Serviços mínimos nas escolas passam a abranger aulas

A partir desta quinta-feira, as escolas estão obrigadas a assegurar 3 horas de aulas por dia para todos os níveis de ensino, na sequência dos serviços mínimos decretados por causa da greve do Stop.

A partir desta quinta-feira, as escolas terão que garantir que serão asseguradas três horas de aulas diárias, na sequência dos serviços mínimos decretados para a greve convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop). Decisão abrange o pré-escolar e os ensinos básico e secundário.

Em causa está uma nova decisão do Colégio Arbitral, que se aplica às greves convocadas pelo sindicato liderado por André Pestana e que, pela primeira vez nesta vaga de protestos iniciada em dezembro do ano passado, fixa serviços mínimos que abrangem as aulas.

Assim, a partir desta quinta-feira e, pelo menos, até 24 de fevereiro, os professores terão que prestar três horas educativas (pré-escolar) ou letivas (1.º ciclo) em cada dia, “com termo no período de refeição”. Ou seja, para estes casos a decisão centra-se no período da manhã.

Já nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e no ensino secundário, terá que ser assegurada a “prestação de três tempos letivos (aulas) diários” por cada turma. Além disso, deve ser garantida “semanalmente a cobertura das diferentes áreas disciplinares / disciplinas / componentes de formação do currículo”.

Esta decisão foi para um pré-aviso de greve decretado pelo Stop até 24 de fevereiro. Contudo, este sindicato já estendeu estes pré-avisos para, pelo menos, até 10 de março, que estarão a ser analisados. Paralelamente, outras greves a decorrer. A Fenprof, maior estrutura sindical do setor da Educação, tem entregues pré-avisos de greves até sexta-feira, que juntam educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário. Já a Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), tem pré-avisos entregues até 10 de março, tal como Stop, ainda que no caso da ASPL a greve diga respeito ao sobretrabalho.

Além das três horas de aulas por dia, um acórdão anterior já tinha determinado que as escolas tinham de assegurar serviços de refeição, vigilância da portaria, recreios e apoios pedagógicos e terapêuticos aos alunos.

Os serviços mínimos têm sido alvo de críticas por parte dos diretores escolares, que estão responsáveis por assegurar as escalas para estes serviços mínimos, e há diretores que ponderam demitir-se, segundo o Jornal de Notícias.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • Joana Abrantes Gomes
  • 16 Fevereiro 2023

Esta quinta-feira, o foco é o Conselho de Ministros sobre a Habitação, mas há ainda a apresentação de resultados da Navigator e o relatório sobre as empresas públicas do CFP.

A habitação volta a estar na ordem do dia, com um Conselho de Ministros dedicado exclusivamente ao tema e que aprovará uma nova estratégia do Governo. Em destaque está também o retrato do Conselho de Finanças Públicas ao setor empresarial do Estado em 2020/2021, bem como a eleição do sucessor de Miguel Guimarães no cargo de bastonário da Ordem dos Médicos. A Navigator divulga os resultados financeiros de 2022 após o fecho do mercado.

Conselho de Ministros dedicado à Habitação

O Governo reúne-se esta quinta-feira para um Conselho de Ministros exclusivamente dedicado à política de habitação, após o qual a ministra da tutela, Marina Gonçalves, deverá apresentar a nova estratégia para o setor. Entre as medidas que deverão ser aprovadas destacam-se a disponibilização de mais solos para a construção de habitação, incentivos à construção de casas por parte de privados e para quem é proprietário de habitação colocar as casas no mercado de arrendamento, e ainda apoios para os jovens acederem com mais facilidade ao aluguer das casas.

Navigator apresenta contas de 2022

Depois do fecho do mercado, a Navigator divulga os resultados financeiros relativos a 2022. Nos primeiros nove meses do ano, a papeleira registou um aumento homólogo dos lucros de 136,7%, para 270,5 milhões de euros, bem como um crescimento de 63% nas vendas, para 1,8 mil milhões de euros. Em 2021, os lucros da Navigator aumentaram 57% para 171 milhões de euros.

Último dia para escolher próximo bastonário da Ordem dos Médicos

A segunda volta das eleições para bastonário da Ordem dos Médicos (OM), que decorre desde 7 de fevereiro, termina esta quinta-feira. Carlos Cortes e Rui Nunes disputam a sucessão de Miguel Guimarães para o triénio 2023/2025, depois de nenhum dos seis candidatos obter a maioria necessária para vencer à primeira volta, realizada entre 10 e 19 de janeiro.

Qual o retrato do setor empresarial do Estado em 2020/2021?

O Conselho de Finanças Públicas (CFP) publica, esta quinta-feira, o relatório sobre o setor empresarial do Estado nos anos de 2020/2021. No primeiro estudo do género, com respeito a 2019/2020, a entidade presidida por Nazaré Costa Cabral concluiu que a pandemia de Covid-19 agravou o prejuízo das 143 empresas públicas, que se situou nos 2,5 mil milhões de euros no ano de 2020. A exceção foi o setor financeiro – em que se inclui a CGD –, que apresentou resultados positivos de 515 milhões de euros.

Professores têm de garantir, pelo menos, 3 horas de aulas por dia até 24 de fevereiro

A partir desta quinta-feira e até ao dia 24 de fevereiro, datas em que estão agendadas greves convocadas pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), os professores vão ter de garantir três horas de aulas por dia. A decisão é justificada pelo Tribunal Arbitral com as desigualdades entre o ensino público e privado e o facto de as avaliações do 2.º período letivo deverem estar concluídas a 31 de março.

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Retrato da crise habitacional em 5 gráficos

O mercado à habitação em Portugal vive uma tempestade perfeita alimentada por uma subida contínua dos preços das casas, das rendas e pela escalada das taxas de juro.

O mercado imobiliário está há largos anos em ebulição. Desde 2017 que o preço de venda das casas sobe a um ritmo médio de 9,7% por ano. Só no ano passado, até setembro, o índice de preços residenciais do Confidencial Imobiliário revela uma subida homóloga de 19,4%.

Para os proprietários de imóveis, estes dados são bem recebidos, pois traduzem-se numa valorização do seu património imobiliário. Porém, para quem procura casa as dificuldades não param de aumentar.

No estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”, promovido pela Century 21, os seus autores revelam que entre 2019 e 2022 há uma clara deterioração no acesso à habitação por todo o país. “O problema passa pela perda de poder de compra da população, com os preços das casas a atingirem uma subida média de 38%, a nível nacional, enquanto o aumento do rendimento disponível das famílias, no mesmo intervalo de tempo, se fixou apenas nos 9%, na média das capitais de distrito.”

