BRANDS' ECO Ciclo de Conversas #8 – A importância dos dados
A oitava sessão do "Ciclo de Conversas - Rumo à Neutralidade Carbónica 2030", organizada pela CM Porto, teve como tema "A importância dos dados". O evento decorreu no Porto Innovation Hub.
O “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto, que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A oitava sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 6 de julho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema “A importância dos dados”.
João Bastos, Diretor de Arquitetura de Sistemas e Análise de Dados na Porto Digital, foi o moderador do evento, que contou com a presença de Miguel Almeida, especialista em ciência de dados; Ana Leite, Diretora do Departamento Municipal de Proteção de Dados do Município do Porto; e Ana Lima, Diretora Técnica e Coordenadora do Departamento EPMQ (IT Engineering – Process, Data, Maturity, and Quality) do Instituto CCG/ZGDV e Professora Convidada na Universidade do Minho.
Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.
Na abertura da sessão, João Bastos começou por enaltecer a importância dos dados na tomada de decisões, principalmente no contexto de uma cidade: “Todos nós estamos cientes da importância dos dados para tomar decisões. É importante perceber como podemos tirar valor dos dados, de forma sistemática, e com qualidade. E, no contexto de uma cidade, entender como esta pode encaminhar-se para a neutralidade carbónica com os dados que a própria cidade pode gerir”.
“Para isso, é necessário: primeiro, democratizar o acesso aos dados e torná-los parte do nosso dia a dia; em segundo, olharmos para eles no contexto da cidade; e, em terceiro, confiar nos dados e perceber como podem contribuir para o objetivo da neutralidade carbónica no Porto“, acrescentou.
Como os dados podem responder ao Pacto do Clima
A primeira intervenção do evento ficou a cargo de Ana Lima, Diretora Técnica e Coordenadora do Departamento EPMQ (IT Engineering – Process, Data, Maturity, and Quality) do Instituto CCG/ZGDV e Professora Convidada na Universidade do Minho, que destacou algumas das vantagens que a recolha de dados pode trazer para as cidades se tornarem sustentáveis.
A monitorização do apoio à tomada de decisão, a análise dos riscos e vulnerabilidades, o apoio à investigação e inovação, e um maior engagement com o cidadão foram algumas das mais valias apontadas pela professora, que acrescentou: “Os dados podem ajudar na definição de metas e compromissos, nas quais o governo se deve cingir. Estes dados permitem, ainda, que as cidades e os países até possam reduzir impactos fruto das previsões que trazem”.
Depois de apresentar as vantagens, Ana Lima também trouxe para a discussão alguns dos desafios associados aos dados, tais como a segurança cibernética, a interoperabilidade e a recolha e transmissão de dados em tempo real. “Por isso, é importante garantir a utilização ética dos dados para construir a confiança do cidadão e evitar problemas legais da utilização, assegurar que os dados têm uma linguagem clara para os sistemas comunicarem uns com os outros, e, ainda, ter redes de comunicação de alta velocidade que garantam a transmissão de dados em tempo real, o que ainda é um problema”.
Nesse sentido, a responsável apresentou o projeto “Catalisador para as cidades inteligentes”, que envolve quatro pilotos, em quatro cidades, nomeadamente Porto, Aveiro, Guimarães e Vila Nova de Famalicão. “O objetivo era assegurar o maior nível de normalização e interoperabilidade de plataformas urbanas, com uma maior capacidade de previsão e análise dos dados em diferentes âmbitos de atuação – ambiente, comunicações, mobilidade, telecomunicações”, referiu.
Ana Lima explicou, ainda, que este projeto tornou possível avaliar, em tempo real, a avaliação da sustentabilidade das cidades de forma dinâmica: “Isto só foi possível porque foi criada uma arquitetura de dados federada, ou seja, cada um destes municípios tem o seu repositório de dados e cada um deles poderia disponibilizar de forma normalizada os dados para que cada um dos restantes municípios pudesse aceder a eles com o objetivo de gerar conhecimento a partir dessa partilha. Tudo isto resultou em dashboards de demonstração para ver a densidade populacional em Famalicão, em determinado horário, mas também, com os dados recolhidos a nível ambiental, foi possível saber a concentração de CO2 na cidade e fazer alterações“.
