Há seis anos que Portugal está a afundar no ranking da produtividade europeia
O nível de produtividade do trabalho em Portugal é 28% inferior à média da Zona Euro. Pior só os gregos e os eslovacos. E há seis anos que o país está a cair no ranking da produtividade europeia.
No final do ano passado, a produtividade do trabalho em Portugal correspondia a 72% dos níveis registados na Zona Euro. Significa que, em média, a produtividade por trabalhador é 28% inferior à média dos países do espaço da moeda única. Pior só os gregos e os eslovacos que, segundo dados do Eurostat, apresentavam em 2022 uma produtividade do trabalho de 66% e 71%, respetivamente, da Zona Euro.
Esta realidade não é nova. Há pelo menos 10 anos que Portugal se mantém na cauda da produtividade do espaço da moeda única. Porém, desde há seis anos que está a definhar no ranking europeu.
Segundo dados do gabinete de estatísticas da União Europeia, em 2016, Portugal até apresentava um nível de produtividade do trabalho superior ao atual, equivalente a 72,8% da média da Zona Euro, e conseguia ficar à frente de cinco países da Zona Euro. No espaço de seis anos foi ultrapassado pelos três países Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia), e no contexto da União Europeia foi ultrapassado pela Croácia (que este ano aderiu à Zona Euro), Roménia e Polónia.
“Este problema é grave”, refere ao ECO João Duque, professor do ISEG. “Temos mão de obra qualificada que não usamos e que se perde para o exterior, que a remunera bem e a usa devidamente”, refere. O primeiro relatório do Conselho para a Produtividade, publicado em março de 2019, foca justamente a má alocação do capital humano para a baixa produtividade nacional.
“O número de empresas com baixa produtividade é ainda significativo e a afetação de capital humano e físico entre setores e dentro dos setores sugere que, apesar do progresso observado, existe um potencial para crescimento através de uma melhor realocação de recursos.”
Para a economia nacional e para a carteira dos trabalhadores, o baixo nível de produtividade é um problema que se arrasta há vários anos e é visto como uma das causas para os baixos salários que persistem em Portugal. “Só através de aumentos da produtividade é que os rendimentos, nomeadamente os rendimentos salariais, poderão crescer de forma sustentável, sem prejudicar a competitividade das empresas e o seu futuro”, referiu o então líder da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, no 8.º Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, realizado há um ano.
Para Portugal, os últimos 10 anos não foram marcados por uma divergência com a média da Zona Euro no plano da competitividade do trabalho, mas também não houve praticamente nenhuma melhoria ou sequer uma convergência, como sucedeu, por exemplo, com a Irlanda: em uma década, os irlandeses multiplicaram por 1,6 vezes os seus níveis de produtividade.
As barreiras à produtividade nacional
São várias as métricas e indicadores usados para medir o nível de produtividade dos países. Mas as conclusões de todos eles em relação a Portugal pouco se alteram.
Por exemplo, em abril do ano passado, três economistas analisaram a competitividade de Portugal através de um indicador compósito de competitividade (ICC) que combina dados agregados anuais de vários países para um conjunto de variáveis relacionadas com a competitividade.
Os resultados deste paper “apontam para um desempenho modesto na competitividade da economia portuguesa nas últimas décadas“, com o nível do indicador em 2020 a ser semelhante ao observado em 1995 e “mantém-se próximo dos 0,3 numa escala máxima de 1”, escrevem os autores do estudo.
O mesmo sucede quando se observa a prestação de Portugal no ranking da competitividade mundial do International Institute for Management Development (IMD), publicado em meados de junho. De acordo com este instituto suíço, Portugal até passou da 42.ª economia mais competitiva em 2021 para a 39.ª posição em 2022, entre 64 economias mundiais, mas ocupa a mesma posição que detinha em 2019.
Entre os indicadores que continuam a penalizar a avaliação da economia nacional, o IMD destaca o quadro de política fiscal e as práticas de gestão empresarial, o mercado de trabalho e as finanças públicas. Mas para Manuel Carlos Nogueira, economista e professor na Universidade de Aveiro, o quadro é muito mais amplo, abrangendo tanto o setor público como o privado.
“A baixa produtividade portuguesa tem séculos”, refere o professor, destacando, por exemplo, “o condicionamento industrial do Estado Novo que contribuiu fortemente para não podermos adquirir tecnologia mais eficiente, bem como a excessiva dependência da economia portuguesa das exportações para as colónias”, como elementos que “travaram a nossa exposição à concorrência internacional.”
Para João Duque, a persistente baixa produtividade da economia nacional deve-se, essencialmente, a cinco elementos-chave: investimento baixo ou inadequado (não voltado para a produtividade), ausência de estímulos fiscais simples e dirigidos para a produtividade, apoios ou programas de investimento público totalmente alheios ao tema, pouca sensibilidade dos empresários para o tema uma vez que a mão de obra é barata e “uma economia pouco voltada para a marca, para a venda de produtos finais em mercados internacionais ou para o intangível e mais voltada para a entrega de componentes.”
Portugal longe da destreza dos países bálticos
A baixa produtividade nacional é um problema reconhecido há muito tempo como sendo um forte entrave ao crescimento e ao desenvolvimento do país.
Álvaro Santos Pereira, ex-ministro da Economia, chegou inclusive a sugerir a criação de um ministério para a produtividade e para a competitividade capaz de “coordenar melhor as atividades dos diversos ministérios, de forma a acabar de uma vez por todas com os desnecessários impedimentos a uma maior eficiência económica”, lê-se no seu livro “Portugal na Hora da Verdade”.
Para Portugal, os últimos 10 anos foram marcados por uma constante perda de competitividade ao nível da produtividade do trabalho no contexto da União Europeia e da Zona Euro. Trata-se de uma realidade totalmente oposta à verificada, por exemplo, com a Irlanda: em uma década, os irlandeses multiplicaram por 1,6 vezes os seus níveis de produtividade, apresentando hoje um nível de produtividade do trabalho superior ao dobro da média da Zona Euro.
A Irlanda é, atualmente, de longe, o país do espaço da moeda única com o mais elevado nível de produtividade do trabalho, cerca de 32% acima do nível de produtividade do Luxemburgo, o segundo país do ranking.
O mesmo ocorreu com os três países bálticos: se em 2012 apresentavam níveis de produtividade abaixo de Portugal, hoje são, em média, 7,4% mais produtivos que a economia nacional.
“Existem estudos científicos que apontam que, a baixa produtividade passada cria um ciclo vicioso para a produtividade futura, sendo que o inverso também é verdadeiro, pelo que a saída para este problema demora no mínimo uma geração (e com a promoção de diversas iniciativas em simultâneo)”, refere Manuel Carlos Nogueira, sublinhando que, “enquanto a produtividade não aumentar, teremos salários médios baixos.”
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