A escalada das taxas de juro no último ano foi somente a última acha para a fogueira de uma extensa crise na habitação que tem vindo a ganhar volume ao longo dos últimos anos e que esta quinta-feira contará com a apresentação de um pacote de iniciativas por parte do Governo para enfrentar este problema, no seguimento de um Conselho de Ministros extraordinário.

Preços de venda sobem em flecha por todo o país

Nos últimos cinco anos, o preço médio de venda da habitação aumentou por todo o território nacional. Entre os 24 municípios mais populosos, destaque para Seixal, Sintra, Setúbal, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia que registaram uma quase duplicação do preço por metro quadrado entre 2018 e 2022.

Fonte: Confidencial Imobiliário. Valores em euros por metro quadrado.

Rendas não dão sinais de abrandamento

Segundo dados do Confidencial Imobiliário, desde 2018 que o preço do metro quadrado dos imóveis arrendados aumentou, em média, 35%. Numa casa de 100 metros quadrados, esta subida traduziu-se na passagem de uma renda de 880 euros em 2019 para 1.190 euros no final do ano passado.

Apesar de Lisboa continuar a ser o município onde é mais caro arrendar casa, com o preço a situar-se nos 15,8 euros por metro quadrado, foi em Matosinhos onde a renda média contratada mais aumentou: cerca de 12% ao ano entre 2019 e 2022.

Fonte: Confidencial Imobiliário. Renda média (em euros) de uma habitação com 100 metros quadrados.

Custo financeiro para comprar quase quadruplicou num ano

De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa de juro dos novos contratos de créditos à habitação passou de 0,83% em dezembro de 2021 para 3,24% em dezembro do ano passado. Atualmente, o custo financeiro para comprar casa em Portugal está no valor mais elevado desde junho de 2014 e é 36 pontos base superior à média da Zona Euro.

Fonte: Banco de Portugal. Entende-se por novos contratos de crédito à habitação os contratos celebrados nos últimos três meses.

Subida dos custos de construção pressiona preços das casas

Desde 2009 que os custos associados à construção de habitação nova estão a subir de forma constante. No entanto, nunca registaram um aumento tão grande como o verificado no ano passado, com o Índice de Custos de Construção de Habitação Nova (ICCHN) a registar uma variação média de 11,9%.

Fonte: INE. Índice de base 100 (2015 = 100).

Oferta não acompanha a procura

Os últimos dados do INE mostram que entre janeiro e setembro do ano passado entraram no mercado 14,5 mil novas casas para a habitação, um crescimento de apenas 1,6% face ao mesmo período de 2021. A somar a isto está também a dinâmica dos licenciamentos edifícios para habitação familiar, que no último ano registaram uma queda de 0,7% face a 2021.

Fonte: INE. Os dados de 2022 referentes aos fogos concluídos agregam apenas números até ao terceiro trimestre do ano.

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Empreitada do Governo para habitação não convence especialistas

Marina Gonçalves revela grande plano para resolver um dos maiores problemas de Portugal na atualidade: casas compatíveis com os rendimentos das famílias.

A ministra Marina Gonçalves vai vestir o colete e pôr o capacete para apresentar a grande empreitada do seu mandato. O Governo revela esta quinta-feira a estratégia para a habitação. A nova estratégia pretende resolver o problema da habitação em todas as divisões, desde os que querem arrendar ou comprar uma casa até às famílias que pretendem continuar no seu lar mas sem serem sufocadas pela prestação do banco. Os especialistas contactados pelo ECO, no entanto, temem que o executivo não seja suficientemente ambicioso nesta matéria.

O ponto de partida para a empreiteira Marina Gonçalves é o facto de em 2018 terem sido identificadas cerca de 26 mil famílias a viverem em casas sem condições e que necessitavam de um lar urgentemente. “Passados cinco anos, para essas famílias, pouco ou nada mudou”, lamenta Gonçalo Antunes. Mesmo que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tenha avançado com a solução Primeiro Direitoninguém nos garante que os objetivos vão ser realmente alcançados”, receia o especialista em Habitação da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-Nova).

As famílias estão expostas à boa vontade dos bancos num momento de particular fragilidade, em que o seu poder de negociação é quase inexistente

Gonçalo Antunes

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Entretanto, a lista de pessoas em casas sem condições cresceu para praticamente o dobro. Em março de 2022, estavam a ser definidas soluções para mais de 46 mil famílias, através das estratégias locais de habitação, segundo dados adiantados ao ECO pelo então Ministério das Infraestruturas e da Habitação. “Não se sabe que soluções vão ser adotadas nem que verbas vão ser alocadas”, critica o investigador da FCSH-Nova.

A estes problemas podem-se acrescentar os “problemas qualitativos da habitação”, em que 25% das famílias vivem em situação de pobreza energética e outros 16% têm dificuldade em manter a residência aquecida, acrescenta Paulo Conceição, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Se há muitas famílias em casas sem condições, há tantas outras que procuram “o lugar ideal para morar” mas que não têm rendimentos para isso. O aumento do valor mediano do metro quadrado é exemplo disso, tendo atingido os 1.492 euros no terceiro trimestre do ano. A situação afeta sobretudo as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e ainda a região do Algarve. A situação “tem colocado em causa a mobilidade habitacional e o acesso à habitação para a classe média, de forma genérica, e, em particular, para as novas gerações, que estão agora a iniciar a vida profissional e procuram por habitação”.

Existe um desfasamento prolongado entre a evolução dos rendimentos das pessoas e das famílias e a evolução dos preços da habitação

Paulo Conceição

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Corroborando o diagnóstico, o especialista da FEUP refere-se a um “desfasamento prolongado entre a evolução dos rendimentos das pessoas e das famílias e a evolução dos preços da habitação”. O problema “não é exclusivo” de Portugal mas é mais intenso em solo nacional.

Vera Gouveia Barros propõe que seja feito um verdadeiro diagnóstico sobre o problema da habitação. “Não há boas políticas públicas sem um bom diagnóstico”, sustenta a economista especialista nesta área. Defende que é necessário “estudar melhor” o facto de os jovens saírem cada vez mais tarde da casa dos pais e verificar, por exemplo, “quantas são as pessoas que quiseram arranjar ou mudar de casa e não conseguiram”. A economista considera também como um problema haver “45% da população concentrada nas duas áreas metropolitanas”.

“Estamos perante um problema de extraordinária complexidade, com múltiplas causas, que se interligam e se reforçam mutuamente, pelo que as políticas de habitação devem ter em mente que as questões da habitação não são independentes das da mobilidade, do ambiente, da demografia, da saúde, da educação e do crescimento económico”, sinaliza ainda Vera Gouveia Barros.

