O retrato do crédito à habitação em 5 grandes números

Subida dos juros pressiona mais de um milhão de famílias com crédito da casa. Para metade, 15% do rendimento era suficiente para pagar a prestação. Mas haverá 60 mil com taxa de esforço de 50%.

O aumento abrupto das taxas de juro está a pressionar as finanças de mais de um milhão de famílias portuguesas com crédito à habitação. Umas mais do que outras. Para metade dos agregados, bastava 15,5% do rendimento disponível para fazer face à prestação mensal da casa. Porém, com as Euribor a atingir o pico apenas em agosto, a situação financeira vai apertar-se de forma mais dramática para cerca de 58 mil contratos, que verão a taxa de esforço superar os 50%, segundo o Banco de Portugal.

Este é o retrato do crédito à habitação em Portugal em cinco grandes números.

-16% de famílias endividadas

É a queda observada no número de famílias com empréstimos da casa entre 2009 e 2022. Na anterior crise financeira global, mais de 1,53 milhões de agregados familiares estavam endividados com crédito à habitação. No final do ano passado, esse número caiu para 1,28 milhões de famílias. A dívida média por agregado era de 67,7 mil euros no ano passado, com os depósitos (45 mil euros em média) a cobrirem 66% do empréstimo por pagar. Em 2009, embora a dívida média fosse mais baixa (63,2 mil euros), os depósitos cobriam 46% do crédito em dívida.

Evolução do número de empréstimos da casa

Fonte: Banco de Portugal

330 euros

É o valor da prestação média da casa por agregado no final de 2022, cerca de 8% abaixo da prestação que era paga ao banco em 2009 (360 euros). No final do ano passado, a prestação da casa representava 14% do salário médio bruto mensal do agregado (2.300 euros). No ano da grave crise financeira, a situação era mais apertada para as famílias: a prestação correspondia a 21% do salário médio que se praticava na altura (1.700 euros).

70% dos contratos com juros a terem pico em agosto

A esmagadora maioria dos contratos da casa estão associados a taxa variável. Representam cerca de 90%, totalizando os 1,1 milhões de empréstimos. São estes contratos que estão expostos às variações da Euribor, as taxas que servem de base para o cálculo da prestação. De acordo com as previsões dos mercados, as Euribor só irão atingir o pico em agosto nos prazos a três e seis meses, indexantes que são usados em 70% dos contratos. A Euribor a 12 meses já terá atingido o pico em fevereiro.

Euribor disparam

Fonte: Reuters

15,5% de taxa de esforço

Para metade das famílias “bastava” 15% do rendimento líquido de impostos e contribuições para fazer face às prestações do crédito da casa no ano passado. Mas 12,3% das famílias têm taxas de esforço superiores a 36%, a fasquia a partir da qual os bancos estão obrigados a encontrar soluções para aliviar os encargos para o devedor, ao abrigo das novas regras adotadas pelo Governo no final do ano passado. Para as famílias em que o empréstimo tem dois mutuários (71% do total dos empréstimos), a taxa de esforço reduz-se para 14%.

58 mil com taxa de esforço significativa em 2023

As Euribor ainda vão continuar a subir durante mais alguns meses e, além disso, os aumentos destas taxas ainda estão por refletir totalmente nos contratos da casa. Neste cenário, mais famílias irão sentir um aperto na sua capacidade de pagar os empréstimos ao banco este ano (e também no próximo). Até final de 2023, 335 mil contratos terão uma variação da taxa de esforço igual ou superior a cinco pontos percentuais, dos quais 58 mil enfrentarão uma taxa de esforço acima de 50% — taxa de esforço significativa em que pelo menos metade dos rendimentos são usados para pagar a prestação mensal da casa.

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Os esclarecimentos e as contradições na trama da TAP

  • Ana Petronilho
  • 7 Abril 2023

Decorridas as primeiras audições da comissão de inquérito parlamentar à TAP, são várias as contradições que saltam à vista e muitas as questões que ainda estão por esclarecer.

Já foram ouvidas quatro das 60 pessoas que vão à comissão parlamentar de inquérito à TAP. E não foram necessárias mais para estalar nova polémica a envolver mais membros do Governo e do PS na trama que rodeia a companhia. Entre os vários assuntos já discutidos, destacam-se seis que ficam marcados por algumas contradições e esclarecimentos (poucos).

1 – Quem pediu para Alexandra Reis sair da TAP?

De todos os pontos que envolvem o enredo, este parece ser o mais claro. Alexandra Reis saiu da TAP por iniciativa da CEO, que assumiu na sua audição que queria fazer uma reestruturação na administração da companhia e criar um novo cargo, o de Chief Strategy Officer, extinguindo a posição ocupada por Alexandra Reis. Christine Ourmières-Widener considerou que a então administradora não tinha o “perfil” para a nova posição e a 18 de janeiro de 2022 informou o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, dos seus planos. Também Alexandra Reis deixou claro que a sua saída da TAP aconteceu por iniciativa da CEO que lhe disse “quero que saias da empresa”, durante uma “reunião muito curta”, presencial, a 25 de janeiro de 2022, da qual lhe foi pedida confidencialidade. Nessa altura, a CEO terá transmitido a Alexandra Reis que o Governo estava de acordo. Um dia depois da conversa com a CEO, a 26 de janeiro de 2022, Alexandra Reis contou que acedeu “a essa solicitação, porque não queria, de forma alguma, criar um problema institucional no seio da comissão executiva da TAP”, realçou.

2 – Quem estava envolvido na saída de Alexandra Reis e sabia da indemnização?

