Custo de vida no Canadá leva emigrantes a regressarem a Portugal
Emigrantes estão a voltar para pequenas cidades, evitando os grandes centros urbanos em Portugal. Pais procuram também uma educação "mais sólida" para os filhos.
O custo de vida no Canadá levou muitos portugueses a regressarem este ano à terra natal, a tempo de inscreverem os filhos nas escolas, dando sinais do fim do sonho naquele que foi um dos principais destinos da emigração portuguesa.
“Uma das razões para que vários clientes regressaram a Portugal, após terem adquirido recentemente a residência permanente no Canadá, é o custo de vida em Toronto, as distâncias que têm de conduzir para chegarem ao trabalho e a falta de tempo que têm para as famílias”, disse à Lusa Marina Brito, proprietária de uma agência de viagens localizada no “Little Portugal” de Toronto. Devido ao alto custo de vida e às taxas de juro, alguns dos emigrantes portugueses optam por adquirir residência fora dos grandes centros urbanos.
A empresária também ‘culpa’ a falta de segurança em Toronto, com crimes constantes a “preocuparem muitos dos pais”, como justificação para este regresso às origens.
Penso que chegaram à conclusão, após juntarem dinheiro e comprarem a sua primeira habitação em Portugal, que será mais fácil de prosseguir a sua vida em pequenas cidades, evitando os grandes centros urbanos em Portugal.
“Penso que chegaram à conclusão, após juntarem dinheiro e comprarem a sua primeira habitação em Portugal, que será mais fácil de prosseguir a sua vida em pequenas cidades, evitando os grandes centros urbanos em Portugal, regressando à sua terra de origem”, declarou.
Muitos pais de crianças com idade desde o jardim-de-infância até aos oito a dez anos “consideram mais sólida a educação em Portugal”, porque têm o apoio dos pais, avós e familiares, acrescentou.
Na opinião da empresária, Portugal “está na moda”, com uma “grande procura” por diversos motivos, tanto por jovens, como por pessoas com uma idade mais avançada. “Os jovens com a esperança de construírem um Portugal diferente e os mais velhos com o intuito de se reformarem num país com mais sol e com menos pessoas”, justificou.
Na sua agência, Marina Brito também presta assistência a serviços consulares, notando que, recentemente, tem havido um excesso nos “pedidos de cidadania de filhos de luso-canadianos, que nunca adquiriram a cidadania independentemente das suas idades”, para um dia voltarem a Portugal para a “reforma”. Por outro lado, os luso-canadianos que regressam a Portugal procuram adquirir a cidadania canadiana, para um dia “voltarem ao país”.
A proximidade de outros países tradicionais de emigração na Europa e o baixo valor do dólar canadiano são fatores que levaram à diminuição da emigração portuguesa para o Canadá.
“Em termos de números, julgo que ao longo dos anos a emigração portuguesa para o Canadá foi diminuindo. Houve um decréscimo, até porque muitas pessoas preferem ficar na Europa, o euro vale mais do que o dólar canadiano”, disse, por seu turno, Luís Branco.
O consultor de imigração há mais de 30 anos salientou, no entanto, que o Programa ‘Working Holiday’ (Trabalho nas Férias) tem sido “aproveitado por alguns jovens portugueses para emigrarem para o Canadá”. Em vigor desde 2019, o programa permite que portugueses e canadianos, dos 18 aos 35 anos, possam adquirir um visto de trabalho nos respetivos países, de até dois anos.
“Muitas pessoas estão a aproveitar o programa ‘Working Holiday’, mas depois há também outros programas tradicionais, quer através do casamento, patrocinando o parceiro, ou através de contratos de trabalho, na grande maioria no setor da construção, pelo programa de trabalhadores estrangeiros temporários”, salientou.
O Canadá atualmente não é o país para onde os portugueses emigram, devido à “inflação e altas taxas de juro”, que também têm um impacto na construção de habitações, o que a médio prazo “pode reduzir também o número de trabalhadores na construção”, acrescentou.
Dados do Ministério da Imigração do Canadá enviados à agência Lusa, revelam que, no ano passado, foi atribuída a residência permanente a 700 cidadãos nascidos em Portugal, sendo que, de janeiro a agosto deste ano, já foi atribuída a 630.
Quanto ao programa de trabalhadores estrangeiros temporários, em 2022, foram distribuídos vistos a 335 portugueses, e em 2023, até agosto, foram atribuídos 220.
No que respeita a vistos para estudantes portugueses no Canadá, em 2022 foram concedidos 180 vistos, sendo que este ano, até agosto, foram aprovados 100.
De acordo com o recenseamento de 2021, a comunidade portuguesa no Canadá é constituída por 448.305 pessoas que declararam ser de “origem portuguesa”, ou seja, portugueses e lusodescendentes. Existiam 166.651 portugueses inscritos na rede consular portuguesa em 2022.
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