.000,00 euros para o montante de 239.093.530,00 euros” na “modalidade de entradas em espécie a subscrever pela acionista República Portuguesa, representada pela Direção Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), mediante a conversão das prestações acessórias na Sociedade de que é titular a República Portuguesa, representada pela DGTF, no montante de 224.093.530,00 euros com a emissão de 22.409.353 novas ações ordinárias escriturais, com o valor nominal de 10,00 euros (dez euros)” cada uma.

Depois disso, foi votada “a realização de uma redução do capital social da sociedade no montante de 239.093.530,00 euros, correspondente à totalidade do capital social após o aumento” a que se reporta o ponto anterior “destinada à cobertura parcial de prejuízos da sociedade”, sendo que fica “esta redução condicionada à aprovação do aumento de capital previsto no ponto seguinte desta ordem de trabalhos, com a extinção de 23.909.353 ações representativas da totalidade do capital social da sociedade”.

Assim, “sendo aprovada a realização da redução do capital social da sociedade tal como prevista no ponto dois desta ordem de trabalhos”, os acionistas deliberaram “sobre a realização de um aumento do capital social da sociedade do então atual montante de 0,00 euros, para o montante de 10.000.000,00 euros”, a ser “integralmente subscrito” pela “acionista República Portuguesa, representada pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças”, no montante de 9.900.000,00 euros e “pela acionista Parpública – Participações Públicas (SGPS), S.A., no montante de 100.000,00 euros, ambos através de entradas em dinheiro, a que na totalidade corresponderá a emissão de um milhão de novas ações ordinárias escriturais, com o valor nominal de 10,00 euros cada”.

Outro ponto passou por “deliberar sobre a supressão do direito de preferência dos demais acionistas no aumento de capital previsto no anterior ponto” da ordem de trabalhos, lê-se no documento.

As mudanças previstas no capital social da TAP SGPS não dão direito a “qualquer indemnização”, tendo em conta que a redução do capital da companhia “ocorre por absorção de prejuízos”, ficando o Estado o único acionista, adiantou o Governo, no dia 12 de outubro.

Em resposta à Lusa, sobre a ordem de trabalhos de uma convocatória para a assembleia-geral da empresa, os ministérios das Finanças e das Infraestruturas e Habitação referiram que, “de acordo com a decisão da Comissão Europeia de aprovação do Plano de Reestruturação”, o “Estado português deve promover a redução do capital e absorção de prejuízos, e ainda o aumento do capital, no valor de 10 milhões de euros, por forma a que o Estado fique o único acionista”.

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Tripulantes da TAP “podem vir a ganhar mais” do que em 2019 se trabalharem mais, diz administrador financeiro

  • Lusa
  • 11 Novembro 2022

"Temos todos que ser mais produtivos, incluindo os tripulantes de cabine. Na British Airways podem trabalhar até 900 horas por ano. Porque é que na TAP só se pode trabalhar até 600?", diz Gonçalo Pire

O administrador com o pelouro financeiro da TAP (CFO), Gonçalo Pires, garantiu que “todos os tripulantes de cabine da TAP podem vir a ganhar mais do que ganhavam em 2019”, mas que para isso têm de “trabalhar mais”.

Em entrevista à Lusa, a propósito da renegociação dos acordos de empresa que está a decorrer na companhia, e que motivou a convocação de uma greve pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Gonçalo Pires disse que a proposta da TAP assenta no aumento da produtividade.

“Não queremos confundir ninguém, é preciso ter uma discussão informada e perceber que a reação do sindicato dos tripulantes de cabine à proposta da TAP” deve ser “enquadrada no mundo real”, referiu, salientando que não há “mais oportunidades para fazer da TAP uma empresa financeiramente sustentável”, tendo em conta as ajudas de Estado, de 3,2 mil milhões de euros, o que obriga a “administração a rever a estrutura de custos da empresa e fazer tudo o que está ao seu alcance para tornar a empresa financeiramente rentável”.

“Neste contexto, ter acordos coletivos de trabalho que sejam competitivos, modernos, ajustados aos tempos que vivemos, a momentos de competitividade com outras companhias aéreas é uma obrigação da empresa e desta administração”, destacou.