A presidente executiva da TAP frisou que o seu papel nas negociações do acordo para a saída de Alexandra Reis se resumiu a “coordenação” entre os advogados que lideravam o processo e entre o Governo de quem recebeu o aval. Christine Ourmières-Widener recebeu uma mensagem de Hugo Mendes, a 2 de fevereiro de 2022, a informar que Pedro Nuno Santos autorizava a indemnização a Alexandra Reis e a pedir que fechasse o acordo. Já antes do aval ao pagamento da indemnização, a gestora tinha informado Hugo Mendes que queria fazer uma reestruturação na administração da companhia, considerando que Alexandra Reis não tinha o “perfil” para ocupar o novo cargo de Chief Strategy Officer. A 21 de janeiro de 2022, a ainda presidente da comissão executiva da TAP teve uma reunião secreta com Hugo Mendes via “Teams”, onde discutiram o assunto. A 25 de janeiro de 2022, por sugestão do Ministério das Infraestruturas, iniciaram as conversas com Alexandra Reis com o intuito de “ver se a mesma estaria disponível para sair e em que condições”. “Tive essa conversa com Alexandra Reis e ela ficou de pensar”, contou a gestora durante a audição parlamentar. O administrador financeiro da TAP, Gonçalo Pires, diz que esteve à margem de todo este processo e que soube, por via informal, alguns dias antes do acordo. “Não estive na decisão, na elaboração, na negociação, nas conversas com advogados, nem com a tutela, nem conhecia os termos”, referiu no Parlamento Gonçalo Pires, acrescentando que “não foi surpresa a saída, até porque era conhecida a intenção da CEO de fazer alterações na comissão executiva”. Versão que contrasta com as declarações da presidente da comissão executiva que disse que teve “mais do que uma conversa” e uma “troca de mensagens” com Gonçalo Pires, enquanto se chegava a acordo. Mas não confirma se o administrador financeiro tinha conhecimento do valor da indemnização.

3 – Quais foram as razões para a saída de Alexandra Reis da TAP?

Christine Ourmières-Widener escuda-se no argumento do “perfil” para o novo cargo como justificação para a saída de Alexandra Reis da companhia aérea. Porém, a antiga administradora sublinhou ter dúvidas sobre os motivos que levaram à sua saída. “Entretanto li o relatório da IGF, onde li divergências irreconciliáveis”, e durante a audição da CEO “ouvi falar de organização, ouvi falar de perfil. Por isso, para mim não são claras as razões. O que posso dizer é que, relativamente à minha atuação na empresa, sempre tive uma relação cordial e de trabalho com todos os membros do conselho de administração e da comissão executiva, que me parece normal que haja algumas diferenças de opiniões sobre alguns assuntos, parece-me até salutar, […] sempre o fiz de forma muito construtiva”, salientou. E são sete as divergências com Widener que foram apontadas: a mudança da sede da TAP, a renovação da frota automóvel, a contratação de diretores e altos quadros, o travão de Reis à contratação da empresa britânica de software (Zamna Technologies) onde trabalha o marido da CEO da TAP, o otimismo do plano de reestruturação, a conversão de um empréstimo acionista em capital da TAP e, por fim, a contratação dos ATR (aviões bimotores de hélices).

4 – Havia interferência política na TAP?

Apesar de Alexandra Reis ter dito que nunca sentiu pressão política enquanto desempenhou as suas funções na TAP, o mesmo não diz Christine Ourmières-Widener. A presidente executiva da TAP revela que não esperava “tão alta pressão política” quando entrou na companhia aérea, o que dificultou o seu trabalho e o dos restantes trabalhadores porque não deixou a companhia “concentrar-se no seu negócio”. “Era fácil trabalhar com tanto ruído à volta da companhia? Tem sido muito difícil e ainda é. […] É triste ver que toda a gente quer criticar e garantir que a companhia não chega a bom porto”, afirmou a gestora. Foi então que o deputado do Iniciativa Liberal, Bernardo Blanco, aproveitou para questionar a gestora sobre um e-mail do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, a pedir para adiar um voo de Moçambique que tinha como passageiro o Presidente da República, que, alegadamente, precisava de ficar mais dois dias em Maputo. Nesse e-mail, Hugo Mendes sublinhava que era importante manter Marcelo Rebelo de Sousa como aliado da TAP. A CEO disse que nesse caso fez questão de verificar se se tratava realmente de um pedido da Presidência da República. “No fim, não fiquei surpreendida ao perceber que o Presidente da República nunca nos pediria para mudar um voo, que teria impacto no resto dos passageiros”, esclareceu a presidente da comissão executiva. Ao encontro do que disse a CEO, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de frisar que não fez qualquer pedido à TAP para adiar o voo.

5 – Quem pediu a reunião com o PS?

Durante a audição de Christine Ourmières-Widener foi desvendado outro episódio de interferência política na TAP, implicando novos membros do Governo e do PS. Em causa está uma reunião da CEO com deputados do PS e com membros do gabinete do Ministério das Infraestruturas a 17 de janeiro de 2023, na véspera da sua audição no Parlamento para explicar a saída de Alexandra Reis da companhia. Além do deputado socialista Carlos Pereira – que no seguimento destas declarações foi substituído na comissão de inquérito por Hugo Costa –, a CEO disse que estiveram presentes “assessores, adjuntos e chefes de gabinete” do Ministério das Infraestruturas. E questionada novamente sobre o assunto, Christine Ourmières-Widener acabou por revelar a lista de quem esteve na reunião: João Brilhante (especialista em aviação), Frederico Pinheiro (assessor das Infraestruturas), Cátia Rosas (vereadora da CML), João Carlos Bezerra da Silva (chefe do Gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares), Maria Eugénia Correia Cabaço (chefe de gabinete do ministro das Infraestruturas), Daria Shumskaya (assessora do Ministério dos Assuntos Parlamentares), Marco Rebelo (advisor do Ministério das Infraestruturas) e Ana Filipa Ferreira (adjunta da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares). A CEO frisou que o encontro partiu da iniciativa do Ministério das Infraestruturas, depois de ter feito uma “recomendação” à gestora para que se realizasse a reunião. Christine Ourmières-Widener esclareceu ainda que foi a tutela quem liderou a reunião. Depois da audição, o deputado Carlos Pereira disse que é natural a “partilha de informação” entre deputados, Governo e entidades, como a que aconteceu com a presidente executiva da TAP e acusou alguns partidos de “criar casos e ‘casinhos’”. E dois dias depois destas declarações, o ministro João Galamba contraria, em comunicado, a CEO e diz que foi informado que a TAP, na tarde do dia 16 de janeiro, “tinha transmitido o seu interesse em participar na reunião com o Grupo Parlamentar do PS”, a que “não se opôs, salientando que esta é prática comum destinada “à partilha de comunicação”. Já a ministra dos Assuntos Parlamentares referiu que só fez a “ponte” para marcar a reunião virtual, já que isso lhe foi solicitado e que não incluiu por sua iniciativa convites a Christine Ourmières-Widener.

