Dia da Sobrecarga. Planeta esgotou recursos e vive de “crédito ambiental” a partir de hoje
Desde 1971 que o planeta tem esgotado, cada vez mais cedo, os recursos naturais de que vive. A partir de hoje, o planeta está a viver de crédito ambiental.
O planeta está, a partir de hoje, em situação de sobrecarga. Por outras palavras, a partir desta quarta-feira, os recursos e serviços ambientais que a humanidade consome já excederam a capacidade do planeta Terra de regenerar esses mesmos recursos. O fenómeno ficou conhecido como o Dia da Sobrecarga, ou em inglês, Overshoot Day.
A situação é recorrente todos os anos. A diferença é que, em 2023, o uso do cartão de crédito ambiental começou um dia mais tarde do que em 2022, ou seja, a 2 de agosto.
Na verdade, e olhando para os dados das últimas décadas, recolhidos pela organização internacional Overshoot Day, e citados pela associação ambientalista Zero, é possível verificar que o Dia da Sobrecarga tem vindo a acontecer cada vez mais cedo desde 1971. Nos últimos 13 anos tem acontecido entre finais de julho e agosto.
A associação ambientalista Zero considera que esta tendência, de estagnação nos últimos cinco anos, pode estar associada “aos esforços de descarbonização e a um conjunto de políticas que visam promover o respeito pelos limites do planeta”. No entanto, não descarta que este atraso ligeiro, muito se possa dever a uma desaceleração económica nos últimos anos.
“De qualquer modo, esta tendência é insuficiente para alcançar os objetivos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPPC) de reduzir as emissões de carbono a nível mundial em 43% até 2030“, alerta a entidade presidida por Francisco Ferreira, reforçando que, para que tal seja possível, “teremos de retirar 19 dias [à data da Sobrecarga] em cada um dos próximos sete anos”.
Práticas mais “verdes” atrasam crédito ambiental
Para contrariar a tendência e concretizar a iniciativa #MoveTheDate do Dia da Sobrecarga, que visa mudar o dia em que a humanidade esgota os recursos para uma mais tardia, a Zero defende que devem ser colocadas em curso “mudanças necessárias, de forma a reduzir o impacte que as suas atividades e necessidades têm sobre a capacidade de carga do planeta”.
Entre elas, uma maior aposta em fontes de energia renováveis, como a solar ou a eólica, que, segundo a Zero, são capazes de alimentar 75% das necessidades mundiais de eletricidade, e podem atrasar em 26 dias o uso do cartão de crédito ambiental do planeta, ou seja, para os últimos dias de agosto. Por sua vez, uma redução para metade do desperdício alimentar pode, por si só, atrasar em 13 dias o recurso ao crédito.
Mas há mais. A associação ambientalista estima que com uma redução da pegada ligada à mobilidade em 50% — isto se se assumir que um terço dos quilómetros percorridos são substituídos por transporte público e os restantes por bicicleta ou andar a pé — o planeta apenas recorreria ao cartão de crédito ambiental 13 dias mais tarde, ou seja, na segunda semana de agosto. Já uma redução do consumo de carne em 50% e uma substituição para uma alimentação vegetariana permitiria atrasar para meados de agosto.
O impacto mais significativo seria resultado de uma redução da pegada de carbono em 50%. Os cálculos da Zero sugerem que, desta forma, seria possível atrasar o crédito ambiental em 93 dias, ou seja, apenas em novembro.
Como se calcula?
O Dia da Sobrecarga do planeta é calculado dividindo a biocapacidade do planeta — isto é, a quantidade de recursos naturais que o Planeta Terra consegue gerar e providenciar num ano — pela pegada ecológica da Humanidade, ou seja, a procura de recursos durante um ano, tendo em consideração os 365 dias de cada ano.
Tal como um extrato bancário dá indicação das despesas e dos rendimentos, a Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade).
A Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis). A biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.
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