Soluções insuficientes

“Disponibilizar mais solos para a construção de habitação”, criar “um forte incentivo à construção de habitação por parte de privados”, apostar em incentivos para os proprietários colocarem as casas no mercado de arrendamento e apoios para os jovens acederem com mais facilidade ao arrendamento das casas foram algumas das medidas anunciadas, no final de janeiro, para este Conselho de Ministros.

No final da semana passada foram acrescentadas mais propostas, como o mecanismo permanente de apoio à renda para famílias com quebras de rendimentos, o fim dos ‘vistos gold‘ – que em novembro já tinham “cumprido a sua função” –, os incentivos para colocar no mercado de arrendamento habitações de alojamento local e casas devolutas e a criação de incentivos à construção ou reabilitação de casas por privados, que depois serão postas no mercado de arrendamento, adiantou o semanário Expresso.

O problema de sobrecarga com as rendas também afeta as famílias que não perderam qualquer rendimento, pois são afetadas pelos valores exigidos pelo mercado, pela subida anual das rendas e pela inflação

Gonçalo Antunes

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Gonçalo Antunes considera que “talvez seja melhor não criar grandes expectativas” porque “o que o Governo fez nos últimos anos ficou muito aquém das necessidades“. Por exemplo, o apoio à renda para famílias que perderam rendimentos “deveria estar em vigor há vários anos” e “trará pouco ou nada de novo” para a conjuntura atual. “O problema de sobrecarga com as rendas também afeta as famílias que não perderam qualquer rendimento, pois são afetadas pelos valores exigidos pelo mercado, pela subida anual das rendas e pela inflação”, salienta o especialista.

Neste domínio, o especialista fala nas medidas para agilizar a renegociação do crédito à habitação como o “grande elefante” no Conselho de Ministros. “São totalmente ineficazes, visto que, em caso de dificuldade, esses créditos já seriam à partida renegociados. As famílias estão expostas à boa vontade dos bancos num momento de particular fragilidade, em que o seu poder de negociação é quase inexistente”.

O fim dos vistos gold “peca por tardio” mas o professor da FSCH-Nova alerta para o caminho “muito ambíguo e contraditório do Governo” relativamente aos estrangeiros, através dos benefícios fiscais para os nómadas digitais. Compreendendo o fim destas autorizações de residência, a especialista Vera Gouveia Barros nota que as compras de habitações por não residentes “representam apenas 6% do número de transações e, destas, a maioria nem corresponde a vistos gold, ou seja, é uma parcela muito pequena do mercado”.

Sobre os apoios para reforçar o mercado de arrendamento “será um grande desafio pô-los a funcionar e que sejam atrativos. Infelizmente, Portugal tem um histórico de medidas relativamente similares que falham em convencer os proprietários em aderir em massa a esse tipo de instrumentos”.

Estamos perante um problema de extraordinária complexidade, com múltiplas causas, que se interligam e se reforçam mutuamente, pelo que as políticas de habitação devem ter em mente que as questões da habitação não são independentes das da mobilidade, do ambiente, da demografia, da saúde, da educação e do crescimento económico

Vera Gouveia Barros

Economista especialista em habitação

Para Paulo Conceição, “é preciso ligar as políticas de habitação a outras medidas“, porque os problemas foram “agravados devido à diminuição do investimento público”. O professor da FEUP defende ainda que há uma “visão muito simplificada das atuais dinâmicas de mercado”. No caso, “é insuficiente argumentar-se que é necessário, em geral, apenas mais construção ou mais oferta”.

“Sou favorável, por princípio, a que exista uma oferta pública de habitação relevante. À semelhança do que sucede com a educação e com a saúde. No âmbito destes direitos, o Estado tem um papel de provisão. Advogo o mesmo para a Habitação”, defende Vera Gouveia Barros.

Sugestões para o plano

Para dar robustez à empreitada de Marina Gonçalves, o especialista da FCSH-Nova defende maior orçamento e alargamento a todas as faixas etárias do programa Porta 65, que apoia financeiramente o arrendamento para pessoas até aos 35 anos, embora os jovens “possam continuar a ser prioritários nos apoios. Gonçalo Antunes também defende a “diminuição significativa” dos impostos sobre o arrendamento e a propriedade: “Para a maioria das famílias portuguesas, os impostos com o seu imóvel mais não são do que impostos com a sua casa”.

O especialista defende ainda um “mercado de habitação de segmento intermédio, com rendas acessíveis”. As entidades privadas e as cooperativas “podem ser importantes para a construção de habitações com rendas acessíveis, criando um mercado de rendas intermédias que, em Portugal, é praticamente inexistente e uma das razões principais para os graves problemas que enfrentamos no acesso à habitação”.

Sou favorável, por princípio, a que exista uma oferta pública de habitação relevante. À semelhança do que sucede com a educação e com a saúde. No âmbito destes direitos, o Estado tem um papel de provisão. Advogo o mesmo para a Habitação

Vera Gouveia Barros

Economista especialista em habitação

Paulo Conceição dá conta da importância dos instrumentos de “zonamento inclusivo ou de zonamento de incentivo ou dos previstos Fundos Municipais de Sustentabilidade Ambiental e Urbanística na criação de condições ativas para o desenvolvimento de formas de habitação acessível”. O especialista da FEUP defende ainda a “reflexão sobre a organização das políticas ao nível da administração central e local”.

Vera Gouveia Barros é favorável a “programas de reabilitação nos concelhos vizinhos de Lisboa e do Porto que melhorem o urbanismo dessas áreas e as dotem de infraestruturas, de serviços de qualidade e de um sistema de transportes eficiente, conferindo-lhes uma centralidade que hoje não têm”.

Resta agora a Marina Gonçalves pôr mãos à obra para cumprir a empreitada da habitação para as famílias portuguesas.

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Construtoras recorrem a fábricas e tecnologia para produzir mais casas

Falta de mão-de-obra força empresas portuguesas de construção a inovar para responder ao “desígnio” nacional da habitação. Conheça as propostas do setor para o novo pacote legislativo do Governo.

A indústria da construção e do imobiliário garante que as empresas portuguesas têm “capacidade técnica para dar resposta” à prioridade nacional em que se tornou o tema da habitação. No entanto, Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN – Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, alerta o Governo que precisa de desenhar e cumprir com “rigor” o planeamento, calendarização e contratualização das obras, “a par da disponibilização dos meios financeiros necessários para a concretização no terreno dos objetivos para este grande desígnio que é a habitação”.

Em declarações ao ECO, o líder do setor em Portugal admite que a falta de mão-de-obra tem sido “um dos principais constrangimentos” à atividade, mas contrapõe que está “em curso uma verdadeira revolução digital e tecnológica”. Um “investimento considerável em inovação”, através de novos processos construtivos, utilização de novos materiais, construção off-site e modular, que poderá atenuar essa falta de trabalhadores e fazer crescer o parque habitacional no país, acredita o responsável da AICCOPN — desde que esse esforço seja “intensificado e alargado” às micro e PME que constituem a base do tecido empresarial.

Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN)AICCOPN

“Se falarmos de construção tradicional, a capacidade [do cluster da construção em Portugal] é limitada, porque não existe mão-de-obra qualificada e o prazo de formação de nova mão-de-obra não é curto, por isso já não responderia à necessidade imediata. Contudo, se houver uma aposta em construção industrializada, nesse caso existe capacidade de responder a esta prioridade política”, concorda António Carlos Rodrigues, presidente executivo do Grupo Casais.

O líder da construtora minhota, que opera em 17 países e nos últimos anos tem vindo a apostar em métodos de construção híbrida, com a pré-fabricação de materiais e componentes e a produção de infraestruturas para montar depois no estaleiro de obras, sublinha ao ECO que o pacote que será aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministro deve incluir precisamente apoios diretos e indiretos à construção industrializada. “De forma direta, incentivos ao investimento industrial; e de forma indireta através dos impostos e benefícios nesta categoria de habitação”, detalha o empresário.

Se falarmos de construção tradicional, a capacidade [do cluster da construção em Portugal] é limitada, porque não existe mão-de-obra qualificada. (…) Contudo, se houver uma aposta em construção industrializada, nesse caso existe capacidade de responder a esta prioridade política.

António Carlos Rodrigues

CEO do Grupo Casais

De Braga para Aveiro, repete-se a preocupação com “a falta de mão-de-obra qualificada, especialmente em algumas áreas do país, [que] pode ser um obstáculo para atender à procura crescente de imóveis” – tal como a escassez de terrenos disponíveis para a construção de novos edifícios pode ser um desafio para a expansão da oferta de habitação”, sustenta o presidente da Civilria. Artur Varum indica ao ECO que o recurso a pré-fabricação, assim como a implementação de tecnologias avançadas, como a construção de casas inteligentes e a utilização de fontes renováveis de energia, pode contribuir para a evolução da oferta de habitação no país.

Em termos operacionais, o responsável do grupo que retomou o projeto imobiliário de 100 milhões no Nó de Francos, no Porto, atesta que o setor da construção em Portugal tem uma “base sólida de empresas e profissionais qualificados, além de uma longa tradição na construção de imóveis de qualidade”. E do ponto de vista financeiro, completa Artur Varum, depois de uma fase de “grande sinistralidade” na crise anterior, iniciada em 2008, considera que nos anos mais recentes esta indústria tem demonstrado “uma boa saúde financeira”, capaz de responder agora à prioridade traçada pelo Executivo liderado por António Costa.

Um mês e meio depois de aproveitar a remodelação governamental, com a demissão de Pedro Nuno Santos, para criar o Ministério da Habitação e após o Programa Nacional de Habitação obter luz verde no Parlamento, o Governo prepara-se para aprovar esta quinta-feira um novo pacote legislativo para esta área. O detalhe das medidas ainda não é conhecido, mas o primeiro-ministro antecipou, em entrevista à RTP, que este diploma, sobre o qual os proprietários já disseram ser de eficácia duvidosa, irá assentar em três pilares:

  • Disponibilizar mais solos para construção de habitação pública;
  • Incentivar à construção de habitação por parte de promotores privados, através de benefícios fiscais;
  • Incentivar os proprietários a colocarem mais casas no mercado de arrendamento, apoiando os jovens no arrendamento.

O “caderno de encargos” das construtoras

Com 2.161,8 milhões de euros destinados à habitação no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Manuel Reis Campos exige “decisões céleres que promovam com eficácia e rapidez o aumento do número de casas disponíveis no mercado”. A começar pela oferta pública de habitação que, alerta, “não poderá ser apenas mais uma política prioritária de implementação gradual, [mas] tem de chegar de facto às famílias, promovendo o desenvolvimento económico e social do País e a tão desejada integração e coesão social”.

No investimento privado, o presidente da AICCOPN pede acesso a financiamento e medidas que aumentem a confiança dos investidores para promover o mercado da habitação. E deixa o caderno de encargos: fomentar a competitividade e estabilidade fiscal, eliminando “impostos desajustados”, como o AIMI e o IMI sobre stock de habitações; aplicar a taxa reduzida do IVA a toda a construção e reabilitação; um licenciamento “mais célere e eficaz”, com harmonização das normas e procedimentos a aplicar uniformemente a todos os municípios; ou a a “criação de um efetivo mercado de arrendamento” em Portugal.

Apesar de a habitação ser o segmento com mais potencial para ser afetado pelo aumento das taxas de juro, face à oferta reduzida de novas habitações no mercado imobiliário, Manuel Reis Campos acredita que os problemas da habitação em Portugal vão “começar a ser mitigados ainda este ano”, com o país a precisar de construir e reabilitar mais.

Na última década, os alojamentos licenciados em construções novas totalizaram cerca de 152 mil, o que corresponde a uma média anual de apenas 15 mil habitações, contra 68 mil nos dez anos anteriores. E ao nível da reabilitação urbana, os Censos 2021 mostraram “um país onde se degradam mais casas do que aquelas que se constroem ou reabilitam”: Portugal tem, atualmente, mais 253.889 edifícios a necessitarem de ser intervencionados do que há dez anos.

António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais

Se estivesse esta quinta-feira sentado na reunião do Conselho de Ministros, o CEO do Grupo Casais avançaria com uma plataforma nacional de licenciamento, para a gestão dos processos de licenciamento camarário e estabelecer métricas de performance na tramitação do processo, desde a sua submissão até ao licenciamento. E, tal como já acontece em Espanha ou no Reino Unido, tornaria obrigatória a utilização da tecnologia BIM (Building Information Modeling) na submissão de todos os projetos de licenciamento, tanto ao nível da arquitetura, como das especialidades.

Por outro lado, António Carlos Rodrigues pede cadernos de encargos tipificados e procedimentos de contratação que valorizem “aspetos como a sustentabilidade económica, ambiental e humana, ou a valorização da própria industrialização”. “A utilização da nossa capacidade instalada é essencial para a sustentabilidade económica. Devem ser valorizados, em sede de qualificação, os proponentes que apresentem evidências de capacidade industrial instalada (sua ou de parceiros designados em proposta), demonstrando capacidade para responder nos prazos e volumes propostos”, detalha.

É necessário estabelecer regulamentos claros para controlar a especulação imobiliária e evitar aumentos descontrolados nos preços das habitações, tais como compras em projeto para revenda antes das escrituras ou a aprovação de projetos por investidores especuladores.