6 – Medina sabia da indemnização?

O Ministro das Finanças disse no Parlamento que conhecia as razões que levaram à saída de Alexandra Reis da TAP, mas que não sabia que a ex-administradora tinha recebido uma indemnização. Versão que vai ao encontro das declarações de Alexandra Reis que contou que quando foi convidada para o Governo pelo ministro das Finanças, em novembro do ano passado, que não falaram “sobre a saída da TAP nem sobre a indemnização”. A ex-administradora afastou também o cenário de proximidade a Medina ao frisar que a única reunião que tinha tido com o ministro, anteriormente, aconteceu quando ainda era autarca de Lisboa. Alexandra Reis – que se cruzou com Stéphanie Sá da Silva na TAP, em cargos diferentes – assegura ainda que a sua relação com a mulher de Medina “era estritamente profissional e muito boa”. A ex-administradora aproveitou ainda para esclarecer que não mencionou Stéphanie Sá Silva na lista de pessoas que a pudessem ter indicado para o cargo de secretária de Estado do Tesouro, porque “não tinha por hábito” falar com a mulher de Medina sobre “temas do foro da vida privada ou de algo que estivesse minimamente relacionado com a situação profissional do marido” da diretora jurídica da TAP. “Nunca fiz essa associação em momento algum”, frisa. Questionada sobre encontros sociais com a mulher de Medina, Alexandra Reis fala em quatro situações: dois almoços após reuniões de trabalho enquanto ainda trabalhava na TAP e, “já em 2022”, um pequeno-almoço e um almoço que decorreu como um encontro de “antigas colegas, numa lógica de networking, que aconteceu com naturalidade”.

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DRH Auchan Portugal: “Falamos muito no teletrabalho, mas não é uma questão para a maioria dos portugueses”

Na Auchan, mais de 90% dos colaboradores estão nas lojas e, para esses, o teletrabalho não é uma opção. A retalhista tem investido noutras formas de promover a flexibilidade destes profissionais.

“Quando entrei na Auchan, há 14 anos, não se falava em teletrabalho. Mas eu, na altura, tinha uma equipa de comunicação, com duas pessoas, e pedi um portátil para as duas. Um portátil a dividir pelas duas. Uma delas morava em Cascais e a outra na Azambuja e ambas tinham filhos pequenos. Sempre que precisavam de ficar em casa, porque tinham qualquer coisa para fazer ou porque o filho estava doente, iam ao sistema e punham ‘dia fora’, e eu dizia para porem nas notas ‘teletrabalho’”, começa por contar Clara Costa. “Eram as únicas duas pessoas na empresa que justificavam ‘teletrabalho’”, acrescenta a diretora de pessoas, cultura e transformação da Auchan Retail Portugal.

Embora ainda hoje lhe faça uma certa confusão o loop de reuniões virtuais, pode dizer-se que Clara Costa foi, de certa forma, pioneira neste modelo de trabalho no retalhista alimentar. Catorze anos depois, esse regime tornou-se mais comum no mundo do trabalho, mas, apesar de admitir ser muito a favor do trabalho à distância, Clara Costa continua a privilegiar as relações presenciais. Ir ao escritório é crucial para manter a cultura da empresa viva e para reforçar os laços entre as pessoas. E relembra: “Falamos muito no teletrabalho, mas, na verdade, não é uma questão para a maioria dos portugueses.”

Na Auchan, mais de 90% dos colaboradores estão nas lojas e, para esses, o teletrabalho não é uma opção. A retalhista tem investido, por isso, noutras formas de potenciar a flexibilidade e o bem-estar destes profissionais.

Os líderes são para estar atrás. A apoiar, a alinhar, a inspirar… Temos de passar a fase da cultura um bocadinho maternal de que o líder tem que ir a puxar a equipa. Não. O sonho de qualquer líder é que a equipa vá à frente, que tenha autonomia e responsabilidade para poder ir à frente. E é por aí que se medem os bons líderes.

“Temos uma série de práticas que são melhores que a própria Lei. Fazemos o planeamento dos horários de trabalho com dois meses de antecedência; não usamos o banco de horas (que cria alguma instabilidade); temos práticas de, quando são casais, poderem escolher as férias e as suas folgas de forma a conciliarem ou não; iniciámos um projeto há uns anos atrás de duas creches, na Amadora e em Alfragide, onde temos mais colaboradores. Estamos também a permitir que os trabalhadores possam trocar os horários entre si, conforme vão necessitando ou surge algum imprevisto”, exemplifica.

E 2023 trouxe uma novidade ao nível dos dias de férias: a passagem para 25 dias de férias. “Este é também o caminho”, afirma Clara Costa.

No centro das duas preocupações está a experiência do colaborador. Encontrar em cada uma das mais de 8.500 pessoas que a companhia emprega em Portugal o talento e, com isso, melhorar a vida de cada uma delas foi o que motivou a profissional a aceitar a direção de pessoas, antes liderada por Jorge Filipe que, entretanto, se reformou.

“O sonho de qualquer diretor de pessoas é pensar que cada colaborador, no tempo que dedica à empresa, quer, de facto, fazer a empresa. Não é uma relação funcional. É a diferença entre comer uma piza e gostar de fazer piza. O maior sonho de um diretor de pessoas, de um CEO ou de qualquer líder de equipa – pelo menos dos líderes que precisamos para amanhã – é liderar uma equipa que, em conjunto, também faz a empresa”, defende.

A gestora recusa-se a olhar para a figura do líder como a pessoa que vai à frente e puxa a equipa consigo. Pelo contrário. “Os líderes são para estar atrás. A apoiar, a alinhar, a inspirar… Temos de passar a fase da cultura um bocadinho maternal de que o líder tem que ir a puxar a equipa. Não. O sonho de qualquer líder é que a equipa vá à frente, que tenha autonomia e responsabilidade para poder ir à frente. E é por aí que se medem os bons líderes.”

Recrutar 1.000 colaboradores até 2024. Imaginar a organização do futuro

Este mindset, focado na melhoria contínua da experiência do colaborador, a par da remuneração, que Clara Costa admite ser “indiscutível”, é o que a diretora de pessoas, transformação e cultura acredita fazer a diferença no recrutamento. “O mercado está a mexer no pós-pandemia”, admite.