“Com base nestes resultados, conseguimos perceber que, no âmbito das cidades sustentáveis, a tomada de decisão baseada nos dados é valiosa, tanto ao nível da mobilidade, do uso da energia, da qualidade do ar, do fluxo de pessoas, da eficiência dos serviços públicos, das previsões de consumo de água, da resiliência e adaptação às alterações climáticas, do planeamento de rotas, do uso de transportes sustentáveis, e da identificação tendências demográficas”, disse.
Visualizar uma cidade com dados
Por sua vez, Miguel Almeida, especialista em ciência de dados, apresentou o projeto que desenvolveu com vista a visualizar uma cidade através de um dashboard. A ideia seria que, ao entrar na plataforma criada pelo especialista, todos os cidadãos comuns pudessem acrescentar informações, tais como a oferta de transportes, de lugares culturais, o fluxo de pessoas, entre outras.
“A ideia deste projeto passa por divulgar dados que são úteis para tornar cidades mais sustentáveis, tais como perceber se, em determinada zona, as pessoas vão ter tendência de andar a pé ou se vão pegar no carro, se estão bem servidas de transportes ou não, se há ruído ou poluição, que também indicam mais prazer ou não em andar a pé, a questão da segurança, da mobilidade suave, várias coisas. E ainda a pressão turística, nomeadamente o alojamento local porque, na minha opinião, o problema da mobilidade não é dissociado do problema da habitação”, explicou.
No entanto, Miguel Almeida alertou para o facto de ser muito complexo para os cidadãos aceder a todos os dados que necessitariam para poder inserir informações no site: “Vou dar o exemplo de Lisboa. Enquanto cidadão, se eu quisesse inserir estes dados neste site, precisaria de pelo menos três fontes de dados – o portal de dados abertos de Lisboa, o Transporlis, e o portal da EMEL. O problema é que poucas das fontes são em tempo real e recolher todos estes dados seria muito trabalhoso. Além disso, ainda há dados que não estão em nenhum destes três sites“.
Mas o que se pode mudar para que essa troca de dados fique mais facilitada? De acordo com o responsável, é necessário fazer com que os dados não sejam apenas a existência de um portal de dados abertos, e tentar criar condições para que a comunidade possa fazer bom uso desses dados e colocá-los nos sites e nas plataformas de colaboração que já existem.
“Os cidadãos podem usar as informações deste site para pressionar os seus decisores e para interagir com eles. Com ele conseguem ter um suporte para dizer que determinada zona da sua freguesia é mais desfavorecida”, disse.
Como o Porto gere os dados que produz?
Ana Leite, Diretora do Departamento Municipal de Proteção de Dados do Município do Porto, também enalteceu a importância de os cidadãos expressarem as suas necessidades e de exigirem os dados, a fim de que se torne cada vez mais percetível a importância destes: “Não se deve apenas aceitar que o correio deixou as cartas noutro lugar, por exemplo. Há dados para contornar isso e as pessoas devem entender que agora existe essa ferramenta e exigi-la”.
A responsável explicou, ainda, que o município do Porto se foca na organização para garantir que toda a região “fale uma língua só” entre si, entre os seus dados. “Depois de catalogados todos os dados, conseguimos ir percebendo o conjunto de dados que faz sentido disponibilizar no portal de dados abertos. E, nesse sentido, só é possível conseguir a neutralidade carbónica se formos tendo estes dados da cidade disponibilizados“, garantiu.
No entanto, Ana Leite explicou que para que isto seja possível é extremamente necessário que se mude o mindset cultural: “O primeiro grande desafio é cultural. É preciso assumirmos que os dados são um novo produto e um novo serviço de uma autarquia. Temos que assumir nós, que os estamos a produzir, bem como os cidadãos, que precisam deles”.
“Peçam-nos os dados para nós conseguirmos perceber que os temos de produzir. Ajuda-nos muito perceber a necessidade que a cidade tem deles. Por isso, pedir este produto e exigi-lo é importante, é um bem maior para conseguirmos todos falar esta linguagem comum. Os dados são mesmo um património comum da humanidade“, concluiu.
Pode, ainda, ouvir em conferência em podcast:
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