“A” da Moody’s põe risco de Portugal ao lado da França, Áustria e Bélgica
Investidores já exigem a Portugal o mesmo prémio de risco que exigem para comprar dívida austríaca, belga ou francesa. Moody's coloca dívida portuguesa no radar de mais bancos e fundos.
A melhoria do rating de Portugal pela Moody’s apanhou de surpresa a maioria dos analistas, que esperavam alguma contenção da agência americana, dada a instabilidade política com a queda do Governo. Ainda assim, a decisão vem ajudar a reforçar o perfil de risco do país junto dos investidores internacionais (que serão cada vez mais) e confirma uma outra imagem: não só solidifica a saída de Portugal dos “PIGS” em termos de risco associado à dívida pública, mas também consolida a posição do país no improvável grupo da França, Áustria e Bélgica.
Há cinco anos, o prémio de risco de Portugal — medido pela diferença de juros em relação à Alemanha — comparava desfavoravelmente com Espanha nos prazos de cinco e dez anos (os principais prazos), com os investidores a assumirem que a dívida portuguesa era mais arriscada do que a dívida espanhola.
A situação inverteu-se deste então e, atualmente, os mercados estão a exigir praticamente o mesmo spread (diferencial para a dívida alemã) para deter dívida portuguesa que exigem para comprarem dívida de França, Áustria e Bélgica.
Neste período, Portugal baixou de 164 pontos base para 66 pontos base no spread da dívida a dez anos, e de 100 pontos base para 33 pontos base no spread da dívida a cinco anos. Está agora alinhado com os prémios de risco dos franceses, austríacos e belgas e bastante afastado dos spreads espanhóis e, sobretudo, italianos.
O estatuto de “bom aluno”, com um registo orçamental disciplinado (incluindo excedente) e a redução acelerada da dívida, entre outros fatores, permitiu a Portugal ultrapassar os pares mais diretos do Sul da Europa, segundo os analistas.
“O facto de Portugal ter conseguido reduzir a dívida em percentagem do PIB a grande velocidade (passando dos 135% em 2020 para os 112,4% em 2022) eleva a credibilidade junto dos mercados financeiros internacionais. (…) Itália, Grécia e Espanha também apresentaram melhorias, mas não foram tão expressivas”, refere Vítor Madeira, analista da XTB.
“Olhando para as previsões mais recentes da Comissão Europeia, só quatro países deverão ter orçamentos equilibrados ou superavitários no período 2023-25: Chipre, Dinamarca, Irlanda e Portugal. Ou seja, os restantes países do Sul estão longe destes resultados”, acrescenta Filipe Garcia, economista e presidente do IMF – Informação de Mercados Financeiros, o único dos analistas ouvidos pelo ECO que previu acertadamente que a Moody’s iria subir o rating português.
Mas este desempenho ganha outra leitura quando se observa, por exemplo, que o rating da Áustria junto da Moody’s (Aa1) está cinco níveis acima do rating atribuído a Portugal. Já o rating da dívida francesa (Aa2) está quatro níveis acima do rating português.
Surpreendido? “De certa maneira”, responde Filipe Garcia. “São economias menos periféricas, mais dinâmicas, muito diversificadas e muito atrativas como destinos de investimento, mas é uma questão de métricas. Essas economias têm mostrado resultados orçamentais francamente piores e assim deverão continuar”, contextualiza.
Portugal numa montra maior de investidores
Por outro lado, a decisão da Moody’s vai colocar a dívida portuguesa no radar de mais investidores, conforme sublinhou o próprio Ministério das Finanças, num comunicado enviado às redações na passada sexta-feira.
“Permite que mais investidores sejam credores de Portugal, visto que existem muito fundos, seguradoras e bancos de investimento que têm regras apertadas no investimento em dívida soberana, investindo apenas em obrigações com rating A”, explica Vítor Madeira.
Em termos práticos, também trará benefícios para a economia na medida em que se traduzirá “em juros mais baixos para o Estado, as empresas e as famílias, o que é sempre importante, mas é ainda mais importante num contexto de uma política do BCE de taxas de juro altas”, assinalou Fernando Medina, depois de ser conhecida a decisão.
“Naturalmente, é positivo para Portugal porque dá mais confiança ao mercado para adquirir ou manter dívida pública portuguesa e potencialmente a um custo relativo mais baixo. Mas não é só o Tesouro a beneficiar. A melhoria do rating tem efeitos na globalidade dos agentes económicos portugueses já que o país é percecionado com menos arriscado, o que tem impacto nos modelos de crédito e de avaliação entre outras análises”, completa Filipe Garcia.
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