O CFO da TAP considera que os atuais acordos “são antigos” e “fora de prazo”, sendo preciso ajustá-los “aos tempos modernos”, citando um estudo, de um consultora para a companhia, que concluiu, segundo o gestor, que “para as duas grandes categorias profissionais de tripulantes de cabine, na do comissário assistente na TAP ganham 25% mais, já depois dos cortes salariais, e no caso do topo da carreira, dos supervisores de cabine, 50% mais” do que na British Airways.

O SNPVAC, num comunicado esta semana, contestou a publicação destes dados, que considera um “ataque difamatório”. Segundo Gonçalo Pires, “a TAP não existe contra grupos profissionais”, garantindo que são “uma família” que deve “contribuir para o mesmo, para tornar a empresa sustentável”. “Queremos em boa-fé negociar estes acordos de trabalho para garantir precisamente a sustentabilidade da empresa”, indicou, referindo que “todos os tripulantes de cabine da TAP podem vir a ganhar mais do que ganhavam em 2019. Têm é de trabalhar mais”.

“Nós temos todos que ser mais produtivos, incluindo os tripulantes de cabine. Na British Airways podem trabalhar até 900 horas por ano. Porque é que na TAP só se pode trabalhar até 600?”, questionou.

O CFO recusou que os tripulantes de cabine possam perder em média 450 euros com o novo acordo. “A nossa proposta faz um ajuste da remuneração fixa. Mas paga mais se se voar mais”, reforçou. “O mandato desta administração é entregar o plano [de reestruturação]. E o plano obriga-nos a ser financeiramente sustentáveis. E para atingir essa sustentabilidade temos de mexer em contratos que são antigos e prejudicam a empresa e estamos a fazê-lo para todos”, garantiu, realçando que a gestão tem de “rever os acordos coletivos de trabalho que infelizmente garantem muito pouca produtividade”.

“Isto não é nenhuma injustiça”, sublinhou, afirmando que é preciso “negociar de boa-fé” porque “é uma mudança na vida das pessoas”, sendo que “no caso dos tripulantes de cabine em média o corte representa 120 euros na remuneração fixa”, indicou, reconhecendo que “é uma alteração contra as condições que tinham em 2019”.

Questionado sobre o sentido de oportunidade de avançar com estas medidas numa altura de inflação elevada, Gonçalo Pires disse que a administração não esquece “a situação” atual, recordando que já foi anunciado que, “dependendo dos resultados do final do ano”, está “a equacionar uma forma de compensar excecionalmente o impacto da inflação”.

Sobre as negociações com os pilotos, Gonçalo Pires disse que estão “mais avançadas”, mas ainda longe de um desfecho. Segundo o CFO, os pilotos “aceitaram a nova proposta da TAP e estão a negociá-la. Sabem que a proposta que fizemos não vai ser aquela que vai ficar, porque isto é uma negociação, mas aceitaram e estamos à mesa e a discutir ponto a ponto. É isso que queremos fazer com todos os grupos profissionais e é isso que gostaríamos que acontecesse com os tripulantes de cabine”, indicou.

“Nós não estamos a negociar para beneficiar uns e prejudicar outros. Percebemos que existem especificidades em cada um dos grupos profissionais e obviamente que a rapidez com que fecharmos com cada um não depende só de nós, mas também da vontade que eles têm de chegar a acordo”, referiu.

“Estamos a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor” na operação

Gonçalo Pires garantiu também que a administração da companhia está “a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor” em termos operacionais, sobretudo no verão. O gestor disse que a empresa estava “a trabalhar precisamente para isso”, mas recordou vários constrangimentos. A TAP, à imagem de outras companhias aéreas europeias, cancelou dezenas de voos durante o verão por problemas operacionais.

A TAP vive com um tema estrutural, que é a nossa infraestrutura. Estamos com um aeroporto congestionado”, recordou, abordando ainda a questão da insolvência da Groundforce, que presta serviços de assistência em terra nos aeroportos (handling), processo sobre o qual disse esperar “ter notícias em breve”.

“Tivemos estes upgrades tecnológicos na NAV [que implementou um novo sistema], estamos a lidar com o absentismo dos tripulantes de cabine”, destacou, indicando que é preciso melhorar “em cada um destes pontos para no próximo verão ter uma operação muito mais consistente”.

Gonçalo Pires reconheceu que é nos picos da atividade que existem os “maiores problemas”. Por isso disse que a companhia estava muito concentrada “em garantir que o próximo verão correrá muito melhor”, apontando ainda os problemas de frota que prejudicaram a companhia.

