Portugal com “participação muito forte” em novo telescópio da ESA

  • Lusa
  • 3 Agosto 2023

A "primeira grande missão" espacial do novo telescópio "vai ter como foco as atmosferas de exoplanetas" (planetas fora do Sistema Solar).

A Agência Espacial Europeia (ESA) validou os instrumentos científicos do telescópio espacial Ariel, que vai observar as atmosferas de 1.000 planetas extrassolares, com Portugal a ter “uma participação muito forte” na missão com lançamento previsto para 2029.

A expressão é do astrofísico Pedro Machado, membro da direção do consórcio científico internacional responsável pela construção e exploração do novo telescópio espacial da ESA. Pedro Machado é investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), que hoje, em comunicado, anunciou que a ESA, da qual Portugal é Estado-membro, “validou o desenho dos instrumentos científicos”, significando na prática que “os instrumentos poderão começar a ser construídos e testados”.

À Lusa, Pedro Machado, especialista no estudo de atmosferas planetárias, disse que Portugal tem nesta missão “uma participação muito forte em termos científicos e de engenharia”. Trata-se, nas palavras do também coordenador da participação portuguesa, da “primeira grande missão” espacial que “vai ter como foco as atmosferas de exoplanetas” (planetas fora do Sistema Solar).

No caso são cerca de 1.000 exoplanetas, uns rochosos outros gasosos, uns a 4,4 anos-luz da Terra outros a mais de 100 anos-luz. O objetivo é “caracterizar as atmosferas de outros mundos”, procurar uma eventual “nova Terra, um ambiente habitável, marcadores da possível existência de vida, oceanos, nuvens…”, enumerou Pedro Machado, que lidera, ainda, o grupo de investigação que explora as sinergias entre o conhecimento sobre as atmosferas planetárias do Sistema Solar e os exoplanetas.

A astrobióloga Zita Martins, do Instituto Superior Técnico, foi escolhida pela ESA para “acompanhar a componente científica” da missão, que conta com o envolvimento de mais de 30 investigadores portugueses, a maioria do IA. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, através do grupo de Instrumentação e Sistemas para a Astronomia, “está a desenvolver a componente de iluminação na luz visível e infravermelha” (invisível) do telescópio e “um conjunto de sensores”, de acordo com o coordenador da instrumentação portuguesa na missão, Manuel Abreu, citado no comunicado do IA.

O astrofísico Pedro Machado esclareceu à Lusa que, sem os detetores de luz infravermelha, os cientistas não conseguiriam ‘ler’ as “impressões digitais de moléculas” químicas deixadas nas atmosferas planetárias. Portugal está igualmente envolvido, através da empresa Active Space Technologies, na conceção do “sistema de absorção de luz indesejável que se introduz no telescópio” e na construção da “parte mais visível” do telescópio (a estrutura sem a lente).

Em termos de engenharia, a participação portuguesa na missão Ariel representa contratos com a ESA no valor de mais de dois milhões de euros, segundo Pedro Machado. Depois de lançado, o telescópio será colocado a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra, na mesma região onde se encontram os telescópios Euclid (enviado para o espaço há um mês) e James Webb (em órbita desde 2022).

A missão Ariel tem a duração de quatro anos, sendo esperados os primeiros dados científicos em 2030. O seu custo total (sem contar com o lançamento) está estimado em mais de 500 milhões de euros. A ESA conta com a colaboração das congéneres norte-americana (NASA), japonesa (JAXA) e canadiana (CSA). Ariel é o nome de uma lua de Urano, o sétimo planeta do Sistema Solar, e de uma das personagens de “A Tempestade”, de William Shakespeare, simbolizando a força de espírito.

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