Em algumas funções – nomeadamente aquelas em que os concorrentes não são só retalhistas, mas outros setores, startups, unicórnios – está a registar-se uma maior rotatividade. “São as funções habituais para todos os setores. IT, data, digital, também supply chain… Aí as empresas estão numa espécie de mercado de talento em grande competição”, afirma. “Mas também tudo o que é gestão”, salienta. “De uma forma geral, estamos num momento competitivo e onde o maior desafio é a atração e a retenção de talento.”

Estamos sempre muito preocupados com o que vamos propor ao cliente. Usamos todas as técnicas, análises e estudos para o cliente. Na verdade, é isso que temos que fazer também para o colaborador. É adaptar ao indivíduo. Não pensar em massa, mas em perfis, em necessidades, em idades…

A missão é, por isso, propor ao colaborador – exatamente como se tenta fazer com o cliente – uma experiência única. “Estamos sempre muito preocupados com o que vamos propor ao cliente. Usamos todas as técnicas, análises e estudos para o cliente. Na verdade, é isso que temos que fazer também para o colaborador. É adaptar ao indivíduo. Não pensar em massa, mas em perfis, em necessidades, em idades…”

Os planos ao nível de contratações da cadeia passam pela integração de 1.000 novos profissionais até final de 2024. As vagas são, sobretudo, para funções nas futuras lojas. E, sobre o futuro do retalho, Clara Costa adianta: “Destacam-se as equipas de IT, com foco quer no desenvolvimento, quer em tudo o que é segurança, robotização, automatização, tudo o que é web. Há efetivamente uma necessidade de um maior suporte IT.” Mas não só. Manter a humanização no digital – algo do qual a Auchan não pretende abrir mão – implica também o aumento das funções ligadas à comunicação digital. “Não só meramente de análise de dados e de publicidade, mas sim aquilo que é a relação humana nos canais digitais.”

E, mesmo nas lojas, prevê novas funções. “O comércio ou mesmo a venda online, ou tudo o que possam ser novos negócios, tem sempre como base aquilo que é o nosso core, que é a venda de produtos e serviços. Portanto, de alguma forma, quer novas funções no supply chain, quer em loja, também vão aparecer. E esse é, naturalmente, um dos grandes desafios de qualquer diretor de pessoas: imaginar a organização do futuro e pensar como faço reskill ou upskill a todas as pessoas, de forma a conseguir responder a essa organização do futuro. Provavelmente, até vamos precisar de mais pessoas.”

Veja aqui todos os objetos que estão em cima da ‘Mesa do Recrutador’ de Clara Costa:

http://videos.sapo.pt/hzV5uoQDSPOzWSH9HyHl

(Este artigo é parte integrante da Pessoas n.º20, que pode encontrar à venda aqui)

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Lula da Silva exclui sete empresas estatais de privatizações iniciadas por Bolsonaro

  • ECO
  • 7 Abril 2023

O presidente do Brasil reviu o processo de privatização sobre sete empresas que Jair Bolsonaro tinha iniciado, e que se baseou em critérios de eficiência e controlo da despesa pública.

O governo do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, excluiu sete empresas estatais, incluindo os Correios, do processo de privatização iniciado pelo seu antecessor, Jair Bolsonaro, de acordo com notícias avançadas esta sexta-feira.

A decisão foi anunciada numa edição extraordinária do Jornal Oficial da União, publicada na quinta-feira à noite, e também exclui três outras empresas no processo de privatização parcial através do Programa de Parcerias de Investimento.

O decreto, além de retirar os Correios da estratégia, inclui também a Empresa Brasileira de Comunicações (EBS), que agrupa meios de comunicação públicos como a TV e a Rádio Brasil, entre outros.

A Dataprev, empresa de tecnologia da segurança social, a Nuclep, do setor nuclear, a Serpro, empresa de processamento de dados, a Agência Brasileira de Gestão de Fundos (ABGF) e o Centro Nacional de Tecnologia Eletrónica Avançada (Ceitec) foram as outras empresas excluídas.

Do mesmo modo, a divisão de armazenagem e imobiliária da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a empresa de telecomunicações Telebras e a Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás no Pré-Sal (PPSA) foram retiradas do Programa de Parcerias de Investimento para evitar a privatização parcial.

Durante a sua campanha eleitoral, que levou Lula a ganhar as eleições de outubro passado, o atual presidente do Brasil tomou uma posição contra o processo de privatização de Bolsonaro, que, por sua vez, se baseou em critérios de eficiência e controlo da despesa pública.

No seu primeiro dia no governo, a 1 de janeiro, num dos seus primeiros atos, Lula decretou também a paralisação de dois estudos para viabilizar a privatização da companhia petrolífera estatal Petrobras e dos Correios.

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Quem ganha o Clássico na Bolsa?

As contas mais recentes das duas sociedades anónimas desportivas mostram que a SAD do Benfica continua a faturar mais que a SAD do Porto, mas tem uma operação menos eficiente que a da sua rival.

O Sport Lisboa e Benfica e o Futebol Clube de Porto jogam hoje dentro das quatro linhas o 190.º Clássico da história do futebol português. Se no campo o FC Porto tem sido vitorioso, contando até ao momento 100 vitórias contra 89 vitórias do clube da Luz, no campeonato financeiro as contas são outras.

Desde janeiro, as ações da FC Porto SAD acumulam ganhos de 14,8% contra uma desvalorização de 1,8% das ações da Benfica SAD. No entanto, nos últimos dois anos, enquanto as ações da SAD do dragão valorizaram 44%, os títulos da SAD do Benfica subiram 69%.

Fonte: Refinitiv.

No plano financeiro, as contas mais recentes das duas sociedades anónimas desportivas revelam que ambas as empresas terminaram o primeiro semestre da atual época desportiva com prejuízo e com proveitos operacionais acima dos 100 milhões de euros. No entanto, mostram duas sociedades distintas no plano da eficiência e rentabilidade das suas operações.

A SAD do Benfica, que recentemente informou o mercado que renovou o contrato com o treinador Roger Schmidt por mais duas épocas desportivas (até junho de 2026), fechou o primeiro semestre com um prejuízo líquido de 13,3 milhões de euros, menos 60% face aos prejuízos de 31,7 milhões de euros contabilizados no período homólogo.