“Quando chegamos havia um plano para receber seis novos E-jets da Embraer”, mas “esses aviões estão ainda atrasados, só recebemos três e ainda estamos à espera de três que esperamos receber até ao início do próximo ano”, indicou, recordando ainda as questões em torno da “fiabilidade da frota de [aviões] ATR”.

“Reduzimos a frota dos ATR e acabamos o contrato com a White”, recordou, explicando que “não era um operador com uma sustentabilidade financeira para garantir serviço aos clientes da TAP”, sendo que, por isso, haverá “mais fiabilidade na operação” da companhia. “Estamos a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor”, rematou.

Questionado sobre a possibilidade de a TAP optar por mais contratos de prestação de serviços externos, conhecidos na aviação como ACMI, o administrador financeiro realçou que “em 2022 foram menores do que em 2019”. Gonçalo Pires justificou a opção por estes contratos, muito contestados pelos sindicatos, “pelo atraso dos E-jets”, indicando que foi preciso “proteger o serviço”, e por “um problema técnico” com a frota do A339 da Airbus.

“A guerra criou problemas na cadeia de abastecimento e isto está a gerar grandes impactos nas cadeias de produção especialmente em aviões”, referiu, lembrando que depois da pandemia “houve uma grande recuperação da atividade e isso causou problemas”. “Para o ano é possível que tenhamos que usar taticamente ACMI se tivermos algum problema com algum dos nossos parceiros, mas será sempre para suprir uma operação, todas as companhias aéreas o fazem”, sublinhou.

 

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Galp conclui programa de recompra de ações no valor de 150 milhões

  • Lusa
  • 11 Novembro 2022

Através deste plano, a empresa comprou 14.139.087 títulos, representativos de, aproximadamente, 1,71% do total de ações da petrolífera.

A Galp concluiu esta sexta-feira o seu programa de recompra de ações, no valor de 150 milhões de euros, através do qual adquiriu cerca de 1,71% dos títulos da empresa, tendo por objetivo reduzir o capital em bolsa.

“A Galp concluiu hoje, 11 de novembro de 2022, o seu programa de recompra de 150 milhões de euros em ações próprias”, anunciou, num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A empresa tinha iniciado a recompra em 12 de maio.

Através deste plano, comprou 14.139.087 títulos, representativos de, aproximadamente, 1,71% do total de ações da petrolífera. Segundo a mesma nota, todas as ações recompradas vão ser canceladas até ao final do ano. Na sessão da bolsa, esta sexta, as ações da Galp subiram 3,01% para 11,31 euros.

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NeoGreen Portugal investe mil milhões em fábrica de hidrogénio verde em Sines

  • Lusa
  • 11 Novembro 2022

A unidade de produção de hidrogénio 'verde' e combustíveis derivados ficará instalada num terreno de 10,5 hectares da Zona Industrial e Logística de Sines.

A joint venture NeoGreen Portugal vai investir mais de mil milhões de euros na instalação de uma fábrica para a produção de hidrogénio ‘verde’ e combustíveis derivados, no concelho de Sines (Setúbal), foi divulgado esta sexta-feira. De acordo com a aicep Global Parques, em comunicado, o investimento superior a mil milhões de euros resulta de uma colaboração empresarial entre a NeoGreen Hydrogen Corp (Canadá) e a portuguesa Frequent Summer S. A., para a instalação de um complexo “eletrolisador de mais de 500MW [megawatts]”.

A unidade de produção de hidrogénio ‘verde’ e combustíveis derivados ficará instalada num terreno de 10,5 hectares da Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS) e o contrato de reserva de direito de superfície é assinado, na segunda-feira, em Lisboa, na presença do secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz.

Para o governante, citado no comunicado, o projeto vai “corporizar a Estratégia Nacional para o Hidrogénio na constituição de um ‘Sines Hydrogen Valley’, concretizando a aposta do Governo em desenvolver a economia portuguesa com base numa dupla transição energética e digital”.

Sines está neste momento a consolidar, instalar ou atrair investimentos em Logística, Indústria & Energia e Telecomunicações das mais diversas geografias: Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Holanda, Dinamarca, Polónia, Suécia, Reino Unido, Irlanda, Tailândia, Singapura, Malásia, China, Austrália, Brasil, EUA, e claro, Canadá”, sublinhou.