Artur Varum

Presidente da Civilria

Já Artur Varum, presidente da Civilria, gostava de ver melhorada a qualidade do alojamento social – “é importante garantir que as pessoas em situação de carência habitacional tenham acesso a habitações de boa qualidade e a preços acessíveis, o que considero função do Estado” – e apoiados projetos de habitação autogeridos, em que as pessoas constroem as suas próprias casas com a ajuda de organizações sem fins lucrativos. E reclama igualmente uma “clara revisão” da fiscalidade associada ao desenvolvimento de habitação nova, em que a carga fiscal tem um “peso bastante significativo” no custo final.

Finalmente, a regulamentação do mercado imobiliário é outra das reivindicações do empresário aveirense, que dá emprego (direta e indiretamente) a 600 pessoas e que em 2022 faturou 70 milhões de euros. “É necessário estabelecer regulamentos claros para controlar a especulação imobiliária e evitar aumentos descontrolados nos preços das habitações, tais como compras em projeto para revenda antes das escrituras ou a aprovação de projetos por investidores especuladores, utilizando a proximidade às entidades licenciadoras e fomentando a corrupção, que depois colocam os projetos aprovados a venda a preços inflacionados”, denuncia Artur Varum.

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Comprar casa em Lisboa exige entrada de 50% do valor da escritura

Se há um ano bastava avançar com 20% do capital para comprar casa na capital, hoje esse esforço mais do que duplicou, sendo necessário dar como entrada, em média, 186 mil euros.

A subida das taxas de juro e as medidas macroprudenciais do Banco de Portugal para a concessão de crédito à habitação estão a provocar um esforço financeiro brutal no orçamento das famílias que hoje querem comprar casa na capital.

De acordo com dados do Confidencial Imobiliário, uma casa com 90 metros quadrados na capital (área média dos imóveis em Lisboa, segundo o Censos 2021) custava, em média, 375.480 euros no ano passado (cerca de 4.172 euros por metro quadrado).

Se há um ano uma família que ganhasse 2.514 euros líquidos por mês* podia financiar-se até 80% do valor do imóvel junto da banca (rácio de financiamento máximo que os bancos estão a praticar) para comprar uma casa em Lisboa, ficando a pagar uma prestação de 730 euros – considerando um empréstimo a 40 anos indexado à Euribor a 12 meses com um spread de 1,14% (spread médio dos novos créditos à habitação) – hoje só consegue que a banca lhe financie até 50%.

Significa que hoje, para comprar a mesma casa em Lisboa, teria agora de avançar com um sinal de 186 mil euros, cerca de 2,5 vezes mais que os 75 mil euros exigidos em fevereiro de 2022, e desde que não tivesse mais nenhum crédito bancário e o banco estivesse disposto a conceder o crédito com uma taxa de esforço de 42%.

Isto acontece não porque a banca esteja a dificultar o acesso ao crédito à habitação, mas como consequência da subida das taxas de juro e da aplicação das regras definidas pelo Banco de Portugal na concessão de créditos bancários a partir de 1 de julho de 2018 que, entre outras situações, exige que:

  • O rácio entre o montante das prestações mensais de todos os empréstimos e o rendimento líquido dos mutuários do crédito (DSTI – debt service-to-income) não ultrapasse os 50%;
  • Para efeitos do cálculo DSTI seja considerado um agravamento de três pontos percentuais ao indexante de referência dos empréstimos a mais de dez anos.

Considerando que a taxa Euribor a 12 meses média em janeiro foi de 3,446%, o “teste de stress” que a banca sujeitará a carteira das famílias que pretendam comprar hoje casa nova recorrendo a um crédito à habitação à taxa variável é, na verdade, de 6,446% – acrescida do spread contratado. Essa realidade reduz em muito a capacidade de endividamento das famílias.

“Como a DSTI tem como base o stress da taxa em três pontos percentuais, neste momento é mais difícil aceder a crédito, pois estamos a stressar a mais de 6%“, refere Hugo Pinheiro, CEO da Credível, uma empresa de intermediação de crédito que trabalha com uma dúzia de bancos.

A solução é procurar casas mais pequenas ou sair de Lisboa

Os dados do Banco de Portugal revelam que o crédito à habitação abrandou no segundo semestre do ano passado, mas registou um crescimento de 3,6% face a 2021, mostrando que os bancos continuam a financiar as famílias para comprar casa.

“Não é a oferta dos bancos que está mais restritiva do que no passado”, refere Dina Raimundo, diretora-geral da empresa de intermediação de crédito Twinkloo, sublinhando até que alguns bancos têm vindo a rever em baixa os spreads praticados. “O que assistimos é a uma redução do lado da procura porque, para além da inflação, as famílias têm hoje uma capacidade de endividamento mais baixa do que acontecia há um ano”, conclui.

Isto leva a que muitas famílias desistam de comprar casa ou se vejam obrigadas a procurar por imóveis mais pequenos ou em localidades onde o preço do metro quadrado é mais baixo, por forma a encaixarem a sua capacidade financeira nas normas instituídas pelo Banco de Portugal.

Os critérios têm de ser cumpridos e a avaliação da taxa de esforço é determinante, até para que possamos evitar problemas futuros”, salienta Cláudio Santos, CCO da empresa de intermediação de crédito Doutor Finanças.

Em Lisboa, o travão colocado pelo Banco de Portugal na concessão de crédito bancário é de tal ordem relevante que, caso não houvesse barreiras à concessão de crédito para a compra de casa, o orçamento de muitas famílias era praticamente consumido pela prestação da casa:

  • Atualmente, um crédito à habitação máximo de 300 mil euros necessário para a aquisição de uma habitação média em Lisboa traduz-se numa prestação de 1.367 euros. Considerando os rendimentos médios de um agregado familiar residente na capital (os mais elevados do país), a prestação do crédito à habitação consumiria de 67% dos rendimentos, duas vezes mais que a taxa máxima recomendada, e um DSTI de 79%.

* Rendimento médio mensal líquido de um agregado familiar a viver em Lisboa em 2022. Este valor tem em conta o Rendimento bruto declarado médio por agregado fiscal em 2020 em Lisboa atualizado com os aumentos salariais líquidos em 2021 e 2022.

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Ministério da Educação pede serviços mínimos para greves de 2 e 3 de março, que sindicatos dizem ser ilegais

  • Lusa
  • 15 Fevereiro 2023

O secretário-geral da Fenprof considera "inaceitável e indigno da democracia" que para uma greve de dois dias tenham sido pedidos serviços mínimos.

