Governo ainda tem na manga leilão de “baterias” das barragens

O ECO/Capital Verde apurou que pelo menos três barragens estarão em causa. No entanto, este procedimento pode não chegar a avançar, dependendo das prioridades que o Governo defina.

Na apresentação do Orçamento do Estado para 2024, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, mencionou, entre os planos que tinha para as energias renováveis, um leilão de bombagem. Bombagem é a tecnologia que permite reaproveitar a água das barragens, de forma a que o mesmo volume de água possa ser usado repetidamente para produzir energia, em vez de, como acontece numa barragem tradicional, a água disponível só poder gerar eletricidade uma única vez. Funciona, desta forma, como uma bateria, já que a barragem pode ser “recarregada” com a mesma água que libertou.

De acordo com o que o ECO/Capital Verde apurou junto de fonte do setor, o Governo está há pelo menos um ano a equacionar este procedimento, e esteve sob análise a possibilidade de serem instalados sistemas de bombagem em três barragens. A ideia seria leiloar esta capacidade de bombagem, não sendo, necessariamente, a empresa com a concessão da barragem a ter direito também à concessão do respetivo sistema de bombagem.

No final da sessão plenária, na qual referiu os planos para lançar um leilão de bombagem, o ministro do Ambiente indicou, em declarações aos jornalistas, que as prioridades do Governo quanto aos planos a concretizar pelo Governo no período que se estende até às eleições estão ainda por definir, pelo que não pôde adiantar que concursos deverão ainda concretizar, e se o de bombagem estaria avançado o suficiente para ser lançado neste espaço de tempo.

O Governo fará naturalmente uma reflexão que será a de todo o governo e não necessariamente do Ministério do Ambiente, sobre as matérias que justificam tomar decisões em período de gestão e aquelas que deverão aguardar pela constituição do novo governo“, afirmou, adiantando alguns dos critérios: deverão ser prioritárias matérias relacionadas com fundos comunitários, com licenças que podem caducar e outras matérias relevantes por interferirem “com outras entidades que são beneficiadas”.

O objetivo de lançar este tipo de procedimento seria existir uma maior flexibilidade no sistema energético nacional, já que se quer cada vez mais assente em energias renováveis que são, por natureza, intermitentes, isto é, a sua disponibilidade é imprevisível. Esta reserva de energia, uma vez que a energia do sol e do vento ainda não se consegue armazenar em quantidades relevantes, traria mais conforto na gestão do sistema.

À partida, nem todas as barragens no país estarão habilitadas a incorporar um sistema de bombagem. A capacidade de incorporar este tipo de sistema depende de critérios como a dimensão da barragem, a altura da parede ou o leito de água, concretiza a mesma fonte do setor contactada pelo ECO/Capital Verde.

Em Portugal, o exemplo mais sonante de uma “bateria” deste tipo tem como berço a barragem de Gouvães, no Tâmega. Lá, a Iberdrola instalou aquela que ficou como conhecida como a gigabateria do Tâmega, o maior sistema de bombagem do país, com capacidade para armazenar até 40 gigawatts-hora de energia.

Esta instalação funciona da seguinte forma: quando o sistema elétrico nacional está folgado, a produzir mais energia do que aquela que necessita — algo que acontece por exemplo durante o período noturno, quando o consumo de energia a nível nacional é menor mas as eólicas têm um rendimento maior –, o sistema de bombagem é acionado, aproveitando esta energia, abundante e consequentemente mais barata, para bombear a água de Daivões para Gouvães, percorrendo o caminho exatamente inverso àquele que percorreria se Gouvães estivesse a gerar energia.

O gerador passa a servir de motor, e as turbinas passam a servir de bomba, para a água ascender até Gouvães. Aí regressa e fica a água, até que o sistema elétrico necessite de novo de energia hídrica para responder à procura, e portanto exija que a água volte a “cair” de Gouvães até à albufeira de Daivões. Um ciclo que pode repetir-se as vezes que forem necessárias.

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