BRANDS' ECOSEGUROS Riscos Elevados versus Maus Riscos

  • BRANDS' ECOSEGUROS
  • 27 Julho 2023

No mundo dos seguros, é relativamente frequente ouvir-se a expressão "ah, isso é um mau risco".

No entanto, a minha visão pessoal, mas também partilhada, devo dizer, dentro da equipa de trabalho onde estou inserido, é de que esse género de expressões esconde com frequência uma confusão entre conceitos. Conceitos esses que, em muitas situações, tem um resultado prático semelhante, são, porém, diferentes, importando, julgo eu, compreender a razão dessas diferenças. Um mau risco e um risco elevado podem confundir-se, mas não são a mesma coisa.

Na prática, muitos destes casos mais complexos que chegam ao mercado segurador pelas mãos de particulares e empresas, acabam por ter o mesmo desfecho: não serem aceites pelos serviços da seguradora, fazendo com que os clientes, regressem frustrados ao ponto de partida de mãos a abanar, sem a apólice que procuram. A razão pela qual esses casos não são aceites é no fundo também a mesma: a seguradora entende não ter condições para aceitar o risco. Mas para aqueles que se interessem um pouco mais pelas causas das coisas e que queiram entender a lógica da aceitação dos riscos para lá das políticas desta ou daquela seguradora, vale a pena traçar a diferença. Um risco elevado é simplesmente um risco cujas características fazem com que ele tenha maior probabilidade de vir a causar dano relevante, normalmente por ter maior propensão à frequência de sinistros ou à severidade dos estragos que causa. Mas é um tipo de risco que, dentro de um cenário de hipóteses realistas e razoáveis, pode ser aceite pelo mercado segurador, quando desenhado de forma tecnicamente sólida e sustentável. Um mau risco é um risco para o qual não existe qualidade técnica na subscrição que valha à seguradora. Por outras palavras, é um caso grave à espera de acontecer.

Vejamos, a título de exemplo, o caso das ourivesarias e dos seguros contra furto ou roubo dos seus stocks. É do conhecimento geral que este é um tipo de negócio especialmente propenso a tentativas de assalto, cometidos por vezes de forma violenta ou com meios um pouco mais sofisticados e que, pela natureza dos bens em causa, facilmente envolve, em caso de sinistro, montantes bastante significativos. Trata-se por isso de um risco elevado, parece-me evidente. Mas será que toda e qualquer ourivesaria representa em si um mau risco? Não, julgo que essa se trata de uma simplificação da realidade de certa forma compreensível, mas pouco útil e verdadeira se quisermos mergulhar um pouco mais no detalhe. Seria mais correto dizer que são maus riscos as ourivesarias que não cumprirem, por exemplo, com determinados requisitos mínimos de segurança.

Neste contexto, uma das razões pelos quais alguns profissionais, sobretudo na área da subscrição ou underwriting, granjeiam fama de especialistas, é justamente por estarem confortáveis em lidar com riscos elevados e de os poderem em muitos casos aceitá-los nas suas carteiras, enquanto outros colegas de profissão não o estando, acabam, não sempre, mas com alguma frequência, por encaixar esses mesmos casos no mesmo caixote dos maus riscos. E a razão pela qual alguns subscritores do mercado estão mais confortáveis com o tema, não tem que ver com nenhum tipo de atração pelo abismo ou com mera apetência pelo risco, mas sim com o nível de experiência e o grau de conhecimento sobre os assuntos (fora claro outros aspetos que não estamos aqui a considerar como a capacidade financeira ou a estratégia comercial da seguradora). O profissional da seguradora que entenda verdadeiramente o risco, do ponto de vista material e moral, consegue compreender os seus pontos fortes e fracos, prever razoavelmente o que pode correr mal e adaptar as condições da aceitação do risco a essa realidade. Na prática, impor as condicionantes necessárias, estipular franquias ajustadas, cobrar um prémio adequado ao risco, equacionar o uso de determinadas exclusões e sublimites, entre outras opções. Pelo contrário, alguém que não conheça suficientemente bem o risco e que o receie, mais dificilmente conseguirá distinguir o caso aceitável do não aceitável, mandando a prudência que não vá a jogo.

No nosso mercado, em particular nos seguros de responsabilidades e de riscos patrimoniais, conseguimos, hoje, encontrar uma série de exemplos que são mais ou menos conhecidos como riscos difíceis: as já referidas ourivesarias ao nível do risco de furto ou roubo, o risco de incêndio em construções de madeira ou em estruturas que incorporam painéis sandwich, transporte de obras de arte, erro profissional de atividades jurídicas ou financeiras, entre muitos outros exemplos. Perceber onde estão os maus riscos ou os riscos simplesmente mais elevados, mas seguráveis, é um aspeto importante no qual reside depois a diferença entre fechar a porta ao cliente ou convidá-lo a sentar-se e conversar um pouco connosco.

Ricardo Azevedo, Diretor Técnico da Innovarisk

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