O secretário-geral da Fenprof revelou esta quarta-feira que o Ministério da Educação pediu serviços mínimos para as greves nas escolas de 2 e 3 de março, o que o sindicato considera ser “ilegal” e “indigno da democracia”. “É inaceitável e indigno da democracia que para uma greve de dois dias tenham sido pedidos serviços mínimos“, acusou Mário Nogueira, referindo-se a decisão do ministério relativo à paralisação marcada para dia 2 de março nas escolas do norte e centro do país (acima de Coimbra) e no dia 3 a sul.

“Na nossa opinião são ilegais os pedidos de serviços mínimos. Pedimos ao ministro da Educação que esteja ao nível do que a democracia exige“, disse Mário Nogueira à saída da quinta ronda negocial no ministério, onde sindicatos e tutela discutiram mais uma vez um novo modelo de contratação e colocação de professores.

Mário Nogueira lembrou que existe jurisprudência nesta matéria, referindo-se às greves dos professores aos exames nacionais de 2018 levando a tutela a convocar serviços mínimos: “O Tribunal considerou os serviços mínimos ilegais, o Ministério da Educação recorreu, mas foi novamente considerado ilegal”, recordou.

O Ministério da Educação já tinha solicitado serviços mínimos para a greve decretada pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop), que começou no início de dezembro e continua, tendo o tribunal arbitral decidido favoravelmente em relação ao pedido da tutela.

Desde meados de janeiro, estão decretados serviços mínimos para a greve do Stop. Entretanto, a plataforma de nove sindicatos da qual faz parte da Fenprof decidiu marcar dois dias greve para março, tendo hoje o ministério decidido pedir também serviços mínimos para esses dois dias. Sobre as negociações que foram retomadas esta quarta-feira, Mário Nogueira diz que tal como está o diploma não haverá acordo.

A quinta ronda negocial continua na sexta-feira, altura em que serão abordadas questões que não foram analisadas hoje, estando já agendadas novas reuniões para dia 23 de fevereiro, avançou o líder da Fenprof, acrescentando que depois ainda se poderão realizar reuniões suplementares.

Esta quarta-feira, as 12 estruturas sindicais começaram a analisar o novo documento, havendo “muitos aspetos que foram pedidos esclarecimentos”, acrescentou, dando como exemplo o facto de a proposta prever que os docentes que não estavam colocados a 31 de dezembro ficarem de fora das vinculações, mesmo quando têm “15 anos de serviço”.

“Entregámos um dossier com muitos colegas contratados que ficam de fora da vinculação”, disse, acrescentando que “o diploma dos concursos não corresponde ao que deve ser um diploma justo em que ninguém é ultrapassado pelos outros”.

As questões em que nos distanciamos mais do ministério ainda estão para vir“, acrescentou, lembrando ainda que além do diploma agora em discussão, os professores “não vão abandonar as suas reivindicações” noutras matérias como a recuperação do tempo de serviço congelado, o fim das vagas e quotas de acesso ao 5.º e 7.º escalões ou os extensos horários de trabalho.

Mesmo que a proposta do ministério fosse “um documento extraordinário, o que não é”, enquanto a tutela não aceitar negociar as restantes matérias “não haverá documento que pare os professores”. Mário Nogueira voltou a sublinhar que os sindicatos não exigem que essas matérias sejam imediatamente negociadas, mas pedem que seja feita uma calendarização.

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Novo secretário de Estado da Agricultura já tomou posse

  • Lusa
  • 15 Fevereiro 2023

Num cerimónia de dois minutos, Marcelo Rebelo de Sousa deu posse a Gonçalo Caleia Rodrigues.

O Presidente da República deu esta quarta-feira posse ao novo secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Caleia Rodrigues, numa breve cerimónia no Palácio de Belém, em Lisboa.

A cerimónia começou às 19:15, uma hora e meia de atraso relativamente ao que estava previsto, com a chegada à sala dos embaixadores do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e do primeiro-ministro, António Costa.

O atraso deveu-se a uma apresentação do Governo sobre o PRR, em que participaram António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Nesta curta cerimónia de dois minutos, marcou presença a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes. No final, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e António Costa cumprimentaram o novo secretário de Estado e a ministra da Agricultura.

Nascido no Porto em 1981, Gonçalo Caleia Rodrigues é doutorado em Engenharia dos Biossistemas, pelo Instituto Superior de Agronomia, e tem uma pós-graduação em gestão, da Nova School of Business and Economics, de Lisboa.

O novo secretário de Estado foi vice-presidente do Instituto Superior de Agronomia, instituição onde foi professor auxiliar. O cargo de secretário de Estado da Agricultura estava vago desde 5 de janeiro, quando Carla Alves se demitiu 25 horas após tomar posse. Carla Alves justificou não dispor de “condições políticas e pessoais” para iniciar funções, depois de noticiado o arresto de contas bancárias conjuntas que tinha com o marido, ex-autarca de Vinhais.

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Obras no hospital de Setúbal arrancam em março

  • Lusa
  • 15 Fevereiro 2023

A obra “demorará cerca de um ano e meio a ser completamente edificada e permitirá instalar, com boas condições, as urgências", o edifício materno-infantil e o serviço pediátrico.

A construção do novo edifício do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, vai arrancar em março, anunciou esta quarta-feira o ministro da Saúde, que reconheceu que continuam a faltar médicos no Centro Hospitalar.

Não podemos ignorar constrangimentos e dificuldades em matéria de espaços físicos. Essas, felizmente, vão ter uma solução num prazo de tempo muito aceitável, porque tivemos a confirmação de que a obra para a construção do novo edifício vai arrancar já no mês de março”, disse Manuel Pizarro.

O ministro da Saúde esteve reunido esta quarta à tarde com os presidentes das câmaras municipais de Palmela, Sesimbra e Setúbal, tendo depois visitado o Hospital de São Bernardo, principal unidade de saúde do Centro Hospitalar de Setúbal. Segundo o ministro, a obra “demorará cerca de um ano e meio a ser completamente edificada e permitirá instalar, com boas condições, as urgências – a urgência de adultos e a urgência pediátrica –, o edifício materno-infantil, com o serviço de partos, o serviço pediátrico”.

Além disso, acrescentou, “também libertará espaço dentro do hospital para que outros serviços sejam melhor acondicionados, para que haja mais espaço e maior capacidade de atendimento”. Em declarações aos jornalistas depois da visita ao Hospital de São Bernardo, Manuel Pizarro reconheceu, no entanto, que “persiste uma dificuldade de recursos humanos, mais intensa numas especialidades do que noutras”.

“O que nós temos que fazer é, em conjunto, primeiro acreditar no hospital, valorizar o hospital, e dizer aos jovens profissionais, médicos e outros profissionais, que são bem-vindos a este hospital, que este hospital tem futuro e vai ter futuro”, disse.