Além disso, a SAD do Benfica fechou as contas com um resultado operacional negativo de 7,7 milhões de euros (em comparação com 25,3 milhões de euros negativos no período homólogo) e um resultado operacional, excluindo ofertas relacionadas com jogadores, no primeiro semestre, de 111,6 milhões de euros face a 95,9 milhões de euros no mesmo período do ano passado.

As contas do primeiro semestre da FC Porto SAD apontam para um prejuízo líquido de 9,9 milhões de euros, menos 4% face aos prejuízos de 10,3 milhões de euros registados no período homólogo; e para um resultado operacional de 1,43 milhões de euros, menos 14% face aos 1,67 milhões de euros registados no primeiro semestre da época passada.

Os números apresentados a 28 de fevereiro pela SAD portista mostram ainda proveitos operacionais, excluindo proveitos com passes de jogadores, de 102,6 milhões de euros, mais 13,4% face aos 90,5 milhões de euros contabilizados no período homólogo, e uma margem bruta de 68%.

Os resultados das duas SAD revelam ainda que no primeiro semestre a SAD do Benfica continua a faturar mais que a sua concorrente no campeonato da venda de passes de jogadores.

Enquanto a Benfica SAD faturou 12,3 milhões de euros no primeiro semestre (o triplo do registado no mesmo período homólogo de 2022), a FC Porto registou 3,7 milhões de euros com transações de passes de jogadores no primeiro semestre, mais 67% face ao mesmo período do ano passado.

Apesar destas diferenças, a SAD portista apresenta níveis de rentabilidade da sua operação melhor que a SAD vermelha. De acordo com dados da Refinitiv, as ações da Benfica SAD negoceiam com uma margem operacional negativa de 14,6% e uma margem bruta de apenas 29,5%. Em oposição, os últimos dados da FC Porto SAD mostram uma empresa com uma margem operacional de 33,9% e uma margem bruta de 68,4%.

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Diretor do Banco Mundial diz que é preciso “fazer mais” na luta contra a pobreza

  • Lusa
  • 7 Abril 2023

O novo diretor do Banco Mundial, Axel van Trotsenburg, defendeu que os organismos financeiros internacionais devem "fazer mais" na luta contra a pobreza.

Axel van Trotsenburg, o novo diretor do Banco Mundial, defendeu esta sexta-feira que num momento económico incerto e diante do inevitável desafio da crise climática, os organismos financeiros internacionais devem “fazer mais” na luta contra a pobreza.

Em entrevista à agência de notícias espanhola EFE, Van Trotsenburg, que está no cargo há apenas quatro dias, defendeu a adoção de medidas para que o progresso contra a pobreza não seja totalmente revertido.

O diretor do Banco Mundial, que acaba de voltar de uma viagem à China onde discutiu, entre outros assuntos, o processo de reestruturação da dívida dos países pobres, apresentará na próxima semana o plano de reformas durante as suas reuniões de primavera com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“O Banco Mundial é uma das poucas instituições capazes de fazer essa aposta. São tantos desafios que não dá só para falar, tem que de se agir”, disse.

Van Trotsenburg explicou que os governadores do Banco Mundial decidirão em breve aprovar um novo pacote de financiamento no valor de cerca de 46 mil milhões de euros em empréstimos para países de rendimento médio, que vigorará nos próximo 10 anos.

Além disso, para os países de baixo rendimento, o objetivo é conseguir mais dinheiro para fundos de emergência contra crises como a alimentar, mas acima de tudo que sejam feitos esforços para melhorar a sustentabilidade da dívida pública.

“Se acabarmos numa crise da dívida, corremos o risco de perder anos de desenvolvimento”, explicou o economista, apelando aos países credores, e sobretudo à China, para agirem rapidamente para aliviar a dívida dos países que estão em risco de incumprimento, como a Zâmbia.

O Banco Mundial e o FMI participaram, recentemente, na criação de uma “mesa redonda” dentro do G20 para rever os processos de reestruturação da dívida no âmbito do chamado Quadro Comum, cuja presidência está, este ano, atribuída à Índia.

Nova Delhi já manifestou intenção de ser a voz dos países em desenvolvimento durante a liderança do G20, e a questão da dívida será uma das prioridades. Van Trotsenburg não quis antecipar nada sobre um possível acordo para renovar o Quadro Comum, mas deixou claro que o Banco Mundial está a trabalhar o tema.

O diretor do organismo internacional reconhece que grande parte da incerteza económica se deve a desafios globais como as mudanças climáticas, e, lembrando os jovens, disse entender a frustração de muitos e o pedido que formulam às instituições para que façam um esforço maior pelo planeta.

“Concordo com eles. Acho que temos que agir”, disse Van Trotsenburg, sublinhando que as iniciativas climáticas não podem ser “uma moda”, mas devem estar presentes em todas as operações da agência, o diretor acrescentou que o Banco Mundial tentará aumentar o impacto das suas iniciativas, trabalhando com o setor privado para “triplicar” o efeito dos programas.

“Vemos isso como parte de um esforço global no qual o Banco Mundial pode dar uma contribuição muito boa, mas também acho que todos deveriam fazer o mesmo”, acrescentou.

Estas preocupações farão parte da mensagem que as autoridades da organização levarão às reuniões de primavera agendadas para a próxima semana em Washington, nos EUA. O FMI e o Banco Mundial vão reunir-se, em outubro, em Marrakech, em Marrocos.

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Taxa de desemprego nos EUA recua uma décima para 3,5% em março

  • Lusa
  • 7 Abril 2023

A taxa de desemprego nos EUA recuou uma décima, em março, fixando-se em 3,5%, após a criação de cerca de 236 mil novos postos de trabalhado criados.

A taxa de desemprego nos EUA recuou uma décima, em março, fixando-se em 3,5%, após mais de 236 mil novos postos de trabalhado criados, segundo dados do Departamento do Trabalho (DOL) norte-americano, divulgados esta sexta-feira.

Esta redução surge após o aumento verificado em fevereiro, impulsionado pelas subidas nos juros, uma medida adotada para conter a inflação. Em março, foram criados menos 75 mil postos de trabalho que em fevereiro.

