Espanha tem vocação africana e elege Angola como “país prioritário”
"Precisamos de sócios com capacidade, vontade e credibilidade, para que, partindo da confiança mútua, Espanha possa estar mais presente na região em benefício para todos", disse o rei em Luanda.
O rei Felipe VI disse esta terça-feira que Espanha é um país com vocação africana e elegeu Angola como país prioritário, mostrando-se confiante de que os dois países terão um “futuro prometedor” em conjunto.
O monarca espanhol, que iniciou a sua visita oficial a Angola acompanhado da rainha Letizia, a primeira a um país africano, destacou a hospitalidade e afeto com que tem sido recebido pelos angolanos e agradeceu o reconhecimento da condecoração que lhe foi outorgada, considerando uma “grande honra” ingressar na Ordem de Agostinho Neto, que o aproxima também de maneira simbólica e permanente ao país.
Felipe VI assinalou que esta visita acontece na sequência do caminho iniciado há um ano e meio, e que têm percorrido em conjunto, numa perspetiva de “colaboração, amizade e entendimento”. Destacando a importância que Espanha concede às relações entre os dois países, mostrou-se “muito alegre” pelo reencontro com João Lourenço, com quem esteve em Madrid, desta vez em Luanda, “motor político, económico e estrutural do país”.
O monarca frisou que Espanha projeta-se em múltiplas dimensões exteriores e que, além da sua identidade europeia e ibero-americana e atlântica, tem também vocação africana. “É indiscutível que estamos unidos pela geografia, mas a nossa vocação africana vai mais além”, sublinhou Felipe VI, acrescentando que, nos últimos anos, o Governo espanhol tem “trabalhado para conhecer melhor a realidade do continente”, em particular a África subsariana, resultando em programas para aumentar presença e cooperação com os países africanos e estabelecer associações estratégicas que permitam abordar juntos os desafios globais.
“Neste objetivo, precisamos de sócios com capacidade, vontade e credibilidade, para que, partindo da confiança mútua, Espanha possa estar mais presente na região em benefício para todos”, disse. Neste contexto, Angola “é um país prioritário para Espanha”, prosseguiu, destacando a estabilidade política e social, os recursos e boas perspetivas económicas e a diplomacia ativa a nível regional e multilateral, bem como os laços que vinculam os dois países há quase 50 anos, logo após a Independência.
O rei salientou que ambiciona ver Espanha como uma referência para Angola na Europa e quer que Angola o seja para Espanha nesta parte do mundo, sendo esta a razão desta primeira viagem à África subsaariana. O monarca falou sobre desafios no plano regional e internacional que devem “enfrentar juntos”, em particular as crises climáticas e seus efeitos, realçando a preocupação de Angola com este assunto, mas também o admirável processo de reconciliação nacional no país, “após tantos anos de sofrimento”.
Felipe VI saudou o papel de João Lourenço na pacificação da região dos grandes lagos para conseguir alcançar a paz e estabilidade na República Democrática do Congo, apontando o Governo de Luanda como fator de estabilidade, tanto na região centro-africana como na África meridional.
O rei espanhol realçou ainda que o estado das relações bilaterais “é excelente”, afirmando que há margem de melhoria no campo económico, pelo que os governos devem fomentar a cooperação económica com aumento do comércio e presença empresarial. Neste âmbito, destacou a relevância da conexão aérea direta Angola-Madrid que se está a consolidar e é um atrativo para as empresas espanholas.
Felipe VI adiantou ainda que, no segundo semestre, quando Espanha assumir a presidência rotativa da União Europeia vai eleger entre as prioridades, o reforço das relações com países africanos e contribuir para a realização do marco estratégico da União Africana para a transformação económica do continente, bem como trabalhar para a realização de uma reunião de alto nível sobre investimentos transformadores em África.
Entre os elementos que favorecem a relação entre Angola e Espanha assinalou ainda a vantagem que as línguas portuguesa e espanhola oferecem de compreensão mútua, pelo que deve ser apoiado e fomentado o seu estudo, disse o rei espanhol, mostrando-se convicto num “futuro prometedor” para os dois países. No final do seu discurso, Felipe VI aludiu também ao terramoto na Turquia transmitindo profundo pesar pela enorme tragédia humana e material e disponibilizando solidariedade e ajuda do povo espanhol.
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