Manuel Pizarro admitiu ainda que, em alguns casos, nos próximos meses será necessário manter “medidas de contingência”, como o que acontece na maternidade que, aos fins de semana, alterna com a maternidade do Barreiro/Montijo. “É uma solução que, não sendo a ideal, […] devidamente organizada como tem sido, garante qualidade e segurança. E garante às pessoas previsibilidade, que é essencial para que as pessoas se sintam tranquilas”, salientou.

Quanto a medidas concretas para dar resposta à falta de recursos humanos, o ministro da saúde prometeu “aumentar a formação dos jovens internos e facilitar a contratação”, lembrando que este ano os concursos para admissão de jovens médicos já serão feitos por cada instituição.

“Isso aumenta a capacidade do Centro Hospitalar de Setúbal – que é também um grande espaço de formação de jovens profissionais médicos –, para garantir, desde já, condições de contratação dos profissionais que aqui são formados”, frisou Manuel Pizarro, acrescentando que as maiores carências de recursos humanos verificam-se nas especialidades de ginecologia/obstetrícia e na pediatria.

Questionado pela agência Lusa, o ministro da Saúde garantiu que “não há motivo para preocupações” com o eventual encerramento do Hospital Ortopédico do Outão e a possível transferência de serviços para o novo edifício do Hospital de São Bernardo, que será construído a partir de março.

“Só daqui a dois, três anos, nunca antes disso, haverá um debate sobre se há, ou não há, boas condições para acolher também a área ortopédica [no Hospital de São Bernardo]”, disse, assegurando que a decisão “não está tomada” e, se “um dia vier a ser tomada, é porque estão reunidas todas as condições para que isso seja feito”.

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins (CDU), que falou também em nome dos autarcas de Palmela e Sesimbra, defendeu a necessidade de um reforço do investimento no Serviço Nacional de Saúde. “Chamámos à atenção do senhor ministro no sentido de continuarmos todos a fazer um esforço, como as câmaras municipais estão a fazer, sendo parceiras na construção de centros de saúde com o Ministério da Saúde. Mas, isto não é suficiente, como todos nós sabemos”, disse o autarca setubalense.

André Martins acrescentou ainda que o desejo dos municípios é que o Governo tome medidas para criar incentivos para os profissionais de saúde irem para o Serviço Nacional de Saúde. “Esta é a grande questão. E nós sensibilizámos o senhor ministro para a importância de continuar a resolver este problema”, sublinhou.

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Safe-Crop e Caravela lançam seguro contra ataque ao milho por javalis

  • ECO Seguros
  • 15 Fevereiro 2023

A agência de subscrição especializada em agricultura e a seguradora querem proteger campos de milho em Portugal e avançam com uma cobertura contra a destruição de campos de milho por javalis.

A Safe-Crop lançou, nesta quarta-feira, no Congresso Nacional do Milho 2023, a sua nova proteção para os produtores de milho, uma cobertura que protege os produtores contra os ataques de javalis aos campos de cultivo.

3ª Conferência Anual ECO Seguros - 20OUT22
Filipe Charters de Azevedo: “queremos ajudar os empresários a mitigar ao máximo o risco dos seus investimentos, para que consigam crescimentos sustentados das suas explorações agrícolas”.Hugo Amaral/ECO

“Numa altura de elevada profissionalização do setor, queremos ajudar os empresários a mitigar ao máximo o risco dos seus investimentos, para que consigam crescimentos sustentados das suas explorações agrícolas”, disse Filipe Charters de Azevedo, sócio fundador da Safe-Crop, “temos de estar no terreno e compreender o que mais afeta os produtores e esta nova solução é uma boa cobertura, considerada essencial tanto pelos produtores de milho para cereal como para silagem”, acrescenta.

Esta cobertura protege os produtores dos danos provocados por javalis na remoção da terra e acamação da cultura. O dano pode ocorrer na fase inicial da sementeira ou na fase de maturação do grão, pela destruição das plantas ou semente. “Habitualmente, esta nova cobertura será comercializada com uma franquia de 10% do capital por parcela”, afirma a mediadora.

“A Safe-Crop é uma agência de subscrição independente no setor agrícola”, explica Filipe Azevedo, que desenha os seus próprios produtos de seguro em linha com as necessidades do mercado, negociando a tomada de risco com diferentes companhias nacionais. O seu projeto passa por diversificar as linhas de distribuição de seguros e de acompanhamento das peritagens, de forma a estar mais próxima do cliente. Trabalha com diferentes companhias de seguros nacionais e internacionais e, para esta cobertura, foi realizada uma parceria com a seguradora Caravela.

“Não sendo um risco climático, a proteção não se enquadra nos apoios aos tradicionais seguros de colheitas – ou seja, o prémio não será bonificado”, conclui Filipe Charters de Azevedo.

Em Portugal, existem 100 mil hectares de cultivo de milho, sendo 65% desse espaço localizado no norte e centro do país, 22% em Lisboa e Vale do Tejo e 13% no Alentejo. Os javalis já provocaram prejuízos de um milhão de euros nas plantações portuguesas de milho e sorgo, podendo chegar ao milhão e meio, revelam números apurados num inquérito realizado pela Associação de Produtores de Milho e Sorgo de Portugal (ANPROMIS).

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Lagarde criticada no Parlamento Europeu. BCE vai subir juros em março e combater alterações climáticas

Da esquerda à direita, Lagarde ouviu críticas sobre a atuação do BCE no combate à inflação e às alterações climáticas. Francesa assegurou que vai continuar a subir juros e a ter metas ambientais.

Chamada a prestar contas no Parlamento Europeu, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) não se livrou das duras críticas da esquerda à direita por causa do seu papel diante da escalada da inflação. Para uns, subir os juros não tem efeitos no alívio dos preços porque grande parte da inflação vem da energia e, portanto, apertar as condições financeiras só “fabrica pobreza”. Para outros, o banco central chegou tarde ao problema da escalada da inflação, que está atualmente nos 8,5%, e assim não há outro caminho a seguir senão continuar a aumentar as taxas.

Uma coisa Christine Lagarde garantiu aos eurodeputados: a reunião de política monetária do BCE em março vai trazer um novo aperto para as famílias e empresas com uma nova subida de 50 pontos base nas taxas diretoras, confirmando algo que o banco central já tinha sinalizado na reunião deste mês. E aí “então avaliaremos a trajetória subsequente de nossa política monetária”, afirmou dirigente francesa esta quarta-feira, indo um pouco ao encontro do que disse o governador Mário Centeno no início desta semana, que adiantou que o BCE poderá ser “mais claro” no próximo mês naquilo que será o pico dos juros, já quando tiver na sua posse novas projeções económicas para a Zona Euro.

