Há 68 concelhos com perda de camas turísticas nos últimos cinco anos. E três são no Algarve
Tavira, Albufeira e Portimão entre os concelhos onde o número de camas turísticas caiu entre 2018 e 2022. Também em sete dos onze concelhos da Madeira se registou uma quebra.
O turismo em Portugal está a bater vários recordes, desde o número de dormidas ao interesse de novos mercados, com o maior valor de sempre das receitas arrecadadas e com o número de camas a subir 8,2% nos 308 concelhos do país, passando de um total de 423.152 em 2018 para 457.818 em 2022. Mas ainda assim, nos últimos cinco anos, houve 68 municípios que perderam camas em alojamentos turísticos, sendo que em 38 concelhos a queda ficou acima de 10%.
E entre as autarquias com perda de capacidade de alojamento, há três que estão numa das regiões mais procuradas do país, o Algarve. Em causa estão Portimão, com uma descida de 2%, Albufeira com menos 6% de camas e em Tavira onde a quebra atinge os 10%.
Esta é uma das várias conclusões da análise realizada pelo ECO aos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o Turismo, onde são tidas em conta as camas disponíveis nos hotéis, no turismo rural e nos estabelecimentos de alojamento local acima de dez camas, ou seja, em hostels e guest houses. Fora destes números estão as camas em alojamento local em apartamentos ou casas particulares.
Mas os números do INE mostram que o Algarve não é a única zona forte no turismo a sofrer uma quebra no alojamento. Em sete dos onze concelhos da pérola do Atlântico, a Madeira, o número de camas caiu nos últimos cinco anos – em Santana (-7%), em Santa Cruz (-12%), em Ribeira Brava (-28%), em Ponta do Sol (-29%), em Porto Moniz (-30%), em Calheta, que encolheu 39% (menos 1.204) passando de 3.107 em 2018 para 1.903 camas em 2022. Soma-se ainda o concelho de Machico onde a queda ascende a 46% com menos 663 camas, sendo, em termos proporcionais, o segundo o município a sofrer a maior redução da capacidade de alojamento.
Mas, em proporção, foi em Alfândega da Fé onde se registou a maior quebra de alojamento, com o número de 146 camas em 2018, a encolher 47% para 78, revelam os números do INE.
Uma das razões para a quebra de camas nestes concelhos passa pelo encerramento de hotéis ou de hostels e guest houses. Em Tavira, por exemplo, a queda do total de camas deve-se, sobretudo, à hotelaria que em 2022 conta com 4.015 camas disponíveis face às 4.822 que existiam em 2018, segundo os números do INE. Mas esta redução na capacidade de alojamento neste concelho é suavizada com o aumento de camas no alojamento local e no turismo rural, que contam com mais 87 e 202 camas, respetivamente.
Ao ECO, fonte da Neoturis, consultora especializada em Turismo, alerta ainda que há que considerar “o momento da contagem de camas”, porque “se existirem unidades abertas em 2018 e que em 2022 se encontrem encerradas para remodelação, então poderá existir uma variação negativa de capacidade”.
Além disso, o alojamento local também está a pesar na perda da capacidade de alojamento. “Sabemos que durante a pandemia vários proprietários abandonaram o negócio e não voltaram”, lembra fonte da Neoturis, que refere ainda que “o aumento de preços de residências de férias no Algarve” também pode explicar a perda de camas nestes concelhos, tendo em conta que “o proprietário original, além de ter encerrado o AL, vendeu a casa e os novos proprietários não têm interesse em continuar como AL”.
Oferta mais que duplica em 16 concelhos do norte e centro do país
Do outro lado da balança, segundo os dados do INE, nos últimos cinco anos, a capacidade de alojamento cresceu em 204 concelhos do país, dos quais em 16, sobretudo no interior do centro e norte do país, a subida mais que duplicou (acima de 100%). E somam-se ainda 35 municípios onde o aumento do número de camas ficou acima de 50%.
Em termos proporcionais, destaca-se o concelho de São João da Pesqueira, no distrito de Viseu, onde as 14 camas registadas em 2018 subiram para 155 disponíveis no alojamento local e no turismo rural em 2022, havendo um crescimento de 1.007%. Segue-se Gondomar e Tábua com aumentos de 653% e 460%, respetivamente.
Também aqui os números são influenciados pela abertura de hotéis, de hostels ou de empreendimentos de turismo rural. Em Alter do Chão, por exemplo, o número de camas cresceu 139%, passando de 121 para 289, com a contribuição do Vila Galé que – depois de ter ganho o concurso do Revive – em 2020 abriu um hotel de quatro estrelas na Coudelaria de Alter do Chão com 77 quartos.
Para os hoteleiros, o crescimento da capacidade de alojamento nos concelhos do interior do país resulta “da alteração dos perfis dos turistas e de novos mercados e tendências”. Ao ECO, Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), diz que estes dados revelam que os turistas “estão a descobrir Portugal para lá dos grandes centros urbanos e dos tradicionais destinos de sol e praia”, procurando “cada vez mais a autenticidade, o que é local, a natureza, e os investidores vão ao encontro do que o consumidor pede”.
Além disso, a representante dos hoteleiros lembra ainda que “também a pandemia acentuou esta procura por espaços fora dos grandes focos turísticos” que têm “um impacto positivo nas economias locais”.
Já a Neoturis salienta que “a maioria dos concelhos com elevados aumentos” em 2018 tinha uma capacidade “diminuta”, que, aliás, se mantém “face ao potencial turístico existente”. Também para a consultora, a tendência de crescimento dos concelhos do interior, sobretudo no norte e centro, revela “uma desconcentração do turismo dos polos tradicionais para outros locais, muitos no interior”, considerando como positiva.
E esta maior aposta pelas zonas do interior resulta, acrescenta ainda a Neoturis, de iniciativas públicas, como o concurso do Turismo de Portugal, o Revive, como de iniciativas privadas. Soma-se ainda “uma maior procura internacional, e em menor escala nacional, que deseja descobrir mais locais em Portugal”.
Para a AHP, todos estes números salientam que Portugal “é um país inequivocamente atrativo e preparado” para o turismo e que “os números e o reconhecimento internacional apenas o vêm comprovando ao longo dos anos”.
E a Neoturis considera que “há sempre espaço para o crescimento do turismo” em Portugal, “desde que de forma sustentável”, o que implica que “em vários concelhos” a capacidade de alojamento cresça através de “construção nova ou reabilitação de edifícios com outros usos prévios” e em outros concelhos, “mais desenvolvidos em termos de turismo”, a capacidade aumente através da “recuperação ou renovação profunda de unidades hoteleiras ou turísticas já existentes”.
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