OCDE alerta que famílias com créditos a juro variável e bancos estão sob maior risco
Subida dos juros é um maior risco para famílias com créditos à habitação a taxa variável, ao mesmo tempo que também pressiona os bancos, considera a OCDE.
A OCDE considera que a subida dos juros é um maior risco para famílias com créditos à habitação a taxa variável, ao mesmo tempo que também pressiona o setor bancário, que para já tem beneficiado dessa subida nos lucros.
No relatório sobre a situação económica da União Europeia e Zona Euro, divulgado esta quarta-feira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que o aumento das taxas de juro “amplifica a vulnerabilidade financeira das famílias, especialmente nos países com um elevado nível de dívida privada e elevadas percentagens de créditos a taxa variável”.
Em Portugal, segundo dados do Banco de Portugal, 90% dos créditos à habitação são contratualizados a taxa variável (Euribor).
Até agora, diz a OCDE, o aumento das taxas de juro tem levado os bancos a aumentar os lucros, mas já se verifica uma deterioração das carteiras de crédito (por incumprimento de clientes) o que aumenta o risco do empréstimo.
Ainda devido à subida dos juros, tem havido uma “queda acentuada na procura” devido aos juros elevados e à redução dos rendimentos reais das famílias, considerando a OCDE que isso poderá ter impacto negativo no investimento em casas, o que também é um risco para a banca.
No primeiro semestre, os preços das casas continuaram “resilientes”, mas a OCDE espera correções do valor e caso haja mesmo uma redução deste tal implicaria também uma redução do valor das garantias dos bancos que têm hipotecas e obrigar a que estes façam mais provisões contra perdas, avisa.
A OCDE diz que as autoridades devem “monitorizar cuidadosamente” esses riscos e até tomar de medidas, seja do lado dos clientes, restringindo crédito, seja do lado dos bancos, aumentando as reservas de capital.
Esta segunda-feira, o Banco de Portugal divulgou uma análise do governador, Mário Centeno, ao atual momento da economia, referindo este que, no final deste ano, “cerca de 70 mil famílias poderão vir a ter despesas com o serviço do crédito à habitação permanente superiores a 50% do seu rendimento líquido”, o dobro das 36 mil do final de 2021.
Para prevenir incumprimentos nos pagamentos dos empréstimos das famílias, Centeno defendeu o papel dos apoios públicos e da banca, aliado à poupança.
Ainda no relatório, a OCDE considera que o setor bancário europeu continua a ter fragilidades como baixa eficiência, pouca diversidade de receitas e demasiadas instituições, considerado que consolidação bancária entre países pode “ajudar a aumentar a rentabilidade”.
“Em comparação com a consolidação nacional, as fusões transfronteiriças poderiam reforçar os efeitos da diversificação geográfica e encorajar o surgimento de bancos europeus de maior dimensão, mais bem equipados para competir com os seus homólogos internacionais”, afirma a organização.
A OCDE prevê que o crescimento abrande para 0,9% na Zona euro este ano, com o investimento privado penalizado pelas altas taxas de juro mas a beneficiar de menores preços energia e recuperação do consumo privado, e que em 2024 o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 1,5% em termos homólogos.
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