Mas qual o momento atual? Lagarde começou por referir que “as pressões nos preços continuam fortes”, em particular naquilo que é designada de inflação subjacente, “que ainda é alta” – excluindo energia e alimentos, permaneceu em 5,2% em janeiro.

Razão pela qual o BCE vai continuar a subir os juros, ainda que tenha reconhecido que a economia vai continuar a apresentar uma atividade “débil”. Porém, ao manter níveis restritivos de juros, o banco central “reduzirá, com o tempo, a inflação ao amortecer a procura e também protegerá contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação”, explicou a líder do BCE.

Seguiram-se as intervenções dos eurodeputados, muitas das quais pouco abonatórias em relação à atuação do BCE nos últimos meses. À esquerda, Christine Lagarde ouviu reclamações como: “Deixe de governar contra os cidadãos, deixe de ser um ativo tóxico”. “Subir os juros é uma fraude. O BCE fabrica pobreza, (…) fabrica pessoas pobres”. À direita, as críticas foram noutro sentido: que o BCE reconheceu tarde que o problema da inflação era mais persistente do que dizia e, agora, “o caminho de subida dos juros deve ser acelerado e não moderado até chegarmos aos 2% de inflação”.

Também o papel do BCE no que diz respeito às alterações climáticas dividiu o plenário, com Christine Lagarde a admitir “beleza” nas diferentes visões políticas que acabara de ouvir. Houve quem dissesse que o banco central deveria focar-se na estabilidade dos preços e deixasse o assunto das alterações climáticas para as autoridades legislativas. A francesa respondeu: “O BCE não está na liderança desse papel [contra as alterações climáticas]. São os senhores que estão a conduzir esse processo. Mas, como parte do nosso mandato, temos de incluir os riscos de alterações climáticos. Isso está claramente indicado no mandato secundário do BCE”.

Em relação às críticas sobre o combate à inflação, a líder do BCE considerou que subir os juros “é o melhor serviço” que pode fazer à economia, assegurando a estabilidade dos preços para que “os investidores saibam os termos em que podem investir e que pede um crédito saiba as condições em que pode pedir um empréstimo”.

Já respondendo ao pedido do Parlamento Europeu para uma melhor coordenação das políticas monetárias e orçamentais, Lagarde ripostou, lamentando que “apenas uma pequena parte das medidas adotadas pelas autoridades orçamentais responderam ao critério do triplo T” – temporary, targeted e tailored (temporárias, orientadas e feitas à medida).

“Apenas 25% são direcionadas e adaptadas, o que é lamentável”, criticou, chamando a atenção para o facto de a Zona Euro vir a pagar a fatura nos próximos anos.

*O jornalista viajou a Estrasburgo a convite do Parlamento Europeu

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Portugal, Moçambique e Mota-Engil vão recuperar o mais antigo edifício em alvenaria do Índico

  • Lusa
  • 15 Fevereiro 2023

A empresa vai realizar o trabalho a preço de custo, enquadrando-o nas suas ações de responsabilidade social.

Os governos de Portugal e Moçambique e a construtora Mota-Engil assinaram esta quarta-feira um memorando de entendimento para reabilitação da Capela de Nossa Senhora do Baluarte, na Ilha de Moçambique, a mais antiga edificação em alvenaria na costa do Índico.

“Nós, a partir de hoje, temos uma grande responsabilidade, de reabilitar esta capela com robustez para que tenha uma durabilidade de mais 500 anos”, ou seja, mais tantos quantos completou em 2022, frisou Aníbal Leite, diretor-executivo da Mota-Engil África, em declarações à Lusa.

A robustez é necessária para enfrentar ciclones, que caracterizam a região, como aconteceu há um ano quando o ciclone Gombe destruiu casas e infraestruturas na ilha e em 2019 quando o ciclone Kenneth também se abateu sobre a região, deixando a capela muito danificada.

A empresa vai realizar o trabalho a preço de custo, enquadrando-o nas suas ações de responsabilidade social, num valor que ainda está a ser avaliado em termos técnicos, mas que se prevê possa arrancar em maio, explicou Aníbal Leite. Até lá, a Mota-Engil vai mobilizar e formar trabalhadores da Ilha de Moçambique.

A Fundação Manuel António da Mota, fundador da empresa, vai ao mesmo tempo fazer uma contribuição monetária para a requalificação. Os trabalhos deverão prolongar-se “por seis a oito meses”, atendendo à “complexidade” de alguns pormenores e aos requisitos de material, detalhou.

A capela é património classificado, único exemplar de arquitetura manuelina em Moçambique, um edifício erguido em 1522 pela armada portuguesa a caminho da Índia e que está dentro do perímetro da fortaleza de São Sebastião. A Ilha de Moçambique foi declarada Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1991 e a ministra da cultura moçambicana, Edelvina Materula, espera que a ação da Mota-Engil se estenda para lá da reabilitação da capela – extensão prevista no memorando assinado esta quarta.

A governante classificou a assinatura como “um gesto de amizade, irmandade e cooperação” que demonstra “a vontade comum” de continuar “nesta caminhada” de requalificação com a expectativa de que venha a ser “longa”. “Espero que tenha visto o tamanho desta fortaleza. E não termina por aqui: a ilha é muito mais que a fortaleza”, disse em tom descontraído ao agradecer a parceria a Aníbal Leite e após subscrever o documento ao lado de Francisco André, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português, de visita a Moçambique.

“O secretário de Estado disse há pouco que não me conseguem dizer que não, portanto, fiquei com a deixa”, sublinhou. O Camões – Instituto da Cooperação e da Língua mantém um núcleo de cooperação em várias áreas na Ilha de Moçambique e vai apoiar a reabilitação da capela, face ao pedido de Moçambique.

Francisco André explicou à Lusa, acerca da parceria com a Mota-Engil, que “foi identificado pela parte moçambicana a necessidade de encontrar um parceiro privado com experiência e capacidade para levar por diante” esta atividade, face ao “perigo iminente” de as fundações da capela ruírem.

“Neste diálogo surge a Mota-Engil como parceiro privado disponível para participar” e que o faz “ao abrigo da sua responsabilidade social” com “uma contribuição financeira para suportar os custos da própria obra”, referiu. “Portugal fará como sempre faz na cooperação com Moçambique: encontrámos o projeto e agora acertamos os detalhes do nosso apoio financeiro às autoridades de Moçambique”, que é “o dono da obra” que vai dialogar com o empreiteiro – uma “negociação à qual Portugal é completamente alheio”, clarificou o governante.

E concluiu: “Aquilo que nós fizemos foi responder sim a Moçambique e manifestar a nossa disponibilidade para apoiar financeiramente este projeto que sentimos que é importante”.

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