Por sua vez, o presidente executivo da NeoGreen Hydrogen Corp., Chris Corson, referiu que a empresa, detentora de “um portfólio de projetos de hidrogénio verde em todo o mundo”, está “particularmente entusiasmada” com esta aliança. “Ter um projeto no coração da UE [União Europeia], que será um dos principais centros de procura de hidrogénio nos próximos anos, é estratégico para nós como empresa e esperamos construir essa oportunidade ao lado dos nossos parceiros da Frequent Summer”, sublinhou o responsável citado no mesmo comunicado.

Já o vogal do Conselho de Administração da Frequent Summer, empresa que desenvolve parques fotovoltaicos há mais de 20 anos em diversos países, Rogério Ponte, explicou que este projeto “é a continuação da aposta na inovação e no futuro de energias renováveis” e realçou “a sustentabilidade que este enorme projeto de H2V representa para a região de Sines e para Portugal”.

Por sua vez, o diretor executivo da aicep Global Parques, entidade gestora da ZILS, Filipe Costa, afirmou que “este prospetivo investimento de mil milhões de euros pela NeoGreen no Complexo Portuário, Logístico e Industrial de Sines insere-se num pipeline de projetos que somam cerca de 20 mil milhões de euros de investimento no horizonte de 2030”.

Segundo o responsável, estão previstos “2.500 milhões de euros em logística marítima e terrestre, 12.500 milhões de euros em projetos industriais descarbonizados e circulares e 5.000 milhões de euros em telecomunicações, estações de amarração de cabos submarinos e centros de dados”.

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Deputados batem novo recorde e apresentam mais de 1.800 propostas de alteração ao Orçamento

O Chega é o partido que apresenta o maior número de propostas de alteração com 505, seguido do PCP, tradicionalmente o campeão neste ranking, que apresentou 425. No total há 1.853 propostas.

Os partidos com assento parlamentar entregaram, até esta sexta-feira, data limite para o fazerem, mais de 1.800 propostas de alteração à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2023 (OE2022). Este é um novo máximo, depois das 1.516 entregues na discussão do OE2021.

Apesar de o Executivo ter maioria absoluta, os partidos não se coibiram de apresentar centenas de propostas de alteração, superando largamente as 1.486 que foram entregues aquando da discussão da proposta de OE2022, em maio deste ano.

De acordo com a página da Assembleia da República, às 20h00 de domingo, estavam registadas no sistema 1.853 propostas de alteração. O número foi aumentando desde sexta-feira, à hora em que terminou o prazo de entrega, já que as propostas levam algum tempo a ser carregadas no sistema. E se a sexta-feira começaram por estar 1584 propostas, o número rapidamente superou as 1.600 (19h15), atingindo as 1.748 ainda nessa noite. Ao almoço de sábado já eram mais de 1.800 — um recorde absoluto.

Em maio, por exemplo, no dia em que terminou o prazo para a entrega de propostas, havia 1.373 no sistema, como avançou a Lusa, mas no dia seguinte à tarde já somavam 1.486 propostas de alteração.

Este ano, o Chega é o partido que apresenta a maior fatia, com 505, seguido pelo Partido Comunista (425), que era tradicionalmente o que mais propostas de alteração costumava apresentar. As propostas do PCP representam “uma opção de rutura que se confronta quer com a maioria absoluta do PS, quer com as opções e propostas de PSD, Chega e IL”, além de responderem “a muitos dos problemas” do país, disse a deputada Paula Santos, citada pela Lusa.

No ranking dos partidos que apresentaram mais propostas segue-se o PSD com 264, seguido de muito perto pelo PAN com 262 — que sinalizou a “abertura” do Governo para dialogar em torno de algumas propostas –, o Bloco de Esquerda com 152, o Livre com 137 e o PS com 70.

No extremo oposto está a Iniciativa Liberal que apresentou apenas 34 propostas de alteração. Uma intervenção “cirúrgica e parcimoniosa”, porque o partido recusa entrar “no campeonato da fita métrica”, explicou esta sexta-feira a deputada Carla Castro.

(Notícia atualizada às 20h11 de 13/11/2022 com atualização dos dados)

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Renegociação do crédito da casa isenta de imposto do selo com efeitos a 1 de novembro

Grupo parlamentar do PS avança com proposta para isentar de imposto do selo as operações de reestruturação de crédito. Medida terá efeitos a 1 de novembro.

