Novobanco vende dívida de 100 milhões da Heliportugal
Banco voltou a colocar no mercado um crédito malparado de cerca de 100 milhões da empresa de helicópteros que fora incluída na carteira Harvey. Heliportugal culpa Estado pelo incumprimento bancário.
O Novobanco voltou a colocar à venda um crédito malparado de quase 100 milhões de euros da Heliportugal, de acordo com informações recolhidas pelo ECO junto de fontes do mercado. Esta dívida já esteve incluída numa anterior carteira de malparado que o banco tentou vender, mas o negócio acabou por deixar cair por terra após chumbo do Fundo de Resolução. A empresa privada de helicópteros culpa o Estado pelo incumprimento junto da instituição.
Em causa está um crédito problemático na ordem dos 96 milhões, dos quais 40 milhões respeitam a dívida bancária e outros 56 milhões a leasing. Mas nem toda a exposição é ao Novobanco, que não está a pedir qualquer valor base aos investidores nesta que é a segunda tentativa de venda, pelo menos.
Há dois anos, o banco incluiu o malparado da Heliportugal na carteira Harvey, que tinha outros grandes créditos tóxicos de grandes empresas, como o Grupo Lena (180 milhões de euros), a Urbanos de Alfredo Casimiro (cerca de nove milhões), como o ECO revelou na altura. Chegou a fechar o negócio com o fundo Deva, mas o Fundo de Resolução – no âmbito do acordo de capital contingente (CCA) — travou a operação na última hora, manifestando dúvidas em relação ao processo.
Não se sabe qual o nível de imparidade associada a esta dívida. Mas se o Novobanco vier a perder dinheiro com a transação, já não deverá imputar as perdas ao Fundo de Resolução, pois já se encontra numa fase de lucros e a gerar capital, não perspetivando mais injeções ao abrigo do CCA.
Estado é a “raiz dos prejuízos e incumprimento”
Fundada há três décadas, a Heliportugal, com sede em Tires, descreve-se como sendo a primeira empresa privada portuguesa de helicópteros em Portugal, fornecendo vários serviços, desde transporte aéreo até ao combate de fogos florestais e heli-ambulância.
Um dos clientes da Heliportugal é o Estado português, a quem a empresa aponta a “raiz dos prejuízos e incumprimento” desde 2015, quando perdeu um contrato público de 20 anos de manutenção programada e foi impactada pela extinção da Empresa de Meios Aéreos pelo antigo ministro Miguel Macedo.
“O resultado foi a entrega da frota de aeronaves do Estado ao fenómeno empresarial denominado Everjets, que, como hoje se sabe, faliu, deixando no chão e sem reparação e manutenção as aeronaves Kamov que terão sido oferecidas recentemente pelo Estado português à Ucrânia”, conta a Heliportugal, em declarações ao ECO.
Segundo a empresa liderada por Pedro Silveira, que reclama 6,5 milhões ao Estado, esta situação levou à destruição do investimento que tinha na exportação de serviços de transporte de passageiros offshore para plataformas petrolíferas, pelo que se viu obrigada a recentrar a atividade no mercado nacional e a recorrer a um Plano Especial de Revitalização (PER).
Em julho de 2021, Pedro Silveira reconheceu que os trabalhadores tinham salários e ajudas de custo em atraso por falta de pagamento de dívidas da parte do Estado, nomeadamente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANPC). Confessou mesmo à revista Sábado que teve de vender o barco e a casa em Paris “para a empresa conseguir sobreviver”. O negócio da Heliportugal passa agora pelo mercado nacional, prestando ajuda no combate a incêndios.
Banco ainda tem 1,4 mil milhões de NPL
A Heliportugal não comenta a operação de venda da dívida pois “não é parte da equação” e cabe ao Novobanco tomar as decisões. Reconhece mesmo que é “uma situação que a banca, de uma maneira geral tem vindo a fazer de forma sistemática e já há vários anos”.
Para o banco, que não respondeu até ao momento da publicação da peça, depois de profunda limpeza de balanço que levou a cabo nos últimos anos, mantém-se a necessidade de baixar os níveis de crédito malparado para a média europeia, com o acionista Lone Star, com 75% do capital, a preparar-se para vender a instituição, mais cedo ou mais tarde.
O banco liderado por Mark Bourke chegou ao final do ano passado com um rácio de NPL (non performing loans) de 4,3% e ainda tinha cerca de 1,4 mil milhões de euros em NPL. A perspetiva de deixar de estar sobre as amarras de Bruxelas dá fôlego à instituição na gestão dos seus ativos tóxicos que herdou do BES. O Novobanco registou lucros de 560 milhões de euros em 2022.
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