Cerca de 5,8 milhões de norte-americanos permanecem desempregados. O número de pedidos de subsídio de desemprego nos EUA por semana ultrapassou os 200 mil desde fevereiro, ficando acima das estimativas.

Só na semana terminada em 1 de abril foram registados 228 mil pedidos, quando na semana anterior tinham sido contabilizados 246 mil.

Atualmente, cerca de 1,8 milhões de pessoas recebem subsídio de desemprego nos EUA, segundo os últimos dados disponíveis reportados à semana terminada em 25 de março, o que reflete um aumento de 6 mil subsídios.

Na terça-feira, o Departamento do Trabalho indicou que as vagas de emprego nos EUA caíram para 9,9 milhões em fevereiro, um mínimo desde maio de 2021. Em março, as empresas privadas criaram 145 mil postos de trabalho, menos 44% face aos 261 mil contabilizados em fevereiro.

Nas suas últimas projeções trimestrais, a reserva federal (Fed) norte-americana prevê que a taxa de desemprego suba para 4,5% no final do ano.

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No Dia Mundial da Saúde, raio-X ao setor em seis gráficos

Esta sexta-feira assinala-se o Dia Mundial da Saúde. Do orçamento à despesa dos utentes com medicamentos, o ECO fez um raio-X ao setor, tendo por base seis indicadores.

Os últimos anos têm sido marcados por um reforço contínuo do Orçamento do setor da Saúde. Contudo, a suborçamentação crónica, a falta de recursos humanos, os problemas nas urgências de ginecologia e obstetrícia ou de pediatria e o descontentamento dos profissionais, que pedem melhores condições de trabalho e salários, têm vindo a ecoar. No Dia Mundial da Saúde, que se assinala esta sexta-feira, o ECO fez um raio-X ao setor, tendo por base seis indicadores, do Orçamento à despesa dos utentes com medicamentos.

Orçamento com reforço de quatro mil milhões face a 2015

O Orçamento do Estado prevê que as transferências para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ascendam a 12.297 milhões de euros em 2023, segundo consta na nota explicativa que acompanhou o relatório do OE2023, o que representa um aumento de 1.177 milhões de euros em relação a 2022. Recuando um pouco mais, a 2015, ano em que António Costa assumiu as rédeas do Governo, a atual verba para a Saúde é superior em 4.423 milhões de euros.

Não obstante, importa sublinhar que a suborçamentação é vista como um problema crónico na área da Saúde. O Programa Orçamental da Saúde (POS) de 2023, que inclui o Serviço Nacional de Saúde (SNS), apresenta uma “despesa consolidada de 14.858 milhões de euros, sendo superior em 7,8% à execução estimada até ao final de 2022, e uma despesa efetiva consolidada de 14.804,8 milhões de euros”, aponta ainda o relatório.

Consultas e cirurgias batem recorde, mas listas de espera aumentam

No ano passado, o SNS teve a “maior atividade assistencial da sua história, com os hospitais públicos a baterem o recorde de consultas médicas e cirurgias”, afirmou o ministro da Saúde no início de fevereiro. Em 2022, foram realizadas 12.770.000 consultas médicas em hospitais públicos e 758.313 cirurgias. Já as consultas presenciais realizadas nos cuidados de saúde primários aumentaram 19% nesse período para 17.271.000.

Apesar de existirem tempos máximos de reposta para o setor da Saúde — por exemplo, o prazo para realização de uma cirurgia programada de um paciente com prioridade normal é de 180 dias, mas o limite é encurtado para 60 dias em caso de doença oncológica — a elevada pressão sobre o SNS tem levado a aumentar os utentes em lista de espera.

Se em janeiro de 2018, havia 154.103 doentes inscritos em lista de espera, em dezembro de 2022 eram 159.644, segundo os dados disponibilizados no portal da Transparência do SNS. De notar que entre março e setembro de 2020 este número caiu a pique, na sequência da pandemia, que suspendeu grande parte da atividade assistencial.

Há quase 31 mil médicos no SNS

Apesar dos sucessivos alertas de que a falta de condições e os baixos salários estão a afastar os médicos do SNS para o privado ou para a emigração, o número de médicos no público tem vindo a aumentar. Se em dezembro de 2015 havia 25.304 médicos no Estado (incluindo todos os vínculos contratuais), em dezembro do ano passado esse número aumentou para 30.921, segundo os dados provisórios da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP).

Importa, no entanto, sublinhar que estes dados são trimestrais e que, por isso, vão oscilando ligeiramente. A título de exemplo e analisando os dados da última década, o “pico” deu-se em março de 2022 com 32.369 médicos a trabalhar para o SNS. A idade dos médicos é outro dos problemas que o setor enfrenta: se, em 1996, cerca de 11% dos médicos inscritos na Ordem dos Médicos tinha mais de 65 anos, os dados mais atuais, referentes a dezembro de 2021, colocam esta percentagem em 24%, de acordo com um estudo realizado por investigadores da Nova SBE. O estudo indica ainda que se prevê a aposentação de cinco mil médicos que trabalham para o SNS até 2030.

Portugueses gastam, em média, quase 83 euros com medicamentos

Tanto a despesa dos utentes com medicamentos como a despesa do SNS com medicamentos tem vindo a aumentar de forma contínua nos últimos anos. Se em 2015, os portugueses gastavam cerca de 709 milhões de euros com remédios em 2022 a despesa era de quase 817 milhões de euros. Contas feitas, em 2022 os portugueses gastaram em média 82,80 euros por pessoa, o que representa um aumento de 7,4% face ao ano anterior, de acordo com dados do Infarmed. Já se a comparação for feita com 2015, houve um aumento de 15% na despesa com medicamentos (mais 107,5 milhões de euros).

Já no que toca à despesa do SNS com medicamentos, esta subiu cerca de 137 milhões de euros no último ano (mais 9,6%) para um total de 1.567 milhões de euros. Este aumento de 9,6% foi o maior dos últimos anos, com os encargos do SNS com os medicamentos em ambulatório a subirem pelo menos desde 2013, ano em que representaram uma despesa pública de 1.160 milhões de euros. Se a comparação for feita com 2015, houve um aumento de 32,5% na despesa do SNS com medicamento, isto é, mais 384,6 milhões de euros.