A reestruturação dos empréstimos à habitação, que as famílias em dificuldades com a subida das taxas de juro negociarem com os bancos, vai estar isenta de imposto do selo, com a isenção a abranger operações realizadas a partir de 1 de novembro, de acordo com uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2023 do grupo parlamentar do PS.

“Propõe-se uma isenção de imposto do selo para as operações de reestruturação do crédito em regime legal de crédito habitação, em concreto para as prorrogações de prazo e refinanciamento da dívida, considerando que as operações de mudança de instituição de crédito já estão atualmente isentas nos termos da alínea j) do n.º 1 do artigo 7.º do Código do Imposto do Selo”, lê-se na proposta subscrita pela bancada parlamentar socialista.

O Governo apresentou na semana passada medidas que visam apoiar as famílias que nos últimos meses sofreram um agravamento significativo da sua taxa de esforço, permitindo a renegociação do crédito à habitação (até 300 mil euros) sem qualquer penalização e comissões. Mas não ficou claro se estas operações estavam isentas de imposto do selo.

Agora, os socialistas apresentam uma proposta para clarificar essa situação e, tendo em conta que o Orçamento do Estado para 2023 só entrará em vigor a 1 de janeiro do próximo ano, fazem a ressalva de que estas isenções se aplicam “aos factos tributários ocorridos entre 1 de novembro de 2022 e 31 de dezembro de 2023”.

Esta clarificação havia sido pedida pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) no comentário que enviou ao Parlamento esta semana, com os bancos a proporem mais duas medidas: suspender ou anular o englobamento obrigatório das mais-valias mobiliárias para alguns casos e que se passasse a considerar subsídios sociais atribuídos aos trabalhadores como “realizações de utilidade social” para efeitos de IRC.

Os banqueiros defenderam as medidas propostas pelo Governo, apesar de levantarem algumas dúvidas e de estarem à espera do diploma final, e asseguraram que vão disponibilizar todas as soluções ao seu alcance para apoiar os clientes. No caso da Caixa Geral de Depósitos, o banco público disse estar em negociações com 500 famílias em situação de maior dificuldade em cumprir o pagamento das prestações.

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“Liderança é sobre o nós e não sobre o eu”, diz Ken Blanchard

O guru da "servant leadership" esteve presente remotamente no Encontro Nacional da APG para falar sobre a liderança e os seus desafios.

“A liderança é sobre o nós e não sobre o eu”, defendeu Ken Blanchard, autor best-seller de “Um nível superior de Liderança”, durante o 53.º Encontro Nacional da APG, no painel “Taking People and Business to the Next Level”, a decorrer esta sexta-feira na Alfândega do Porto.

Criador do conceito “servant leadership“, Ken Blanchard refere que não se trata de uma liderança servil, mas sim de ajudar as pessoas a atingir o seu potencial. E para isso, para que haja uma liderança eficaz, há que construir confiança com os colaboradores. “Sem confiança, não há lealdade”, disse Blanchard, que se juntou remotamente ao encontro através de uma videochamada.

Ouvir mais do que falar, questionar mais do que ordenar são algumas das estratégias que a liderança deverá levar a cabo, de modo a “revelar o melhor das pessoas” e a implementar uma “filosofia do nós”.

A liderança, argumenta, deve também ajustar o seu estilo às diferentes pessoas e aos objetivos que estas têm na organização. E, claro está, construir confiança com o outro.

“A confiança tem de ser construída de forma intencional”, disse Randy Conley, vice-presidente da Ken Blanchard Companies, que participou também no encontro. “A confiança é, aliás, uma skill que pode ser aprendida”, argumenta.

ABCD da confiança

Conley fala até de um “abecedário da confiança”: A, para able (capaz, ser reconhecido pela competência); B para believable (executar o que preconiza); C para connectivity (realmente preocupar-se com as suas pessoas) e, por fim, D para dependable (concretizar os seus compromissos).

“A, B, C, D é a linguagem da confiança”, diz Randy Conley, e a forma de aumenta-la, junto dos colaboradores e dentro da organização.

Mas há que ‘abandonar’ o controlo. “Os líderes bem sucedidos têm de estar dispostos a abandonar o controlo e confiar nas suas pessoas”, argumenta.

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