Seguros de saúde duplicam desde 2000

A falta de resposta do SNS tem provocado um aumento do número de portugueses com seguros de saúde privados. No final de março de 2022, mais de três milhões de portugueses tinham seguro de saúde, o que representa um aumento de cerca de 205 mil face a março de 2021, de acordo com o último balanço da APS, associação que agrega as seguradoras em Portugal.

No entanto, segundo a APS, o preço médio por pessoa segura no último ano sofreu uma redução. No caso dos individuais o valor anual foi de 366,4 euros para os individuais quando 12 meses antes era de 369,8 euros. Já por grupo a anualidade por pessoa baixou de 309,2 para 306,1 euros.

Um estudo de investigadores da Nova SBE, com base nos dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), aponta ainda que desde 2000 que “o número de apólices de seguros de saúde mais que duplicou, de 14% para 32% em 2021”, sublinhando ainda assim, que estes dados devem ser interpretados com “limites superiores” dado que há a possibilidade de “um mesmo indivíduo poder ter mais do que um seguro de saúde” e uma vez que não incluem os portugueses abrangidos por subsistemas de saúde, como é o caso da ADSE.

O peso dos seguros de saúde privados no total do financiamento das despesas com cuidados de saúde, durante estas duas décadas, passou de 1,5% em 2000 para 3,6% 2020 (com um máximo de 4,1% em 2018). Ou seja, os seguros de saúde privados mais do que duplicaram o seu peso no financiamento das despesas em cuidados de saúde, ainda que a base de partida seja muito baixa”, aponta ainda o estudo.

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PRR revisto e aumentado. Leia a proposta de reprogramação aqui na íntegra

O exercício de reprogramação surge da necessidade de enquadrar o reforço das verbas e de acautelar “os inegáveis constrangimentos colocados quer à execução” do PRR.

O reforço orçamental de quase 2,4 mil milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), operacionalizado no âmbito da sua reprogramação, está em consulta pública até 21 de abril. Leia as 49 páginas do documento que aguarda contributos antes de ser formalmente entregue em Bruxelas.

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Preços dos alimentos descem em março pelo décimo segundo mês consecutivo

  • Lusa
  • 7 Abril 2023

Apesar da tendência de queda dos preços dos alimentos, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sublinha que os preços continuam "muito elevados".

O índice de referência dos preços internacionais das matérias-primas alimentares desceu pelo 12.º mês consecutivo em março. A correção dos preços traduziu-se numa queda de 2,1% do índice em comparação a fevereiro, e a uma queda de 20,5% face ao mesmo mês de 2022, informou hoje a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Esta diminuição do índice deve-se principalmente à queda nos preços mundiais de cereais e dos óleos vegetais. A agência da ONU informou hoje que o índice de preços dos alimentos atingiu uma média de 126,9 pontos em março e “a procura de importações moderada e o prolongamento do acordo dos cereais entre a Ucrânia e a Rússia contribuiu para o declínio”.

O Índice de Preços de Cereais da FAO caiu 5,6% em relação a fevereiro e o trigo caiu 7,1%, pressionado pela forte produção na Austrália, melhores condições de cultivo na União Europeia, aumento da oferta da Federação Russa e exportações contínuas da Ucrânia dos seus portos marítimos.

Enquanto os preços mundiais do milho caíram 4,6%, em parte devido às expectativas de uma safra recorde no Brasil, os preços do arroz caíram 3,2% após os dados das colheitas em andamento ou iminentes nos principais países exportadores, incluindo Índia, Vietname e Tailândia.

“Embora os preços tenham caído globalmente, continuam muito elevados e continuam a subir nos mercados domésticos, colocando desafios adicionais para a segurança alimentar”, explicou a agência.

“Este é especialmente o caso dos países em desenvolvimento que são importadores líquidos de alimentos, cuja situação é agravada pela desvalorização das suas moedas em relação ao dólar ou ao euro e o crescente peso da dívida”, disse Máximo Torero, economista-chefe da FAO.

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Resgatei dinheiro aplicado num PPR e num plano de poupança em ações. O que devo fazer?

  • ECO
  • 7 Abril 2023

O ECO escolheu algumas dicas do Guia Fiscal da Deco Proteste para ajudar os contribuintes na altura da entrega do IRS, que serão partilhadas diariamente.

A campanha do IRS já arrancou, no primeiro dia do mês, mas há quem ainda tenha dúvidas sobre a entrega desta declaração. Alguns têm o trabalho facilitado, estando abrangidos pelo IRS automático, mas, mesmo assim, certos aspetos poderão ainda estar por esclarecer. A resposta às perguntas mais frequentes dos contribuintes pode ser encontrada no Guia Fiscal 2023, da Deco Proteste.

Há vários contribuintes com acesso ao IRS automático e os mais novos podem optar pelo IRS Jovem. Entre as novidades deste ano, onde já se pode sentir o efeito das novas tabelas de retenção na dimensão do reembolso, encontra-se o desdobramento de escalões de IRS, de sete para nove.

O ECO selecionou algumas dicas disponibilizadas pela Deco Proteste para ajudar a esclarecer todas as dúvidas, que serão partilhadas diariamente.

Resgatei dinheiro aplicado num plano de poupança-reforma (PPR) e num plano de poupança em ações (PPA). O que devo fazer?

O resgate destas aplicações só tem de ser declarado se tiver sido feito fora das condições previstas no contrato ou antes de outubro de 2022 (ver regime excecional de resgate). Para o declarar, preencha o campo 803 do quadro 8 do anexo H, para o PPR, e o campo 804 do mesmo anexo para o PPA. Neste caso, tem de devolver os benefícios fiscais usufruídos, acrescidos de 10% por cada ano decorrido.

Nos PPA, é aplicada a taxa de 20% sobre a diferença entre o valor devido quando encerrou o plano e os montantes que entregou. Nos planos de poupança-reforma, educação ou mistos, a taxa é de 21,5%, mas desce se durante a primeira metade de vigência do contrato o valor das entregas corresponder a 35% do total. Sendo assim, se o prazo da aplicação for de cinco a oito anos, declara 4/5 do rendimento, o que equivale a 17,2% de taxa; já se a aplicação tiver mais de oito anos, declare 2/5 do que ganhou, ou seja, paga 8,6% sobre o rendimento.

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Reprogramação do PRR já está em consulta pública. Empresas têm reforço de 1,9 mil milhões

Programa das Agendas Mobilizadoras reforçado e a tranche adicional de empréstimos do PRR também será usada para alojamento estudantil a custos acessíveis. Reprogramação em consulta pública.

A reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) está em consulta pública desde quinta-feira. Com os 2,4 mil milhões de euros adicionais que Portugal vai receber, o Governo avança com novas reformas, novos investimentos e reforço de alguns investimentos. As agendas mobilizadoras — os consórcios entre empresas, universidades e laboratórios — são um dos programas com o maior reforço, já que a dotação inicial de 930 milhões sobe para 2,85 mil milhões de euros.

Portugal dispõe agora de um montante de 1,6 mil milhões de euros de subvenções adicionais, decorrentes da atualização do montante de subvenções, assim como 785 milhões decorrentes da iniciativa REPowerEU”, pode ler-se no documento que está em consulta pública durante 14 dias, ou seja até 21 de abril. Estes 1,6 mil milhões resultam do novo “cálculo da contribuição financeira atualizado, substituindo os dados das previsões de outono da Comissão de 2020 pelos resultados efetivos no que respeita à variação do PIB real de 2020 e à variação agregada do PIB real para o período de 2020-2021”. Já os 785 milhões correspondem à dotação adicional que decorre da quota-parte dos recursos, a título de apoio financeiro adicional não reembolsável ao abrigo do Mecanismo de Recuperação e Resiliência a que acresce uma parte da Reserva de Ajustamento ao Brexit.

“Tendo em conta as lições de experiência na implementação do PRR, e a complementaridade com os investimentos previstos no âmbito do PT2030, estes recursos adicionais permitirão o financiamento de novos investimentos e o reforço da ambição de um conjunto restrito de investimentos já em execução. A atualização do montante de subvenções criou a oportunidade para novos investimentos enquadráveis nas componentes já existentes do PRR”, acrescenta o documento.

As opções do Executivo, que poderão ainda ser afinadas com os contributos que o documento venha a receber, foram efetuar um “reforço muito significativo das Agendas/Alianças Mobilizadoras “com uma subida da sua dotação total de 930 milhões de euros para 2,85 mil milhões”. Este reforço vai permitir “assegurar o financiamento a todas as agendas (mobilizadoras e verdes) classificadas com avaliação favorável”. Este reforço de 1.923 milhões de euros inclui financiamento com recurso a empréstimos. Mas o documento é omisso quanto aos valores que o Governo optou por usar.

No entanto, em declarações ao Expresso, a ministra Mariana Vieira da Silva revela que aos 2,4 mil milhões de reforço em subvenções se mais 1.585 milhões de empréstimos. O primeiro-ministro já tinha anunciado que Portugal iria recorrer a uma tranche adicional de empréstimos da bazuca devido ao efeito da inflação que ameaça o nível de ambição de alguns projetos. Portugal desde o início tinha pré-reservado em Bruxelas a possibilidade de utilizar mais 2,3 mil milhões de euros em empréstimos, que estariam condicionados à utilização nas empresas, como explicou o ministro da Economia da altura, Pedro Siza Vieira. A forte adesão das empresas às agendas mobilizadoras – foram apresentadas 143 manifestações de interesse, que se traduziria num montante de investimento de 14,7 mil milhões de euros — foi sempre um indicativo que Portugal teria de recorrer a esta verba caso quisesse financiar os projetos com verbas da bazuca.

A tranche adicional de empréstimos também será usada para a construção de alojamento estudantil a custos acessíveis. O reforço de dotação previsto é de 72 milhões de euros. No Programa Alojamento Estudantes Ensino Superior (PNAES) S foram aprovadas 134 candidaturas, totalizando 18.239 camas. “Deste total de camas, 11.795 são camas novas, que reforçam a rede existente, e 6.444 camas resultam da renovação da atual rede de residências de estudantes já em funcionamento, procedendo à sua requalificação”. Mas dotação inicial de 375 milhões só poderia financiar 119 candidaturas e por isso a opção foi reforçar o programa.

O documento sublinha que ainda “está em curso a identificação de projetos que permitam fomentar o PRR enquanto instrumento de apoio ao investimento estratégico empresarial promotor das transições verde e digital, com recurso a empréstimos”.

Outra das áreas a reforçar é a da Ciência e nas instituições de ensino superior com mais 165 milhões de euros a que se segue a terceira grande prioridade da reprogramação — os equipamentos sociais e escolas que vão ter mais 100 milhões de euros, nomeadamente creches, estruturas residenciais para idosos ou o serviço de apoio domiciliário.

O Governo estima que seja possível requalificar mais de 10.000 lugares no total da rede de equipamentos e respostas sociais, além do que já estava previsto. A aposta incide ainda sobre o reforço das dimensões de digitalização da administração pública e empresas em 183 milhões.

Outro pilar da reprogramação diz respeito ao RePowerEU que vai permitir uma maior aposta na eficiência energética, mobilidade urbana, energias verdes, como o hidrogénio, mas também reforçar as estruturas para fazer essa transição climática.

Se por um lado se criam novas medidas como o apoio ao desenvolvimento da indústria verde – “ao intensificar o apoio público ao investimento industrial em tecnologias estratégicas para a transição climática, direta e indiretamente associado à implementação de energias renováveis e eficiência energética, como sejam a produção de turbinas eólicas, torres, flutuadores, cablagem elétrica, painéis fotovoltaicos, estruturas de suporte, equipamentos especializados para operação e manutenção e bombas de calor” – por outro, reforçam-se outras como a eficiência energética dos edifícios residenciais que recebe mais 120 milhões de euros, para apoiar cerca de 70 mil candidaturas.

O exercício de reprogramação surge da necessidade de enquadrar o reforço das verbas e de acautelar “os inegáveis constrangimentos colocados quer à execução” do PRR, “em particular nos grandes investimentos em infraestruturas”, explica o documento.

Em termos comparativos, Portugal está “no pelotão da frente na execução do PRR, sendo um dos seis países que já submeteu e recebeu o segundo pedido de pagamento”, cumpriu 58 marcos e metas do PRR dos dois primeiros pedidos de desembolso, o que representa 17% da totalidade de marcos e metas acordados com Bruxelas.

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